Casa Higienópolis é reaberta e participa do evento Jornada do Patrimônio
Projeto busca maior interação da população de São Paulo com seu legado histórico ao propor vários tours
É comum, durante uma viagem, aprendermos detalhes sobre bairros e ruas desconhecidos, talvez por terem um ponto turístico interessante, por abrigarem um restaurante charmoso ou simplesmente por nos encantarem enquanto andamos a esmo. No entanto, ao retornar para casa, dificilmente temos o mesmo interesse sobre o quarteirão em que moramos. Mas, e se fosse possível fazer uma espécie de intercâmbio cultural dentro de São Paulo? É esse o objetivo da Jornada do Patrimônio, que ocorre neste sábado, 20, e domingo, 21.
O evento, que a Prefeitura paulistana promove desde 2015, busca aproximar a população do patrimônio da cidade por intermédio de diversas manifestações culturais com temáticas relacionadas ao patrimônio histórico-cultural. “O tema desta oitava edição é ‘tão perto, tão longe’. Com isso, a gente quer incluir no imaginário da população que a memória histórica e o patrimônio cultural vão além dessas barreiras da região central”, explica a secretária Municipal de Cultura de São Paulo, Aline Torres.
TRÊS LINHAS. A Jornada é composta por três linhas: abertura de imóveis históricos – públicos e privados –, roteiros de memórias e oficinas e palestras. Cada uma com o objetivo de revelar personagens, histórias ou espaços que interajam com a memória da cidade. Tal como faz o Palacete Nhonhô Magalhães.
Construído em 1937 na esquina da Avenida Higienópolis com a Rua Albuquerque Lins, o imóvel já serviu de casa para a família Magalhães, abrigou a Secretaria de Segurança Pública em 1974, foi sede da Delegacia Antissequestro e, finalmente, foi vendida ao Shopping Pátio Higienópolis em 2005. Agora, é reaberta, depois de dez anos de restauro, como Casa Higienópolis, e participa mais uma vez da Jornada.
“O nosso mestre de obras foi o próprio edifício e a gente trabalhou aqui com várias linguagens da arquitetura”, conta Antônio Sarasá, responsável pela restauração. “A gente restaura para buscar os fazeres e saberes dos antepassados, trazer esse conhecimento para a transformação atual e levar isso para as gerações futuras.”
INSPIRAÇÕES. Com cinco pavimentos, incluindo um anfiteatro e um jardim, e 7.002 m² de área total construída, muitas estruturas são originais: desde os vitrais e papéis de parede, passando pelos azulejos e detalhes da porta. Hoje tombada pelos órgãos estadual e municipal de preservação de São Paulo, a casa tem sua arquitetura inspirada nos palacetes franceses.
Ainda na calçada, o casarão encanta com seu robusto jardim e suas colunas com detalhes de arquitetura neoclássica. O hall principal mantém o encantamento com detalhes da arte e arquitetura mourisca, desenvolvida na Península Ibérica entre os séculos 8.º e 15. Sarasá diz que a família tem origem portuguesa, “então podemos observar esse período da florescência da Península Ibérica ganhando a dimensão das artes com influência árabe”.
As grandes navegações portuguesas também são homenageadas, pelo estilo manuelino. “É um estilo decorativo inspirado em d. Manuel, um rei que incentivou o além-mar. Então, você se sente como se estivesse em uma caravela, com os detalhes das cordas no corrimão da escada, nos estuques, as cúpulas celestes – você vê o português como protagonista do descobrimento dos mares”, conta Sarasá.
Ao visitante é aconselhável ter tempo, para descobrir os detalhes nos vitrais, pisos e entalhes de madeira, além do cuidado com a estrutura original para que a acessibilidade e as partes funcionais da casa fossem aplicadas – tal como elevador, banheiros e ar-condicionado. O restaurador explica que as paredes têm caráter de flexibilidade, o que significa dizer que se manteve a parede original intacta.
O restauro ficou pronto no início de 2020 – ano em que foi inaugurado o Paço das Artes que também faz parte do complexo –, mas, por causa da pandemia, os organizadores guardaram a abertura oficial para este ano.
OUTROS TOURS. Aos interessados na história do café, a programação da Jornada do Patrimônio inclui opções como o Tour Cafés Sampa, que permite conhecer a história do grão na cidade, passando pelas suas melhores cafeterias. Agora, se o assunto é arquitetura, no lado oposto da cidade, em São Miguel Paulista, haverá tours especiais, incluindo conhecer a capela histórica que leva o nome da cidade, construída por índios e padres jesuítas. “A gente vai fazer com que essa programação, esse imaginário, chegue até a periferia”, antecipa Aline. •
Apreciação É aconselhável aos visitantes ter tempo para descobrir os entalhes de madeira, os vitrais e pisos