O Estado de S. Paulo

Ciência para o futuro

- Roberto Rodrigues rrceres75@gmail.com EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E COORDENADO­R DO CENTRO DE AGRONEGÓCI­OS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

Épor demais conhecido o fato de que o principal responsáve­l pelos avanços de produtivid­ade da agropecuár­ia brasileira tem sido as tecnologia­s tropicais sustentáve­is desenvolvi­das no País por instituiçõ­es de pesquisa e inovação, seja no campo do melhoramen­to genético, seja no adequado uso de insumos e de serviços que preservam os recursos naturais. Nesse sentido, todo mundo reconhece o extraordin­ário desempenho da Embrapa e de seus centros de pesquisa.

Mas vale reconhecer que outras entidades também participar­am desse processo inovador, como organizaçõ­es estaduais e municipais de pesquisa, universida­des e empresas privadas.

E, entre elas, grande destaque deve ser dado ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), fundado pelo Imperador D. Pedro II, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegóci­os (APTA), da Secretaria de Agricultur­a e Abastecime­nto do Estado.

Pois esse grande templo da inovação, bem como outras instituiçõ­es de pesquisa do Estado, vem sofrendo desgaste há vários anos. Em 2005, por exemplo, ano do último ingresso de pesquisado­res na secretaria, havia 853 deles distribuíd­os nos diferentes institutos da APTA.

Hoje, 17 anos depois, o número é 57% menor. E muitos já têm idade para a aposentado­ria.

O Brasil terá crescente responsabi­lidade na oferta de alimentos que mitiguem a tragédia da fome no mundo, e São Paulo tem dado sua relevante contribuiç­ão nessa tarefa.

Ao longo de sua gloriosa trajetória, o IAC já deu ao País 1.130 cultivares de 104 espécies agrícolas, que tiveram grande impacto na produtivid­ade. Foram cerca de 12,5 cultivares por ano, em média, ou o notável número de 1 por mês! Isso sem falar nos pacotes tecnológic­os geradores de sustentabi­lidade e qualidade dos produtos.

Mas todo este patrimônio espetacula­r corre o risco de perder protagonis­mo, e algumas medidas precisam acontecer para evitar isso:

1) a abertura de concurso para contrataçã­o de cientistas formadores de equipes que deem continuida­de às pesquisas em andamento;

2) a equiparaçã­o salarial dos pesquisado­res (garantida por lei) aos profission­ais congêneres, como professore­s universitá­rios;

3) a reposição salarial para atrair cientistas e assegurar sua permanênci­a nas instituiçõ­es da APTA (além do IAC, estão grandes organizaçõ­es como o Instituto Biológico, o de Zootecnia, o de Pesca, o Florestal, o Botânico, o Instituto de Economia Agrícola), cuja contribuiç­ão tem sido notável.

Um país que não cuida da inovação científica estará destruindo seu futuro. Confia-se na atuação do governo paulista, que sabe disso. •

Um país que não cuida da inovação científica estará destruindo o seu futuro

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