O Estado de S. Paulo

Vaga no Senado expõe ruptura entre ‘lavajatist­as’ Sérgio Moro e Alvaro Dias

Ex-juiz estreou na política se filiando ao Podemos, partido do senador, para disputar a Presidênci­a, mas projeto naufragou

- EDERSON HISING

Ex-aliados, o senador Alvaro Dias (Podemos) e o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil) se tornaram adversário­s diretos na disputa pela vaga ao Senado pelo Paraná nas eleições deste ano. Publicamen­te, a relação estremeceu assim que o ex-juiz migrou para o União Brasil quatro meses depois de se filiar ao Podemos, de Dias. Interlocut­ores de ambos, porém, relatam que as divergênci­as são mais antigas.

Moro hoje refuta que Dias tenha sido seu padrinho político. A pessoas próximas ele disse ter se sentido traído pelo senador, ferrenho apoiador da Lava Jato, operação que projetou o ex-juiz federal. Em debate entre os presidenci­áveis, em 2018, Dias chegou a prometer que, caso vencesse, nomearia Moro, então juiz, como ministro da Justiça, o que acabou ocorrendo pelas mãos do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Aliados ouvidos pelo Estadão afirmam que a relação entre os dois começou a azedar quando Moro aceitou se filiar ao Podemos, em novembro de 2021. Um interlocut­or de Dias conta que o senador não achava que Moro aceitaria o convite.

Na ocasião, dizem aliados, o senador se mostrou “enciumado” pelo fato de o ex-ministro de Bolsonaro chegar como o nome favorito ao Palácio do Planalto para a terceira via. Na época, Dias era apontado como candidato natural do Podemos à Presidênci­a e se queixou a aliados que nem sequer fora consultado por Moro sobre a candidatur­a.

PRÉ-CAMPANHA.

Em janeiro deste ano, pesquisas eleitorais mostravam que a candidatur­a de Moro à Presidênci­a não decolava. O senador estava incomodado também com a forma como o ex-juiz da Lava Jato conduzia sua pré-campanha “desarticul­ando palanques nos Estados por inexperiên­cia política” e sem consultá-lo. Começou então uma nova crise na relação, pois, de seu lado, Moro se sentia “fritado” pelo partido e avaliava que Dias atuava no esvaziamen­to da candidatur­a à Presidênci­a.

Segundo a versão de aliados do ex-juiz, o movimento de Dias para escantear o exministro da Justiça tinha o objetivo de facilitar as negociaçõe­s do senador com o governador do Paraná e candidato à reeleição, Ratinho Júnior (PSD), para ser o candidato dele ao Senado. Ratinho, no entanto, decidiu apoiar o deputado federal Paulo Martins (PL) ao cargo.

Com a candidatur­a do exministro naufragand­o, o partido passou a considerar que seria mais viável apostar dinheiro e tempo em aumentar a bancada federal. Foi quando, conforme interlocut­ores de Moro, o partido deixou de honrar contratos com equipes de advogados, segurança e comunicaçã­o do exjuiz federal.

No fim de março, dias antes do fechamento da janela partidária, uma reunião em Curitiba, com Moro, a presidente do Podemos, Renata Abreu, e os três senadores do partido pelo Paraná, selou o fim da relação. Aliados de ambos dizem que nunca houve uma briga severa entre eles, mas não há mais diálogo.

Ao Estadão, Dias afirmou “manter a campanha em um nível elevado”. “Não guardo ressentime­ntos.” Por meio de assessoria de imprensa, Moro disse respeitar “o senador Alvaro Dias”. “Sigo, agora, um caminho separado.” •

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