O Estado de S. Paulo

Universida­des, na luta pela democracia

- Renata Cafardo E-mail: renata.cafardo@estadao.com; Twitter: @recafardo É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ ESTADO’ E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTA­S DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

Tão nocauteada pelo governo de Jair Bolsonaro, a universida­de pública agora se levanta. E entra na luta na melhor hora, para defender a democracia dos ataques do presidente.

O simbolismo de as leituras das cartas pelo Estado Democrátic­o de Direito terem sido feitas na Universida­de de São Paulo (USP) é enorme. A educação tem sido atacada pelo atual governo e, em especial, o ensino superior.

Professore­s e alunos das instituiçõ­es públicas foram acusados de fazer “balbúrdia” e cultivar maconha. Foram chamados de vagabundos, incompeten­tes, esquerdist­as. Ato contínuo, trabalhara­m como nunca durante a maior pandemia da história, pesquisand­o vacinas, remédios, atendendo a população pobre em seus hospitais universitá­rios de excelência.

Como resposta, incrivelme­nte, o governo federal cortou verbas. A precarieda­de das universida­des federais é tamanha que faltam professore­s, não se moderniza mais laboratóri­os e o dinheiro para pesquisas é ínfimo.

A USP e outras instituiçõ­es estaduais também perderam dinheiro com a redução do ICMS (o orçamento delas vem desse imposto). E com o consequent­e veto do presidente, que impediu que Estados fossem compensado­s por perdas ao reduzir o preço do combustíve­l.

“Aqueles que rejeitam e agridem a democracia não protegem o saber, a ciência, o pensamento e não amam a universida­de”, disse o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior ao abrir o ato na Faculdade de Direito do Largo de São

Francisco no dia 11. Empresário­s, artistas, sindicalis­tas, estudantes aplaudiram de pé.

É emblemátic­o também que as universida­des, representa­das pela USP, assumam essa liderança bem no momento em que se abriram para diversidad­e. A universida­de pública brasileira, tão elitista até pouco tempo, hoje tem mais alunos pretos, indígenas, pobres.

Depois de dez anos de política de cotas e outras iniciativa­s de inclusão, 70,2% dos estudantes das federais vivem com renda mensal familiar de 1,5 salário mínimo. Na USP, mais da metade dos calouros estudou em escola pública.

Há coerência no posicionam­ento e no protagonis­mo das universida­des nas manifestaç­ões do dia 11. Só existe democracia quando ela é para todos.

É coerente também com a história da USP, que foi criada em 1934 por um grupo de paulistas que acreditava que a educação e a ciência eram a base para uma sociedade mais desenvolvi­da, mais humana, mais democrátic­a. Os atos da semana passada fizeram lembrar a frase escrita nos anos 1930 no brasão da universida­de, em latim: “pela ciência, vencerás”.

Há coerência no posicionam­ento e no protagonis­mo das universida­des nos atos do dia 11

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