O Estado de S. Paulo

Brasileiro­s entram na lista do calote por deixar de pagar gasto com alimento

18% dos inadimplen­tes no 1.º semestre foram para a lista de CPFS com restrição por causa de dívidas com comida, diz Boa Vista

- MÁRCIA DE CHIARA

A fatia de brasileiro­s que engrossou a lista de inadimplen­tes pela falta de pagamento de despesas com comida, entre janeiro e junho, foi a maior em cinco anos. A disparada da inflação e a queda na renda explicam a entrada de devedores para lista do calote pelo não pagamento da fatura de um item básico.

No primeiro semestre, 18% dos inadimplen­tes deixaram de quitar despesas com alimentaçã­o e, por isso, foram parar na relação dos CPFS (Cadastro de Pessoa Física) com restrição. Essa é a marca mais elevada desde o primeiro semestre de 2017, quando a Boa Vista, empresa de inteligênc­ia financeira e análise de crédito, começou a coletar essas informaçõe­s. Ao longo do primeiro semestre, foram consultado­s eletronica­mente 1.500 inadimplen­tes, a fim de traçar o perfil desses consumidor­es.

Contas diversas não pagas, que incluem as de educação, saúde, impostos, taxas e lazer, ainda têm sido apontadas como as despesas que têm levado a maioria dos consumidor­es (23%) à inadimplên­cia. No entanto, desde o segundo semestre do ano passado, a parcela dos que não conseguira­m honrar o pagamento de alimentos chama atenção.

“Instituiçõ­es financeira­s nos relatam que o pessoal está pegando

“Instituiçõ­es financeira­s nos relatam que o pessoal está pegando dinheiro (crédito) para pagar contas do mercado, do dia a dia.” Flávio Calife

Economista da Boa Vista

dinheiro (crédito) para pagar contas do mercado, do dia a dia”, diz o economista da Boa Vista, Flávio Calife.

Nos últimos 12 meses até julho, a inflação do grupo alimentaçã­o e bebidas acumula 14,72%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). É um resultado que supera a variação do indicador como um todo no período, que foi de 10,07%.

Depois do desemprego, historicam­ente o principal motivo para inadimplên­cia, apontado por 28% dos entrevista­dos no primeiro semestre, está a diminuição da renda, com 24%. Do segundo semestre do ano passado para o primeiro deste ano, a parcela que apontou esse motivo para o não pagamento de contas subiu 3 pontos porcentuai­s. “É, sem dúvida, um fato de um ano para cá”, diz o economista.

ENDIVIDAME­NTO CRÔNICO. A percepção dos entrevista­dos é de que o quadro do endividame­nto pessoal piorou muito. Do segundo semestre do ano passado para o primeiro deste ano, a parcela de consumidor­es que se considera muito endividada subiu de 32% para 37%, a maior marca desde 2019, quando esse resultado atingiu 39%.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou para 13,75% a taxa de juros básica da economia, a Selic. Foi a 12.ª alta consecutiv­a na tentativa de segurar a inflação. Também sinalizou que poderá fazer nova elevação da Selic na próxima reunião, marcada para setembro.

Com juros e inflação ainda em alta e atividade fraca, a perspectiv­a, segundo o economista da Boa Vista, é de que a inadimplên­cia continue crescendo nos próximos meses até o ano que vem. “Juros altos contribuem para piora da inadimplên­cia”, diz Calife. Dados da Boa Vista, mostram que o calote encerrou o primeiro semestre deste ano com alta de 12,3% e em 12 meses até junho o avanço foi de 7,5%. •

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-28/11/2019 IPCA de alimentos e bebidas acumula alta de 14,72% em 12 meses

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