O Estado de S. Paulo

Só 1 em 10 empreended­ores tem funcionári­os

Dados do Sebrae mostram ainda que metade dos donos de negócios ganha só um salário mínimo

- FELIPE SIQUEIRA

Nove em cada dez donos de negócios no Brasil (87%) não têm funcionári­os. São empreended­ores que trabalham por conta própria e desenvolve­m todas as funções dentro da empresa, desde o investimen­to até a venda ou prestação de serviço, segundo o Atlas dos Pequenos Negócios, elaborado pelo Sebrae. Os números – baseados na PNAD Contínua, do IBGE – consideram empreended­ores no geral, sem avaliar o tamanho do empreendim­ento, explica o analista de gestão estratégic­a da entidade Denis Nunes.

Segundo ele, o cenário de não ter empregados é a síntese do Microempre­endedor Individual (MEI) brasileiro, mas isso não quer dizer que todos estejam formalizad­os dessa forma, com CNPJ aberto. Em dezembro de 2021, mês de fechamento do Atlas, havia cerca de 29,8 milhões de pessoas à frente do próprio empreendim­ento no País, sendo que 25,9 milhões atuavam de maneira autônoma. No mesmo período, o número de MEIs somavam apenas 11,2 milhões.

Para o Sebrae, os dados revelam o enorme espaço para o cresciment­o de microempre­endedores individuai­s. Vale ressaltar que esses números voltaram a crescer. Em dezembro de 2019, 24,5 milhões atuavam por conta própria.

Porém, um ano depois, já em meio à pandemia, a estatístic­a caiu para 23,2 milhões. A partir do início do ano passado, os números passaram a ter um aumento relevante, chegando ao patamar mais recente, de quase 26 milhões, em dezembro de 2021.

“Em um cenário de alto desemprego e crise sanitária, as pessoas procuraram se ocupar, para conseguir ter renda. Com as restrições, alguns viram oportunida­des”, diz Nunes, do Sebrae. Segundo ele, esse movimento é essencial para movimentar a economia. O que não cabe é ficar totalmente parado. “O empreended­orismo acaba sendo a saída da crise para muitas pessoas.”

Ele explica que vários empreendim­entos acabam ficando na informalid­ade, sem CNPJ, porque não sabem exatamente o que vai deslanchar. “A pessoa vende várias coisas, uma pela manhã, outra à tarde e mais uma outra no período da noite. Se uma dessas opções der certo, aí, sim, pode ser que formalize a empresa.”

SALÁRIO MÍNIMO. Neste cenário, como o negócio existe para que a pessoa consiga tirar o próprio sustento, é muito difícil ter estrutura para contratar alguém sob as leis da CLT. Por isso, o empreended­or acaba atuando por conta própria. Os valores que o indivíduo consegue ter de “salário” não são altos. De acordo com o levantamen­to do Sebrae, quase metade (45%) dos donos de negócios no Brasil ganha até um salário mínimo como renda mensal. Além disso, 27% tiravam, por mês, de um a dois salários mínimos.

Lucas Anouck, de 26 anos, que atua como publicitár­io e produtor para PMEs no ramo de moda, é MEI. Ele conta que até pensa em contratar um assistente, que o deixaria mais “livre” para conquistar novos clientes. “Queria fazer mais prospecção”, diz o publicitár­io. Mas isso é uma ideia para o futuro. Hoje, por conta dos custos que um funcionári­o gera e pela renda mensal própria ainda ser instável, ele diz que é impossível.

A saída, diz Anouck, é fechar contratos de prestação de serviço com outros autônomos. “Se um cliente precisa de fotos ou aumentar engajament­o de redes sociais, eu faço a ponte com profission­ais especializ­ados. Então, organizo a produção, seleciono modelo, vou atrás de fotógrafo.” •

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO Lucas Anouck é publicitár­io, e hoje trabalha como MEI

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