Loggi demite 15% dos funcionários após estagnação do comércio digital
Startup de logística se reestruturou diante de cenário global difícil; ‘unicórnio’ também anunciou troca no comando
Em mais uma rodada de demissões em massa nos “unicórnios” (startups avaliadas acima de US$ 1 bilhão), a Loggi desligou ontem 15% dos 3,6 mil funcionários. Especializada em entrega de encomendas vindas do comércio eletrônico, toda a startup foi afetada pelo corte, incluindo as áreas operacional, administrativa e de tecnologia. As informações foram reveladas ao Estadão por Fabien Mendez, CEO e cofundador da Loggi.
“O mundo e o Brasil foram atormentados por grandes forças contrárias em 2022. Tivemos a volta da inflação, amplificada pela guerra na Ucrânia, o colapso das Bolsas e o espectro de uma recessão global. Isso tem impacto muito grande sobre nosso negócio”, diz o executivo francês.
Mendez diz que, até fevereiro deste ano, o setor conseguiu operar com crescimento, mas a estagnação se instalou e permaneceu inalterada desde abril. Em novembro de 2021, a companhia havia inaugurado um galpão de entregas em Cajamar (SP) de R$ 150 milhões, com previsão de que a instalação processe 1 milhão de pacotes diários até 2023.
Monica Santos, diretora de recursos humanos da Loggi,
“Volta da inflação, colapso das Bolsas e espectro de recessão global têm impacto sobre nosso negócio” Fabien Mendez
CEO e cofundador da Loggi
diz que os demitidos terão um pacote de benefícios, incluindo três meses do plano de saúde (incluindo dependentes), três meses de Zenklub para apoio psicológico, serviço de recolocação no mercado e flexibilização nas condições de participação de ações da empresa para funcionários que tinham pouco tempo de casa.
PANDEMIA. Essa não é a primeira vez que a Loggi realiza desligamentos em massa. Em março de 2020, já havia demitido 120 pessoas por incertezas no início da pandemia. Nos meses seguintes, porém, a empresa cresceu em ritmo acelerado. Em 2021, recebeu US$ 212 milhões em aportes.
Agora, a ideia é preservar o caixa. Mendez promete que a Loggi não terá novos cortes e afirma que a startup será mais rigorosa em novas admissões.
COMANDO. A Loggi também anunciou ontem mudanças no comando da companhia. A partir de hoje, assume a cadeira de CEO o francês Thibaud Lecuyer, que ocupava o cargo de diretor financeiro desde 2019. Fabien Mendez vai assumir a presidência do conselho da Loggi.
O novo presidente executivo já definiu as prioridades neste momento. “Vamos cuidar dos nossos funcionários e clientes e melhorar nossa eficiência operacional”, diz Lecuyer.
CRISE. Conhecidas por contratar centenas de funcionários ao mês, startups realizam centenas de demissões pelo mundo – o fenômeno não é exclusivo do Brasil. O período tem sido batizado de “inverno das startups”, após a onda positiva causada pela digitalização da pandemia.
Entre os unicórnios nacionais que já fizeram cortes de pessoal, estão Quintoandar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, Mercado Bitcoin e Olist. A mexicana Kavak, maior unicórnio da América Latina, também fez cortes severos na operação brasileira. •