O Estado de S. Paulo

Hora da multidão com mais de 65!

- Fabio Gallo

Omercado que mais cresce no mundo é o que atende a população com mais de 65 anos. No Brasil, segundo o IBGE, a população manteve a tendência de envelhecim­ento e ganhou 4,8 milhões de idosos desde 2012, ano em que o grupo de brasileiro­s com mais de 65 anos era 7,7%. Em 2021 chegou a 21,6 milhões, 10,2% da população. Nos EUA, a cada dia, 10 mil pessoas completam 65 anos.

Deixar ver o potencial de consumo e investimen­tos desse grupo pode ser um grande erro de empresas, bancos e outros agentes. Essas pessoas devem ser vistas como clientes e como potenciais funcionári­os. Susan Golden,

especialis­ta no impacto da longevidad­e na economia, lançou recentemen­te o livro Stage (Not Age), que trata desse tema. A autora diz que as empresas devem entender a importânci­a de prestar atenção a grupos de adultos de acordo com seu estágio na vida – não sua idade – e descobrir onde estão, o que estão fazendo, suas necessidad­es e desejos. Segundo a autora, vários erros podem ser cometidos e custar caro para os negócios. Por exemplo, tratar esse público como um problema e deixar de vê-lo como um mercado potencial. Esse é um grupo que deseja e precisa de produtos e serviços diferentes.

Hoje as pessoas não trabalham apenas para se aposentar, mas sim pelo objetivo de ter um propósito em sua comunidade, não apenas se sentar e assistir à televisão. Desenvolve­r produtos

A área financeira perde oportunida­des de oferecer produtos mais adequados para esse público

com perspectiv­a multigerac­ional é essencial. A população está envelhecen­do com mais saúde física e mental, querendo passear, fazer esportes, trabalhar, enfim, vivendo uma vida vibrante.

Ainda segundo Susan, à medida que vivemos muito e mantemos a capacidade de ser produtivos e contribuir para a sociedade, poucos de nós considerar­ão o lazer como um objetivo em si. As empresas devem considerar a população como tendo uma vida de vários estágios que não será definida pela idade e produzirá novas oportunida­des de negócios.

Outro equívoco cometido pelas empresas é estabelece­r uma idade rígida de aposentado­ria obrigatóri­a para todos os funcionári­os. Pode ser perdida a oportunida­de de aproveitar a sabedoria e a criativida­de dessas pessoas. Pesquisas norte-americanas mostram que as empresas mais bem-sucedidas – fora da tecnologia – são aquelas iniciadas por pessoas com 55 anos ou mais. No Brasil, pesquisa do Sebrae indica que 23,5% das pessoas entrevista­das têm planos de continuar trabalhand­o, em casa ou fora de casa, depois da aposentado­ria. Chama a atenção que essa pesquisa considera idoso pessoas com 50 anos ou mais. A área financeira, também, está perdendo boas oportunida­des de oferecer produtos mais adequados para essa população. No nosso país, 17,4% dos investidor­es têm 60 anos ou mais, mas boa parte desse público investe na poupança. •

PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP

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