O Estado de S. Paulo

Última obra de Ruy Ohtake, complexo cultural é aberto na Grande SP

Ideia é que centro de 23 mil m² em Barueri seja uma das maiores referência­s artísticas do Estado e atraia 300 mil visitantes/ano

- PRISCILA MENGUE

“É sempre essencial provocar surpresa”. A frase dita por Ruy Ohtake na última entrevista que concedeu ao Estadão, em 2019, resume o que o ele, que morreu aos 83 anos em novembro de 2021, propôs em décadas de carreira e trabalhos cheios de cores e curvas que se tornaram referência­s na paisagem de São Paulo. O último projeto que o arquiteto assinou acaba de ser inaugurado em Barueri, na região metropolit­ana da capital paulista: é o complexo cultural Praça das Artes.

Segundo Rodrigo Ohtake, de 37 anos, filho do arquiteto, o espaço é possivelme­nte o último projeto de grande porte e público do pai. Outros foram elaborados posteriorm­ente, mas ainda não realizados. “Talvez seja o último que ele tenha feito do começo ao fim. Não viu a finalizaçã­o, mas viu toda a parte espacial sendo construída”, destaca. “Não tenho dúvida que (a Praça das Artes) já virou um marco”, diz Rodrigo Ohtake.

A proposta é consolidar o espaço como uma das maiores referência­s artísticas do Estado, pela programaçã­o, a arquitetur­a e os cursos livres e formativos, voltados a 9,8 mil pessoas. São cerca de 23 mil m², divididos em salas com diferentes portes e propostas, teatro de 952 lugares, auditório, coworking, estacionam­ento, sede da Secretaria de Cultura e Turismo, palco aberto e áreas de convivênci­a.

CARTÕES-POSTAIS. A expectativ­a é de atrair 300 mil visitantes por ano. O custo foi de R$ 110 milhões, bancado com recursos municipais.

Para o secretário de Cultura e Turismo, Jean Gaspar, de Barueri, o complexo já nasceu como um marco arquitetôn­ico, de autoria do mesmo autor de projetos icônicos de São Paulo, como o Hotel Unique, o Parque Ecológico do Tietê, o Instituto Tomie Ohtake e o Conjunto Residencia­l Heliópolis, os Redondinho­s.

“É um prédio que também é uma obra de arte”, descreve Gaspar. “Um cartão postal, um ponto turístico na cidade que também coloca Barueri na rota cultural do Estado.”

A fachada do edifício é majoritari­amente amarela, com arquitetur­a que misturas linhas retas, curvas e formas ovais, espelhadas e com detalhes coloridos. A parte superior lembra o formato de uma onda, em laranja e vermelho, que remete às cores do horizonte do entorno durante o pôr do sol. Em um dos três pavimentos, um terraço funciona como praça e receberá atividades e quiosques de alimentaçã­o.

Na parte interna, o palco aberto circular pode ser visto dos três pavimentos. As linhas curvas estão presentes em elementos coloridos ao longo do teto, translúcid­o e que permite a entrada de luz natural, e nas laterais do teatro. As cores estão no mobiliário, de autoria de Ohtake, e, em parte, pensado como divisória de alguns espaços. A escada lilás recorta o saguão, com formato de degraus na parte inferior.

O secretário de Barueri conta que o projeto começou a ser desenvolvi­do por Ohtake em 2017, a quem ele descreve como um “gênio generoso”, que o convidava para almoços casuais nos quais demonstrav­a alinhament­o com a ideia de trazer fluidez e integração aos espaços. “Conversáva­mos sobre a proposta pedagógica e artística”, comenta. A obra foi iniciada em 2018, ficando parada na pandemia por um ano.

A ideia é a que a ligação com Ohtake seja valorizada, segundo o secretário. Uma exposição sobre a obra do arquiteto é planejada para o próximo ano. Além disso, será homenagead­o no nome de um dos espaços do complexo, como o teatro ou o auditório, o que está em definição.

A inauguraçã­o oficial ocorreu no sábado, dia 22, com um concerto regido pelo maestro João Carlos Martins. Hoje, um show gratuito das cantoras Zizi e Luiza Possi também integra a programaçã­o inaugural. A abertura será gradual, com ativação dos espaços aos poucos. A cafeteria e o restaurant­e ainda serão selecionad­os e não estão em funcioname­nto.

O complexo fica às margens da Rodovia Castelo Branco e a menos de dois quilômetro­s da Estação Barueri, da CPTM. Está no terreno onde antes funcionava­m outro teatro e um ginásio.

O nome oficial do complexo é Praça das Artes Antônio Augusto de Moraes Liberato, uma homenagem ao apresentad­or Gugu Liberato (morto em 2019), que residiu no município, em Alphaville. “Fazer uma obra que atenda uma demanda democrátic­a e pública sempre foi algo que lhe deu muito prazer. Sempre foi um tipo de obra que ele tratou com muito carinho e empolgava muito ele”, comenta o filho.

Em março, outro projeto de Ohtake teve inauguraçã­o póstuma: o aquário de água doce Bioparque Pantanal, em Campo Grande. Rodrigo destaca ainda que a Praça das Artes reúne elementos caracterís­ticos do trabalho do pai. E que ser “muito reconhecív­el”, ter uma assinatura, um estilo próprio, foi algo que o arquiteto sempre buscou ao longo de seis décadas de carreira. “A estrutura metálica interna com curvas (no teto) é algo marcante nele, a fachada com muita ousadia, colorida e com curva”, avalia. “O amarelo forte, vibrante, e as curvas são marcantes. O fato de ser visível da rodovia, acho que ainda mais.”

Outro ponto que destaca é que o projeto valoriza os espaços comuns, “muito democrátic­os”, o que Ohtake aplicava mesmo em projetos de casas e edifícios. “Em Barueri, logo que se entra (no complexo cultural), tem um espaço-ateliê enorme, uma laje livre para as crianças poderem correr, criar, ter diversos tipos de programaçã­o.”

Rodrigo conta que se sente privilegia­do em entregar obras do pai, como em Barueri e no Bioparque Pantanal. “Tem sido um período de homenagem à vida do Ruy. Lembro bem de quando a Tomie (artista visual e mãe do arquiteto) faleceu, que ele falou que aquela era ‘a hora de celebrar a vida da Tomie’.” •

Diferencia­l “Talvez seja o último que ele tenha feito do começo ao fim”, diz Rodrigo, filho do arquiteto

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FOTOS WERTHER SANTANA / ESTADÃO Há salas com diferentes portes e propostas, teatro de 952 lugares, auditório, coworking, estacionam­ento, palco aberto e área de convivênci­a
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OUTRA OBRA.
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O custo foi de R$ 110 milhões, com recursos municipais de Barueri

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