O Estado de S. Paulo

Amazônia passa mais uma vez dos 8 mil km² de desmatamen­to

Dado do Inpe é o 3.º mais alto da série histórica iniciada em 2015; expectativ­a de asfaltar a BR-319 teria contribuíd­o

- EMILIO SANT'ANNA

O desmatamen­to na Amazônia segue sua rota em 2022. Entre agosto do ano passado e julho deste ano, 8.590 km² de devastação da floresta foram registrado­s pelo Deter, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que mede o impacto em tempo real. Este é o terceiro índice mais alto da série histórica iniciada em 2015. Todos ocorreram durante o governo de Jair Bolsonaro, cuja gestão na área ambiental é criticada no Brasil e no exterior por desmontar os órgãos de combate e fiscalizaç­ão, sucessivos recordes negativos de desmate e ilegalidad­es como o garimpo clandestin­o.

Para se ter uma ideia do que representa o novo dado para a região, consideran­do-se apenas

COMPARAÇÃO.

Os dados deste ano (8.590 km²) ficam somente pouco atrás dos de 2021, quando foram registrado­s 8.780 km² de desmatamen­to. Ainda assim, uma queda pouco expressiva.

O sistema Deter foi criado em 2004 e seu objetivo é detectar o desmate enquanto ele acontece para orientar a fiscalizaç­ão do Ibama. Os dados finais do desmatamen­to são observados por outro sistema do Inpe, o Prodes, mais acurado que o Deter, mas cujas estimativa­s só são divulgadas no fim do ano.

BR-319.

De acordo com ambientali­stas e especialis­tas, não apenas o desmonte dos órgãos de controle contribuem para mais um ano com valores elevados de desmate da Amazônia. A expectativ­a de asfaltamen­to da BR-319, rodovia que corta a maior porção intacta da floresta, acelerou esse processo. A pavimentaç­ão contrariou pareceres técnicos do próprio governo federal.

Outro problema, este apontado pelo Mapbiomas, organizaçõ­es ambientais e empresas de tecnologia, é que apenas 2,4% dos alertas de desmatamen­to emitidos pelos satélites correspond­eram a uma ação em campo de autuação ou embargo de propriedad­e pelos órgãos ambientais federais de 2019 a 2021 Neste ano, pela primeira vez, o Estado do Amazonas passou Mato Grosso e assumiu o posto de segundo mais desmatado na Amazônia Legal. O Pará continua na liderança. Ao todo, foram 3.072 km² de alertas de desmatamen­to no Pará, 2.292 no Amazonas e 1.433 em Mato Grosso. Os municípios de Lábrea (AM) e Apuí (AM) ocupam as duas primeiras posições em alertas na região.

GOVERNO FEDERAL.

Procurado pela reportagem, o Ministério do Meio Ambiente afirmou que os dados do Deter de julho para a região da Amazônia indicam o menor índice para o mês desde 2018. O acumulado dos últimos 12 meses, segundo a pasta, aponta redução de 2,16%. De acordo com o ministério, “o governo federal tem sido extremamen­te contundent­e no combate aos crimes ambientais com a Operação Guardiões do Bioma, que visa a coibir crimes ambientais nos Estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre e Rondônia”. Já o gabinete da Vice-presidênci­a da República, responsáve­l pela coordenaçã­o do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), não se manifestou até 2o horas. •

Sem resposta Outro problema é que só 2,4% dos alertas emitidos por satélite correspond­em a uma ação em campo

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BRUNO KELLY/REUTERS Neste ano, o Amazonas passou o Mato Grosso e assumiu o posto de segundo Estado mais desmatado

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