O Estado de S. Paulo

Constante evolução

Olhar da comunidade científica e do Poder Público acompanham e promovem mudanças em cidades inteligent­es

- DANIELA SARAGIOTTO

Desde o início da elaboração do Ranking Connected Smar t Cities, em 2014, são realizadas discussões com diversos setores da sociedade, como especialis­tas em saúde, do Poder Público, entre outros, sobre aspectos nele contidos. Dessa forma, parte impor tante de sua atualizaçã­o anual conta com eventos temáticos, específico­s para cada um dos eixos, conhecidos como rodadas temáticas. Um deles, realizado em julho, teve como tema Saúde, um dos 11 eixos que compõem o ranking (veja quadro), e contou com a presença de um dos fundadores do estudo e de especialis­tas que acompanham o trabalho.

De acordo com Alex Florindo, médico epidemiolo­gista líder do Grupo de Estudos e Pesquisas Epidemioló­gicas em Atividade Física e Saúde (Gepaf), da USP, a cidade de São Paulo é um laboratóri­o perfeito para estudos como os que sua equipe conduz, tanto pela grande amostra populacion­al quanto pela sua diversidad­e. “Registramo­s avanços no âmbito da saúde, principalm­ente por causa do Plano Diretor Estratégic­o do Município de São Paulo, implementa­do em 2014. Mas o principal desafio ainda é reduzir as desigualda­des”, diz Florindo.

Entre essas diferenças regionais, o professor cita a necessidad­e de melhor distribuiç­ão de áreas verdes, do aumento no número de grandes estações de transporte público, da aproximaçã­o das residência­s aos locais de trabalho e do incremento na quantidade de ciclovias. “Vejo com muitos bons olhos a questão de as ciclovias já figurarem no ranking, pois são equipament­os fundamenta­is com foco na saúde, como também outros eixos”, afirma.

DA TEORIA À PRÁTICA

Outra política pública mencionada que favorece a população é o Estatuto do Pedestre. “Mas é preciso discutir mais a fundo as métricas dessas atividades – por exemplo, as caminhadas como forma de deslocamen­to –, como no caso das melhorias no calçamento após uma inauguraçã­o de uma estação de metrô. Ou mesmo o quanto essas estruturas poderiam contribuir mais para a saúde pública.ter em mente esses indicadore­s seria fundamenta­l”, afirma.

Os exemplos de como as políticas públicas impactam na saúde da população aparecem em vários municípios brasileiro­s. Um deles é Balneário Camboriú (SC), cidade que ficou em quinto lugar, no eixo Saúde, da edição 2021 do ranking. Entre as iniciativa­s que destacaram o município estão sua estratégia de vacinação contra a covid-19, um local exclusivo de tratamento da doença, e um centro específico para testagem para profission­ais da educação.“esse recurso possibilit­ou retorno seguro das crianças às escolas, ainda no ano passado, permitindo afastar, imediatame­nte, profission­ais contaminad­os”, explica Leila Crócromo, secretária de Saúde da prefeitura de Balneário Camboriú.

A cidade se destaca, também, pela liderança em captação de órgãos, o que é feito em parceria com o Hospital Municipal Ruth Cardoso. “O trabalho, que já foi premiado em nosso município, é bem maior e mais complexo, pois envolve a sensibiliz­ação das famílias em um momento crítico. Desde 2015, foram mais de 250 órgãos captados”, explica Leila.

EVOLUÇÃO NOS INDICADORE­S A importânci­a da intersecçã­o entre os eixos do ranking foi reforçada por Tatiana Tucunduva, docente do Programa de Mestrado em Cidades Inteligent­es e Sustentáve­is da Uninove. “A questão ambiental, como a qualidade do ar nas grandes cidades, envolve todos os demais âmbitos, como saúde, infraestru­tura, mobilidade, transporte e segurança, e pensar de forma integrada auxilia os gestores públicos a endereçare­m a todos esses pontos. O desafio é como conseguimo­s conciliar tudo isso e trazer para dentro dos indicadore­s do ranking.” Outro ponto destacado por ela é a necessidad­e de uma evolução para que, no futuro, seja possível aferir, também, municípios menores.

Willian Rigon, diretor comercial e de marketing da Urban System, empresa idealizado­ra do ranking, juntamente com a Necta, lembra que o papel do estudo, que hoje analisa municípios brasileiro­s com mais de 50 mil habitantes, é servir de parâmetro e inspiração para os demais. “Temos estudado formas de mensurar as cidades menores, mas ainda não é possível, pois algumas não possuem nem mesmo hospital. Mas, de qualquer maneira, é importante estarmos atentos”, conclui Rigon.

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A inclusão das ciclovias no ranking foi um dos avanços recentes

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