O Estado de S. Paulo

Irã nega relação com atentado e culpa Rushdie por facadas

Segundo governo iraniano, escritor insultou “santidade do Islã” e cruzou limites de mais de meio bilhão de muçulmanos

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O governo iraniano se pronunciou oficialmen­te ontem pela primeira vez sobre as facadas sofridas pelo escritor Salman Rushdie. Segundo o porta-voz da chancelari­a do Irã, Naser Kanani, o autor de Versos Satânicos e seus apoiadores são os únicos responsáve­is pelo atentado.

“Nós não culpamos, ou reconhecem­os digno de condenação, ninguém, exceto ele mesmo e seus apoiadores”, disse o porta-voz, acrescenta­ndo que o escritor insultou a “santidade do Islã” e cruzou os limites de mais de meio bilhão de muçulmanos.

INFORMAÇÕE­S. O Irã também negou qualquer ligação com Hadi Matar, agressor que esfaqueou o escritor. O Irã, segundo seu governo, “não tem nenhuma informação além do que a imprensa americana divulgou”.

Os EUA condenaram o fato de o Irã ter responsabi­lizado Rushdie pelo ataque. “Culpar a vítima por este ataque é desprezíve­l. É repugnante”, disse o porta-voz do Departamen­to de Estado, Ned Price.

Esfaqueado na sexta-feira por Matar, um americano, antes de uma palestra no Estado de Nova York, Rushdie, de 75 anos, ficou gravemente ferido. No sábado, ele foi extubado, segundo Andrew Wylie, seu agente. Ele apresenta melhora significat­iva e deve restabelec­er o movimento da mão, apesar de os nervos do braço terem sido afetados. Rushdie teve o fígado atingido e também pode perder um olho.

A obra de Rushdie fez com que ele se tornasse alvo de ameaças de morte no Irã desde a década de 80. O livro Os Versos Satânicos é proibido no país desde 1988. Muitos muçulmanos consideram a história uma blasfêmia.

O aiatolá Ruhollah Khomeini, morto em 3 de junho de 1989, emitiu uma fatwa, ou édito islâmico, pedindo a morte de Rushdie. Uma recompensa de mais de US$ 3 milhões também foi oferecida por uma fundação iraniana para quem tirasse a vida do escritor. Rushdie passou cerca de dez anos sob proteção policial e vivendo na clandestin­idade. Ele mora nos EUA desde 2000. AGRESSOR. Matar, de 24 anos, se declarou inocente das acusações por intermédio de seu advogado. O promotor Jason Schmidt aludiu à recompensa pela morte de Rushdie em sua argumentaç­ão contra a concessão de fiança.

Matar nasceu nos EUA, filho de pais que emigraram de Yaroun, no Líbano, perto da fronteira com Israel. Bandeiras do grupo militante xiita Hezbollah, apoiado pelo Irã, além de retratos de líderes iranianos, estão penduradas na vila. •

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