‘Queremos investidores de longo prazo’
Para o CEO da Arco Educação, listada nos Estados Unidos, o setor da educação necessita de um capital ‘paciente’
Sá Neto tem passagem pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, e fundou a Arco Educação em 2018
Expansão No longo prazo, ideia da Arco é crescer também fora do Brasil, a princípio na América Latina
Aeducação é um tipo de investimento que requer tempo para alcançar resultados sólidos. Na ótica do mercado financeiro, as características do setor se encaixam perfeitamente no perfil de investidor com visão de longo prazo: paciente para alcançar uma boa rentabilidade. Com essa perspectiva, a Arco Educação, startup brasileira focada em soluções educacionais, decidiu abrir capital na bolsa Nasdaq, nos Estados Unidos, em setembro de 2018. O mercado norte-americano, além do alto volume de liquidez, reunia e ainda reúne esse público mais alinhado ao modelo de negócio da empresa.
Na época, a Nasdaq seguia em movimento de alta. De janeiro de 2018 até o dia 25 de setembro do mesmo ano, período em que a Arco realizou o seu IPO, o índice Nasdaq apresentou uma alta de 15,2% e a empresa conseguiu captar US$ 180 milhões. Mas, quase quatro anos depois, o cenário no mercado de ações já não é mais o mesmo. No acumulado deste ano, o mesmo índice apresenta queda de 16,6% devido ao ciclo de alta de juros nos EUA para conter o crescimento da inflação. Com o enfraquecimento da bolsa, os papéis da Arco amargam uma queda de 20,5% durante o mesmo período.
Nesta entrevista, o CEO da companhia, Ari de Sá Neto, fala sobre sua visão do momento atual da empresa e quais as perspectivas para o negócio.
A companhia realizou o IPO na Nasdaq em 2018. As vantagens vistas há alguns anos ainda se sustentam diante da perspectiva de recessão econômica nos EUA?
As razões que nos motivaram a abrir capital nos Estados Unidos são as mesmas até hoje. Nós queríamos estar expostos a uma base de investidores com visão global sobre educação e tecnologia. Então, independentemente do contexto macroeconômico, os investidores que queríamos ter acesso só seriam alcançados nos EUA. Fomos muito mais pelo perfil de investidor de longo prazo que desejávamos ter como sócios do que propriamente o contexto macroeconômico (da época).
Por que esse perfil é tão importante para a Arco?
A nossa empresa atua no setor da educação, que tem ciclos considerados muito longos. Os investimentos que nós fazemos em inovação, em tecnologia e em crescimento demoram bastante tempo para dar retorno. Por isso, precisamos de um capital (considerado) “paciente”. Nós não queremos capital de curto prazo em que você, por exemplo, abre uma loja ou inicia uma operação de e-commerce que no mês seguinte dará resultado.
Quais são os riscos para as empresas que desejam abrir capital neste atual cenário macroeconômico?
É preciso ter paciência e esperar um pouco até encontrar um cenário macroeconômico um pouco melhor. Do ponto de vista do nosso aprendizado, acho que vale muito a pena as empresas se prepararem com antecedência. Ter um negócio que cresce economicamente saudável e que gere caixa para executar bem a abertura de capital.
Desde o início da pandemia, as ações da Arco estão em queda. Esse movimento de baixa gera preocupação?
O nosso foco é construir uma empresa referência na área de educação no Brasil. Então, certamente, vão existir momentos turbulentos de curto prazo, mas estamos concentrados no nosso dia a dia, na nossa operação e evolução. É o que a companhia tem controle maior. Já vimos outros momentos turbulentos como esse ao longo da história e as empresas que prevalecem são as que conseguem focar mais para dentro do seu negócio, na qualidade e no crescimento. É isso que estamos fazendo.
No ano passado, a Arco realizou a compra da edtech Eduqo e da startup Edupass. As duas empresas têm atuação na oferta de conteúdos educacionais em modelo de ensino online. As aquisições fazem parte desse objetivo?
As plataformas apostam muito no uso da tecnologia. No caso da Edupass, seria para a formação de um profissional. E no caso da Eduqo, seria para entregar mais conteúdos online com o objetivo de oferecer ao aluno e ao professor uma experiência bem melhor na hora de assistir a uma videoaula.
Como o sr. enxerga a Arco Educação nos próximos 10 anos?
Fizemos diversas aquisições e tornamos o nosso portfólio de soluções muito mais completo e robusto. Então, nós estamos em um momento de concentrar nas interações desses processos, evoluir as estruturas e os produtos que compramos. Queremos ser uma plataforma completa para as escolas brasileiras. Agora, olhando para um horizonte maior, temos um sonho de estar fora do Brasil, provavelmente na América Latina, exportando as nossas soluções para as escolas desses países. •