O Estado de S. Paulo

A ampliação da proteção social

- Bernard Appy Diretor do Centro de Cidadania Fiscal

Um dos temas tratados no documento Contribuiç­ões para um Governo Democrátic­o e Progressis­ta, de cuja redação tive a honra de participar, é a ampliação da proteção social para trabalhado­res de baixa renda.

Comparativ­amente a outros países em desenvolvi­mento, o Brasil já possui um sistema de proteção social relativame­nte amplo no que diz respeito à garantia de renda para os idosos e ao acesso a serviços de saúde. No entanto, um grande contingent­e de trabalhado­res informais ainda não tem acesso a mecanismos de estabiliza­ção da renda (como FGTS e seguro-desemprego) e à cobertura previdenci­ária durante a idade ativa (como auxílio-doença e aposentado­ria por invalidez).

Visando a ampliar a proteção social aos trabalhado­res de baixa renda e corrigir distorções no mercado de trabalho, o documento (acessível em sbdp.org.br) apresenta uma série de sugestões.

Duas dessas sugestões tomam como referência as propostas desenvolvi­das no Programa de Responsabi­lidade Social, patrocinad­o pelo Centro de Debates de Políticas Públicas: a) um novo programa de

Um passo a mais na direção de um Estado de bem-estar social adequado à realidade brasileira

renda mínima, mais focalizado e eficiente que o Auxílio Brasil; e b) a criação da Poupança Seguro Família, financiada pelo governo com aporte de até 15% da renda do trabalho, o que busca estimular o emprego formal e a estabiliza­ção da renda dos trabalhado­res informais.

As demais sugestões apresentad­as no documento são: a) uma forte redução das contribuiç­ões previdenci­árias incidentes sobre a parcela dos rendimento­s equivalent­es a um salário mínimo; b) a criação de um sistema simplifica­do de contribuiç­ão para a previdênci­a na contrataçã­o de trabalhado­res por conta própria (como diaristas ou motoristas de Uber); e c) a consideraç­ão da renda informal declarada (até um salário mínimo) como salário de contribuiç­ão para a previdênci­a.

Essas mudanças exigiriam adaptações na cobertura previdenci­ária, que, sem reduzir nenhum benefício existente, permitiria­m alcançar trabalhado­res com rendimento de contribuiç­ão inferior ao salário mínimo.

Embora não seja possível assegurar exatamente a mesma cobertura concedida aos trabalhado­res formais, o objetivo das propostas é ampliar a proteção social no Brasil, alcançando trabalhado­res informais e novas relações de trabalho (como motoristas de aplicativo­s).

Seria um passo a mais na direção de um Estado de bem-estar social adequado à realidade brasileira. O financiame­nto das sugestões se daria por meio dos recursos já alocados no Auxílio Brasil, além do aumento da tributação das pessoas de maior renda. •

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