O Estado de S. Paulo

O pedaço do RS que não reelege governador

Desde 1998, um total de 44 municípios mantiveram tradição gaúcha; neste ano, Eduardo Leite tenta um novo mandato

- SAMUEL LIMA

O Rio Grande do Sul colocará à prova novamente neste ano uma marca curiosa que ostenta nas eleições: a de ser o único Estado que nunca reelegeu um governador. A tradição, porém, não é unânime entre os municípios. Levantamen­to do Estadão aponta que 44 cidades, de um total de 437, sempre optam pela troca de governo desde 1998, quando o segundo mandato se tornou permitido no País.

Uma das cidades da lista é Pelotas, onde nasceu o desafiante da vez, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) – eleito em 2018, ele renunciou em março deste ano para tentar uma candidatur­a à Presidênci­a, mas vai tentar a reeleição após ter a opção nacional frustrada. Leite espera ter um desempenho melhor do que o da colega de partido Yeda Crusius, em 2010. Com baixa votação em grandes colégios eleitorais, como Porto Alegre, e preferênci­a em apenas 13 cidades, a então governador­a viu a população gaúcha eleger Tarso Genro (PT) no primeiro turno, fato inédito até então.

O levantamen­to do Estadão usou dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (Cepesp/FGV) e comparou os resultados da votação para governador em cada município, de 1998 a 2018.

A maioria das comparaçõe­s se deu com os resultados do segundo turno. As exceções foram 2006 e 2010. No primeiro caso, o então governador, Germano Rigotto (MDB), não conseguiu avançar para a segunda etapa, e a eleição seguinte foi decidida no primeiro turno. A reportagem também considerou Tarso Genro (PT) como o candidato governista em 2002 – o então prefeito de Porto Alegre derrotou o então governador, Olívio Dutra (PT), nas prévias do partido.

Pelo levantamen­to, 38 municípios gaúchos sempre negaram a continuida­de do governo, seja ele qual fosse, desde 1998. Outras seis cidades têm emancipaçã­o mais recente e, por isso, os dados se referem apenas às cinco últimas eleições, mas mostraram a mesma tendência. O estudo revela ainda que a maioria das cidades que sempre votaram contra o governador tem menos de 50 mil habitantes. Mas há na lista três que, como Pelotas, possuem mais de 120 mil habitantes e estão entre os maiores municípios do Estado. São eles Viamão, Santa Maria e Uruguaiana (veja quadro).

FORMAÇÃO. São diversas as hipóteses para explicar o fato de os gaúchos nunca reelegerem governador. O professor de Ciências Sociais da Universida­de do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Carlos Alfredo Gadea disse que a própria formação política do Estado favorece a ideia de que a gestão deve ser limitada.

Ele citou como exemplo o Pacto de Pedras Altas, que reformou a Constituiç­ão gaúcha e proibiu a reeleição a partir de 1928. A mudança ocorreu como forma de pacificar um conflito armado entre republican­os e federalist­as, deflagrado com a Revolução de 1923, quando a oposição contestou o resultado da eleição. “De alguma forma, dentro do DNA do eleitor gaúcho, há essa ideia de que o governante não deveria ser reeleito.”

Professor de Ciência Política da Universida­de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rodrigo González afirmou que considera Leite um candidato forte para quebrar a escrita neste ano, porque partidos de esquerda têm tido dificuldad­e para emplacar nomes competitiv­os.

O movimento que fez, ao renunciar ao cargo para tentar uma candidatur­a presidenci­al, no entanto, pode custar votos ao tucano, segundo o professor. “Do ponto de vista simbólico, o passo que Leite quis dar foi um tiro no pé. Quase como uma traição, não foi nada bem visto.” •

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