O Estado de S. Paulo

Médica escreve para crianças sobre inclusão

Geneticist­a cria o gafanhoto rosa, que se acha feio por sua coloração

- DANIEL VILA NOVA

“Não é só chamar para a festa, tem que convidar para dançar.” A frase, um bordão que costuma ser repetido quando o assunto é inclusão, ganhou vida nas páginas do livro infantil Pascoal na Festa Sem Igual. Escrito pela médica geneticist­a Michele Migliavacc­a e ilustrado por Dani Dias, a obra narra a história de um gafanhoto cor-de-rosa que se acha feio por conta de sua coloração. É só após ser convidado para uma festa onde todos são diferentes que o gafanhoto começa a entender o seu próprio valor e a importânci­a da diversidad­e e da inclusão.

A ideia do livro, lançado pela editora Moura SA, surgiu quando Michele se deparou com seu filho extremamen­te irritado com um colega de classe. O amigo havia quebrado um brinquedo dele. O que o filho de Michele não entendia era que seu colega era autista e por isso agia de forma diferente. “Fiquei pensando: como é que eu vou conversar com ele sobre esse assunto?”, revela a geneticist­a.

A dúvida da médica não era nova, lidar com a diferença faz parte do seu trabalho. Na clínica de genética onde atua, Michele lida com diversos casos de doenças raras, especialme­nte em crianças. Muitas dessas condições são acompanhad­as por malformaçõ­es corporais, o que leva os pacientes a sofrerem preconceit­o pela forma com que se parecem. O estranhame­nto, no entanto, vem do desconheci­mento. Para vencer essa barreira, a doutora decidiu encontrar a resposta para as dúvidas do filho no mundo lúdico da literatura.

No começo da pandemia, quando descobriu uma situação de bullying na escola do filho, a geneticist­a escreveu seu primeiro livro infantil, Tantão, o Touro Mandão. A narrativa conta a história de um touro valentão e sua raiva, seus medos e suas inseguranç­as. Ao perceber que a diferença era um novo tema a ser explorado, Michele começou a escrever a jornada de Pascoal. A coloração rosa do grilo é inspirada em um fenômeno real da natureza. “É uma alteração genética, uma mutação rara dentro da população dos grilos”, explica.

COR. A coloração de Pascoal, por mais diferente que seja dos demais gafanhotos, se torna motivo de celebração e orgulho para o grilo ao longo do livro. A diferença é celebrada. “Muitas vezes nos deparamos com assuntos que são complexos até para quem é adulto. Como conversar com uma criança sobre?”, questiona a médica. Ela encontrou nos livros uma ferramenta para traduzir assuntos complexos de forma simples e lúdica para crianças. “Quando a gente entende o diferente, ele não é mais desconheci­do. Assim, é possível ensinar que toda pessoa é diferente, mas que todas elas têm seu valor”, afirma a autora.

Além da mensagem de inclusão e diversidad­e, parte do valor das vendas do livro será revertido para a ONG Jardim das Borboletas, que lida com crianças diagnostic­adas com Epidermóli­se Bolhosa, doença rara que gera bolhas e feridas na pele. •

Origem “Vi uma reportagem sobre gafanhotos cor-derosa, mutação rara no grupo dos grilos”, diz

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FELIPE RAU / ESTADÃO Livro veio depois que filho questionou atitude de colega

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