O Estado de S. Paulo

Médico lança livro de fotos e destina renda a ONGS

Referência em transplant­es no País, cirurgião adere a campanha que apoia causas relacionad­as à doação de órgãos

- DANIEL VILA NOVA

Encarar uma onça-pintada pode até parecer um pesadelo para alguns, mas foi a realização de um sonho para Jorge Neumann. O médico de 69 anos viajou dias para ter uma rara oportunida­de – fotografar a vida selvagem no Pantanal brasileiro. As fotos do profission­al, que é referência nacional em transplant­es de órgãos, ficaram tão boas que ele decidiu reuni-las em um livro. Assim nasceu Vida, Entre o Céu e a Terra, compilação de poemas e imagens de aves, répteis e outros animais que acaba de ser lançada pela editora Liliana Reid.

O livro faz parte de projeto da Biometrix Diagnóstic­a, que adquiriu os 1.500 exemplares disponívei­s e promove a campanha Asas Que Salvam Vidas, que destina 100% dos recursos arrecadado­s com a venda dos livros a ONGS que apoiam causas relacionad­as à doação de órgãos. “Sou médico há 45 anos e sei das dificuldad­es enfrentada­s pelas famílias de quem está à espera de um transplant­e. O trabalho das ONGS faz a diferença na vida de muitos.”

Além dos bichos da Região Centro-oeste, o livro também apresenta fotos feitas na Região Sul do País, especialme­nte em Lagoa do Peixe e Tavares. A escritora, jornalista e editora Paula Teitelbaum ficou responsáve­l pelo texto e o design gráfico é de autoria de Alice Neumann, filha do médico.

“Adoraria saber pintar, mas sou péssimo pintor. Para mim, fotografar é como pintar com a luz”, relata Neumann. O transplant­ista, que começou a tirar fotos na infância por influência do pai, acredita que seus registros fotográfic­os servem não só para apreciar os animais, mas também como alerta. “É uma forma de mostrar como a natureza é bela, mas também frágil. É muito fácil perder a vida selvagem, seja com secas ou com queimadas. Fotografar é tornar um instante permanente.”

Neumann começou a fotografar animais na pandemia, por incentivo de um amigo. Primeirame­nte, eles foram até a Lagoa do Peixe e Tavares. Ali, o médico se apaixonou pela fauna nacional. O destaque, no entanto, vai para as aves. “São coloridas, vivazes e alegres, mas também fugidias. É um desafio fotografá-las e mostrar”, revela o transplant­ista.

Animado com a primeira iniciativa, a dupla de amigos decidiu ir mais longe. Enquanto o mundo se trancava, ambos se aventurara­m pelo Pantanal em busca da vida selvagem. “Levantávam­os antes das 6 da manhã, comíamos e depois navegávamo­s o dia inteiro pelo Rio São Lourenço. O clima era de 40º, quente demais. É uma experiênci­a bem pesada, mas encantador­a.”

A ONÇA.

O encontro com a onça, o ápice da viagem, foi celebrado por todos que conviveram com Neumann e seu amigo durante a jornada. “Tirar foto de um animal raro ou arredio é uma satisfação enorme”, revela o médico ao contar que ficou a 10 metros do felino. Mas fotografia e medicina não são as únicas paixões de Neumann, que também pilota aviões planadores e garante que as três atividades se conectam mais do que se possa imaginar.

“São três atividades que carregam a ciência em seu DNA”, afirma, citando os desafios técnicos da fotografia, da medicina e da pilotagem. Mas ele acredita ainda que há algo de artístico em suas três paixões. “Há uma sensibilid­ade na medicina, uma percepção necessária que conversa com o artístico. Já em aviões planadores, você está em contato direto com a natureza. Neles, não há nada que o sustente no ar a não ser a natureza. E a fotografia é como pintar com a luz.” •

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ACERVO PESSOAL Jorge Neumann: imagens da vida selvagem pelo Brasil

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