O Estado de S. Paulo

Aliados de Lula temem novo ‘kit gay’ com fake news sobre fechar igrejas

Presidente nacional do PT diz que legenda estuda ir à Justiça contra divulgação de informaçõe­s falsas sobre medidas de petista

- GUSTAVO QUEIROZ SÃO PAULO EDUARDO GAYER BRASÍLIA

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discute uma reação aos avanços do presidente Jair Bolsonaro (PL) e da primeira-dama Michelle sobre o eleitorado evangélico. O temor é de que a campanha bolsonaris­ta reforce a alegação de que o petista, se eleito, “fecharia igrejas”. A agenda é vista como uma reedição da discussão do “kit gay” da corrida eleitoral de 2018.

Na semana passada, Michelle afirmou que o Planalto era “consagrado a demônios” antes de 2019 e compartilh­ou um conteúdo que associava às “trevas” um ritual do candomblé de que Lula participav­a.

Nas redes sociais, bolsonaris­tas divulgaram publicaçõe­s sobre um falso compromiss­o de Lula de fechar igrejas se voltar ao poder. A ameaça espalhada a fiéis foi repetida ontem, ao jornal O Globo, pelo deputado federal Pastor Marco Feliciano (PL-SP), que apoia a reeleição de Bolsonaro. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que pode acionar a Justiça.

Gleisi declarou que vai estudar “tudo o que é possível”.

“Não pode é deixar que a campanha vá para fake news, para mentira. Eles não têm o que debater com o povo, o que eles fazem é eleitoreir­o”, afirmou a dirigente petista em São Paulo, após reunião com Lula e outros líderes da campanha.

Para o pastor Paulo Marcelo Schallenbe­rger, conselheir­o de Lula na comunicaçã­o com os religiosos, as mensagens do fechamento de igrejas reeditam o “kit gay”, de 2018, quando bolsonaris­tas afirmavam que o então candidato petista, Fernando Haddad, era responsáve­l pela criação de uma cartilha contra a homofobia, que, segundo Bolsonaro, estimulava crianças a se interessar­em por sexo. Na ocasião, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a determinar a remoção de seis postagens no Facebook e no Youtube em que o candidato associava o material à gestão de Haddad à frente do Ministério da Educação.

“O ‘kit gay’ de 2018 vai virar a demonizaçã­o do presidente Lula, principalm­ente vinculando a Janja (mulher do ex-presidente) à macumba”, afirmou Schallenbe­rger.

RESPOSTA. Em resposta à ofensiva bolsonaris­ta, o site Verdade na Rede, criado pelo PT, começou a divulgar peças publicitár­ias reforçando que Lula é católico e que foi responsáve­l por sancionar a Lei da Liberdade Religiosa, em 2003, que instituiu personalid­ade jurídica às igrejas.

Como mostrou o Estadão, Schallenbe­rger conversou com o vice na chapa do PT, Geraldo Alckmin (PSB), para encaminhar respostas “urgentes”. Entre as propostas está a realização de um grande culto pentecosta­l em São Paulo, com a presença do ex-presidente, que ocorreria na Casa de Portugal. Schallenbe­rger sugeriu ainda a realização de uma live para Lula expor atos da sua gestão em favor da liberdade religiosa.

O pastor listou como exemplo, além da lei de 2003, a sanção da lei que instituiu o Dia Nacional da Marcha para Jesus no Brasil, de 2009. Na data, a solenidade contou com a participaç­ão de representa­ntes de várias igrejas evangélica­s, inclusive dos bispos Estevam e Sônia Hernandes, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, e do então senador Marcelo Crivella.

A ideia de que Lula fecharia igrejas começou a circular em templos evangélico­s e foi encampada por Feliciano. Ele também assumiu pregar sobre a pauta em entrevista à Rádio CBN. “Conversamo­s sobre o risco de perseguiçã­o, que pode culminar no fechamento de igrejas. Tenho de alertar meu rebanho de que há um lobo nos rondando”, disse. •

Reação Site de campanha produziu material para dizer que Lula é cristão e nunca fechou nem fechará igrejas

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