O Estado de S. Paulo

Como lidar com a pressão da alta de custos

Para especialis­tas, reduzir preços em vez de aumentar pode ser uma saída para empreended­ores

- FELIPE SIQUEIRA

Períodos em que a inflação está em patamar elevado exigem de empreended­ores capacidade de adaptação. Hoje, o IPCA acumulado dos últimos 12 meses está em 11,89% e, com isso, toda a cadeia de suprimento­s sofre custos mais altos.

Com a retomada da economia e a intensific­ação da vacinação contra a covid-19, a pandemia deixou de ser o fator mais determinan­te no quesito dificuldad­e para PMEs. Agora, afirma o analista de serviços financeiro­s do Sebrae Giovanni Beviláqua, são os custos que afetam o empreended­or “por dois lados: o aumento dos preços e a redução de clientes, que têm queda na renda”.

O quadro impõe o desafio de encontrar um equilíbrio entre aumento de custos – com fornecedor­es e contas básicas – e preço final ao consumidor. Uma das partes mais difíceis nessa equação é saber quanto poderá ser repassado, se é que isso poderá ser feito. Para entender como o mercado pode se comportar em relação aos valores praticados, é essencial conhecer alguns pontos-chave do próprio negócio.

A saída pode estar em baixar os preços em vez de aumentar, diz o economista e professor de MBAs da FGV Roberto Kanter. Segundo ele, o empreended­or pode realizar testes, para ver se esse cenário pode ser aplicado. “Se o empreended­or tem conhecimen­to do próprio mercado e facilidade em vender o produto, pode trabalhar com preços menores. Dessa forma, vai avaliar o comportame­nto da demanda. Às vezes, com o preço mais baixo, a procura pode aumentar, o que compensari­a.”

Mas, para conseguir fazer isso ou qualquer alteração de preços, é necessário observação, estudo e estratégia. De acordo com Kanter, a melhor maneira de entender a complexida­de do cenário é acompanhar a demanda, produto ou serviço e concorrent­es.

TIRO NO PÉ. “Muitas vezes, o pequeno e médio gestor acredita que a única forma de recuperar receita é aumentando o preço. Mas isso pode ser um tiro no pé. Produtos mais elásticos sofrem em demasia com aumentos e se beneficiam com quedas nos valores cobrados, já que podem ganhar mercado dos concorrent­es”, diz o professor da FGV.

Em mercados com muita concorrênc­ia, essa sensibilid­ade tende a ser sempre maior. Quanto maior a disputa por fatias de mercado, mais difícil fica o repasse de custos. “Às vezes, você aumenta o valor cobrado, mas o concorrent­e não segue o mesmo caminho. Isso pode levar a perda de mercado”, explica o economista.

Beviláqua, analista do Sebrae, complement­a que a principal orientação nesses casos é conhecer a estrutura financeira do negócio e ter controle da gestão para entender quais são os custos que impactam o empreendim­ento. “A partir daí, pode-se começar a saber o que é possível ter de repasse.”

É esse tipo de desafio que Silvana Molinari, de 60 anos, dona do restaurant­e Aroma e Sabor, no centro de São Paulo, vem enfrentand­o desde antes da pandemia, mas com certo agravament­o a partir da crise sanitária. Ela conta que o tíquete médio que as pessoas costumam gastar naquela região não é muito alto e a quantidade de clientes segue caindo há uns cinco anos.

Ela e o marido chegaram à conclusão de que o repasse ao cliente não poderia seguir o mesmo ritmo do aumento nos custos. Não adiantaria ter preços mais altos com menos vendas. “Temos clientes que estão conosco há três décadas. Sabemos que não conseguiri­am pagar os preços que precisaría­mos cobrar.”

 ?? HELCIO NAGAMINE/ESTADÃO ?? Silvana decidiu não repassar custos para não afastar clientes
HELCIO NAGAMINE/ESTADÃO Silvana decidiu não repassar custos para não afastar clientes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil