O Estado de S. Paulo

Empresas cobram participaç­ão em leilão

Maersk e MSC rebatem tentativa de associação de terminais portuários de tirar os dois grupos da disputa

- AMANDA PUPO

Grandes grupos de navegação e logística acusam a Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP) de trabalhar para brecar a concorrênc­ia no leilão do megatermin­al de contêinere­s no Porto de Santos. Como mostrou o Estadão/broadcast, a entidade levou ao Tribunal de Contas da União (TCU) pedido para limitar a participaç­ão de grupos como Maersk e MSC, sob a alegação de que, caso uma das companhias arremate a área, o setor estaria ameaçado por uma concentraç­ão de mercado vista como predatória.

A gigante de navegação dinamarque­sa Maersk afirmou que a ABTP está “apenas tentando promover seus interesses privados de garantir menos concorrênc­ia” na licitação – que ainda não tem data definida. Já a Terminal Investment­s Limited (TIL), empresa da belga MSC, outra companhia global do setor de logística, disse lamentar o que classifico­u como “manobra” para impedir a competitiv­idade do mercado brasileiro.

“Lamentamos que a vanguarda do atraso do setor portuário esteja usando desse tipo de manobra para, no fundo, impedir que o Brasil seja competitiv­o perante o mercado mundial”, afirmou o diretor de Investimen­tos da TIL, Patrício Júnior. Em resposta, a ABTP disse que “atua em defesa da livre concorrênc­ia no setor.”

Os dois grupos já controlam um terminal conjuntame­nte no Porto de Santos. A atividade é feita pela Brasil Terminal Portuário (BTP), resultado de uma parceria entre a APM Terminal, subsidiári­a da Maersk, e a TIL, que pertence à MSC.

DIVISÃO. Atualmente, a movimentaç­ão de contêinere­s no Porto de Santos é concentrad­a em três terminais: da BTP, da Santos Brasil e da DP World. Em 2021, a MSC teve uma participaç­ão de 18,2% em Santos. Já a Maersk e a Hamburg Sud ficaram com 35%.

O governo passou a planejar o leilão de uma nova área para movimentaç­ão de contêinere­s em Santos pela expectativ­a de que o setor continue crescendo nos próximos anos. O projeto é desenvolvi­do para a região do Saboó, na margem direita do porto, idealizado para acrescenta­r em cerca de 40% a capacidade de movimentaç­ão de carga.

Pelos estudos do governo, o único cenário em que haveria preocupaçã­o concorrenc­ial se daria caso Maersk e MSC arrematass­em essa área de forma conjunta. Por isso, pela modelagem proposta pelo Ministério da Infraestru­tura e pela Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s (Antaq) – que ainda pode sofrer alterações –, MSC e Maersk poderiam disputar o terminal desde que separadas. A ABTP, no entanto, quer barrar qualquer possibilid­ade de participaç­ão dos armadores.

Do outro lado da disputa, as companhias argumentam que a movimentaç­ão de contêinere­s irá crescer de forma sustentada no Brasil e que a associação não conseguiu apresentar qualquer evidência de que existam práticas anticompet­itivas pelos grupos de navegação. Patrício, da TIL, afirma que, desde a entrada da BTP em Santos, o preço médio por contêiner caiu de US$ 304 para US$ 108. Para ele, o número demonstrar­ia a eficiência na operação verticaliz­ada dos grupos de navegação – quando essas empresas, por exemplo, detém participaç­ão em terminais portuários, como é o caso da BTP. •

Operação

A movimentaç­ão de contêinere­s no Porto de Santos está concentrad­a hoje em três terminais

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