Queijo artesanal mineiro busca reconhecimento da Unesco como patrimônio da humanidade
Governo de MG tenta fazer com que o modo de produção desse alimento tenha aval internacional
O queijo artesanal mineiro pretende seguir os passos da baguete francesa e entrar para o rol de alimentos que são Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade reconhecido pela Unesco. Os franceses receberam a confirmação dessa conquista no início do mês, durante conferência da Unesco realizada em Rabat, no Marrocos.
Um comitê formado pelas Secretarias de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e de Cultura e Turismo (Secult), do Governo de Minas Gerais, junto de representantes do Governo Federal, produtores locais e de parceiros como Faemg, Ocemg, Amiqueijo e o Centro de Referência do Queijo Artesanal, esteve presente na cerimônia e levou na bagagem algumas dezenas de queijos artesanais para já começar a impressionar os conselheiros e apresentar a candidatura.
Os representantes da Unesco provaram o queijo Minas artesanal de diferentes regiões do Estado e receitas preparadas por uma chef renomada a partir do ingrediente, enquanto Gilson de Assis Sales, superintendente de Abastecimento e Cooperativismo da Seapa, contou um pouco da história e do processo específico de produção desse alimento.
“Começa com a utilização do leite cru, recém-ordenhado. Ele tem que ser usado em até no máximo 90 minutos ao final da ordenha. Em seguida, são adicionados o coalho (coagulante) e o pingo, que é o fermento natural. O pingo é o soro que escorre do queijo no processo de fermentação. Ele é coletado e reutilizado na produção de outro queijo no dia seguinte. A massa, então, é quebrada, dessorada, enformada e prensada com as mãos, unicamente. Depois é feita a salga seca e então o queijo passa por processo de maturação em prateleiras de madeira.”
O reconhecimento internacional é o último passo de um caminho que começou a ser trilhado há 20 anos. Em 2002, o modo de produção do queijo mineiro se tornou patrimônio estadual. Seis anos depois, em 2008, tornou-se patrimônio nacional.
Subir mais esse degrau agora será importante para o desenvolvimento da agropecuária e gastronomia na região, para a abertura de mercado e também para que os produtores consigam ter acesso as outras fontes de recursos e financiamentos, inclusive internacionais.
“É importante também pela preservação de uma cultura e de uma identidade. Ele é mais do que apenas a expressão do modo de saber e fazer. É o envolvimento de todo o ambiente que o cerca, a ligação do produtor com o conjunto”, comenta Gilson.
Restam agora mais duas importantes etapas no processo para esse reconhecimento. O comitê responsável está no processo final de reunir toda a documentação necessária para enviar à Unesco. “Quando receberem a documentação, espero que puxem pela memória o queijo que experimentaram e o trabalho que foi feito nessa comitiva em Rabat. Nossa percepção foi muito positiva.”
Os documentos podem ser enviados até 31 de março. Mas a expectativa do governo mineiro é de enviar até o fim do mês. Depois disso, membros da Unesco avaliam o material, podendo pedir mais informações. O material completo é encaminhado para conselheiros e, depois, vai à plenária para votação com todos os países-membros. “Em Rabat, a baguete francesa foi reconhecida. Após a entrega do dossiê Modo de Fazer o Queijo Minas Artesanal, a Unesco tem até dois anos para a análise. Espero que em 2024 tenhamos esse resultado positivo, como símbolo da nossa cultura e tradição”, comentou Gilson.