O Estado de S. Paulo

Apoiar a educação na periferia

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Prefeitura de SP acerta ao pagar adicional para professore­s de escolas que atendem os mais pobres

A educação é chave para o desenvolvi­mento e para a mobilidade social, e é exatamente por isso que o maior investimen­to público na área da educação deve ser feito nas regiões mais pobres. O que se observa, sobretudo nas periferias das grandes cidades, no entanto, é que a educação, em vez de ser redentora, reproduz fielmente as desigualda­des que prejudicam a parcela mais vulnerável da sociedade. Lá, onde a renda das famílias é mais baixa e os índices de violência, mais altos, as escolas públicas enfrentam dificuldad­es para atrair e manter professore­s.

Por esse motivo, é digno de nota o decreto recentemen­te baixado pela Prefeitura de São Paulo para instituir o pagamento de um bônus para professore­s e profission­ais de apoio que atuem em 529 escolas na periferia da cidade. O objetivo é reduzir a alta rotativida­de de pessoal nesses estabeleci­mentos, algo que prejudica a formação de vínculos entre o corpo docente e a escola − e acaba gerando consequênc­ias negativas sobre o que mais importa: a aprendizag­em dos estudantes.

Pesquisado­res da área da educação já constatara­m que o desempenho escolar em língua portuguesa, matemática e outros componente­s curricular­es reflete, acima de tudo, o nível socioeconô­mico das famílias e a escolarida­de dos pais, especialme­nte a da mãe. Esse ponto de partida, por assim dizer, não é determinan­te de quão longe cada aluno pode chegar, mas o fato é que, quanto maior a vulnerabil­idade social dos estudantes fora da escola, maior também será o desafio do corpo docente.

Do ponto de vista da redução das desigualda­des educaciona­is, o ideal seria que as escolas da periferia contassem com os melhores professore­s de cada rede. Afinal, é lá que estudam as crianças e os adolescent­es cujos pais ou responsáve­is têm menor renda e escolarida­de mais baixa. O sistema educaciona­l teria, assim, melhores condições para contrabala­nçar fatores externos que prejudicam o desenvolvi­mento escolar.

No dia a dia de tantas redes públicas do País, no entanto, o que se vê é exatamente o contrário: as escolas têm dificuldad­e até mesmo para atrair e, mais ainda, para manter professore­s. Resultado: convivem com alta rotativida­de de pessoal, o que só prejudica a qualidade do ensino e a implementa­ção do respectivo projeto pedagógico, afetando negativame­nte também a continuida­de de outros programas.

Diante de tal realidade, a decisão da Prefeitura é acertada e responde a um problema capaz de corroer toda a agenda de melhoria da aprendizag­em. A nova Gratificaç­ão por Local de Trabalho (GLT) vai pagar de R$ 300 a R$ 1.500 mensais para docentes e de R$ 200 a R$ 500 mensais para os demais profission­ais. As escolas foram selecionad­as justamente por apresentar altos índices de rotativida­de. Por óbvio, o bônus deve ser acompanhad­o de ações que garantam, entre outros aspectos, a segurança e boas condições de funcioname­nto das unidades. Em futuro próximo, fará bem a Prefeitura se avaliar os resultados obtidos com o novo mecanismo − de resto, uma iniciativa que caminha na direção certa. •

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