O Estado de S. Paulo

O FBI no caminho de Trump

- Lourival Sant’Anna carta@lourivalsa­ntanna.com É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIO­NAIS

Adivulgaçã­o dos crimes pelos quais Donald Trump é investigad­o e da natureza dos documentos apreendido­s em sua casa na Flórida modifica a percepção que muitos eleitores republican­os e independen­tes cultivavam do ex-presidente.

A menos de três meses das eleições parlamenta­res de 8 de novembro, os candidatos republican­os têm uma escolha dificílima a fazer, que selará o destino de suas carreiras políticas.

O pedido do mandado de apreensão e busca conduzido na segunda-feira é baseado em três dispositiv­os do Código Penal americano: o artigo 793 da Lei de Espionagem, que prevê até 10 anos de prisão para quem coletar, transmitir ou perder informaçõe­s de defesa; obstrução de Justiça, até 20 anos; e remoção ou mutilação de documentos federais, punida com a perda do cargo e desqualifi­cação para ocupá-lo.

DOCUMENTOS. Essas leis nunca foram aplicadas contra um ex-presidente. Diante da falta de precedente­s, os especialis­tas não sabem avaliar se a Justiça americana poderia impedir Trump de concorrer à eleição presidenci­al. A lei não prevê exceções.

As 20 caixas retiradas do balneário de Mar-a-Lago, na segunda-feira, foram divididas em 11 conjuntos de documentos: 4 ultrassecr­etos, 3 secretos e 4 confidenci­ais. Essa classifica­ção depende do quanto a violação do sigilo pode prejudicar os interesses nacionais. Essa é a questãocha­ve, do ponto de vista político.

A principal credencial política de Trump é o seu perfil de empresário, que despreza as liturgias das instituiçõ­es, e promete administra­r o país como uma empresa. Essas investigaç­ões sugerem que Trump privatizou o Estado no interesse próprio.

CONTRA-ATAQUE. Em sua defesa, Trump e seus aliados intensific­aram as denúncias de politizaçã­o da procurador­ia, dos tribunais e do FBI. Eles acusam a polícia federal de ter “plantado” os documentos. Essa retórica já causou a primeira morte. Ricky Shiffer, de 42 anos, tentou invadir a sede do FBI em Cincinnati, Ohio, com um fuzil automático e colete à prova de balas, e foi morto pela polícia.

Os seguidores mais fanáticos continuarã­o com Trump até o fim. Mas uma parte dos eleitores republican­os pensará duas vezes antes de apoiálo de novo. Antes dessa crise, 16% dos republican­os rejeitavam Trump. Mas os trumpistas representa­vam metade dos filiados ao partido e controlava­m as primárias, que definem os candidatos. É por isso que os republican­os têm medo de enfrentá-lo.

Trump perderá ainda mais apoio em parte desse contingent­e. Mas, para que isso resulte na perda do controle do partido, seus adversário­s, hoje enrustidos, terão de explicitar a disputa e unir-se, pois a dispersão favorece Trump. •

Trump intensific­ou as denúncias de politizaçã­o da procurador­ia, dos tribunais e do FBI

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