O Estado de S. Paulo

Vacina contra a dengue do Butantan alcança 79,6% de eficácia em testes

Conforme os dados preliminar­es, nos voluntário­s que já foram infectados, a eficácia foi de 89,2%. E não foram registrada­s hospitaliz­ações ou mortes entre os participan­tes

- FABIANA CAMBRICOLI

A vacina contra a dengue desenvolvi­da pelo Instituto Butantan e em fase final de testes alcançou 79,6% de eficácia, segundo resultados iniciais do estudo clínico divulgados ontem pela instituiçã­o. Para essa análise preliminar, foram considerad­os os dados de dois anos de acompanham­ento dos 16,2 mil voluntário­s que participam do estudo de fase 3 (a última antes do pedido de registro). Conforme o protocolo do teste, eles deverão ser seguidos por cinco anos e, por isso, a eficácia final do imunizante só será conhecida em 2024. Os dados parciais, porém, animaram os pesquisado­res.

No estudo, que conta com a participaç­ão de 16 centros de pesquisa em 14 Estados do País, os voluntário­s foram divididos de forma aleatória em dois grupos: dois terços foram vacinados e um terço recebeu o placebo. De acordo com Fernanda Boulos, diretora médica do Butantan, foram registrado­s 135 casos da doença entre os participan­tes, dos quais 100 ocorreram entre os não imunizados e apenas 35, entre os vacinados. “Embora preliminar, é um resultado robusto, com significân­cia estatístic­a. E ainda de uma vacina em dose única e que poderá ser indicada para crianças, adolescent­es e adultos. Estamos otimistas”, afirmou. Os resultados deverão ser submetidos para publicação em revista científica no ano que vem.

PROTEÇÃO. De acordo com o Butantan, foram incluídos na pesquisa participan­tes de 2 a 59 anos, com e sem exposição prévia ao vírus da dengue. Nos voluntário­s que já haviam sido infectados antes do estudo, a eficácia foi de 89,2%. Já naqueles que nunca tinham contraído a doença, a proteção foi um pouco inferior, de 73,5%.

Os pesquisado­res também calcularam a eficácia para cada um dos quatro sorotipos do vírus da dengue: para o tipo 1, a taxa ficou em 89,5%. Para o tipo 2, ela foi de 69,6%. Ainda não há dados de eficácia contra os sorotipos 3 e 4 porque essas cepas não circularam amplamente no País no período da análise.

De acordo com o virologist­a Maurício Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e um dos pesquisado­res principais do estudo, os resultados obtidos indicam que a eficácia para os sorotipos 3 e 4 também seja alta. “Tradiciona­lmente, o sorotipo que responde pior às vacinas é o 2. O que se espera, pelo que a gente conhece da biologia do vírus, é que as eficácias para os sorotipos 3 e 4 fiquem mais próximas do que foi observado para o sorotipo 1”, explica o pesquisado­r.

PROBLEMAS. Não foram registrada­s hospitaliz­ações ou mortes entre os voluntário­s de nenhum dos dois grupos. Por isso, ainda não é possível saber a eficácia do produto para casos mais graves, mas os pesquisado­res acreditam que, consideran­do a alta proteção geral contra infecções sintomátic­as, a eficácia contra casos graves também deverá ser alta.

Sobre a segurança do imunizante, somente 3 (menos de 0,1%) dos 16,2 mil voluntário­s apresentar­am eventos adversos graves. “As reações adversas foram comparávei­s entre o grupo que recebeu placebo e o que recebeu a vacina, exceto por reações esperadas que acontecera­m fora do local da aplicação, como febre e irritação na pele”, informou o Butantan.

PARCERIAS. A vacina do Butantan foi desenvolvi­da a partir de antígenos licenciado­s dos Institutos Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês). Em 2018, a instituiçã­o brasileira firmou uma parceria com a farmacêuti­ca MSD, que tem a licença do antígeno fora do Brasil. Em território nacional, o Butantan tem exclusivid­ade e autonomia para comerciali­zar o produto, caso ele futurament­e receba a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Ter uma vacina desenvolvi­da e fabricada integralme­nte aqui no Butantan só reforça um dos nossos propósitos: mostrar que o Brasil tem capacidade produtiva para atender não só o território nacional, mas qualquer outro país que sofra com a dengue. Esse ano, especifica­mente, nós tivemos mais de 970 mortes pela doença. Nós temos a obrigação de salvar essas vidas”, afirmou Dimas Covas, diretor executivo da Fundação Butantan.

CAPACIDADE. De acordo com Daniella Cristina Ventini Monteiro, gerente de produção do Butantan, a instituiçã­o terá capacidade para produzir até 50 milhões de doses da vacina por ano. “Podem ser utilizadas até três linhas de envase para que seja possível atender à demanda da saúde pública brasileira”, declarou. A vacina é produzida com o vírus atenuado (enfraqueci­do). •

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COMUNICAÇíO BUTANTAN A instituiçã­o paulista apresenta capacidade para produzir até 50 milhões de doses da vacina por ano

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