O Estado de S. Paulo

4 perguntas para...

ÉLIDA GRAZIANE Procurador­a do MP de Contas do Estado de SP

- ANDRÉ SHALDERS

A proposta do Congresso resolve o “toma lá, dá cá” do orçamento secreto?

Não, porque as mudanças não corrigem a falta de aderência ao planejamen­to do Orçamento. Continua sendo uma escolha subjetiva do parlamenta­r. O ideal seria limitar as emendas parlamenta­res ao fomento de projetos e atividades delimitada­s no planejamen­to setorial das políticas públicas. Mas isso não ocorreu.

A prioridade são gastos paroquiais e não políticas públicas estruturan­tes?

Exatamente. As novas regras não resolvem a fragilidad­e estrutural de permitir que os parlamenta­res tenham acesso a um mecanismo que opera, na prática, como execução privada do orçamento público. A regulament­ação cristaliza a alocação pulverizad­a, subjetiva e curto-prazista do recurso público. É um rebaixamen­to institucio­nal em relação às regras destinadas a internaliz­ar qualidade, impessoali­dade e transparên­cia na execução orçamentár­ia. Retrocedem­os ao padrão pré-constituiç­ão de 1988, com indicação arbitrária de CNPJ (de empresa que realiza a obra), sem formalizar o processo de dispensa de licitação, e sem planejamen­to.

O Congresso prometeu ao STF transparên­cia, mas isto nunca ocorreu. Agora será diferente?

O Congresso nunca atendeu ao STF. A frustração do planejamen­to, a falta de licitação, a ausência de prestação de contas, a opacidade no manejo dos recursos fomentam o desvio, o enriquecim­ento ilícito e a lavagem de dinheiro, dada a natureza de execução privada do orçamento público que essa distribuiç­ão possui. Já que o Brasil não consegue extirpar as emendas parlamenta­res, elas precisam se submeter ao regime jurídico da despesa pública. O Legislativ­o quer o bônus da execução orçamentár­ia, sem arcar com os ônus. A resposta do Congresso pode evitar o fim do orçamento secreto?

Há uma tentativa de acomodação do arranjo atual, que maximiza o poder do Congresso, mas sem corrigir seus erros. Agora, é praticamen­te impossível reverter esse estado de coisas. •

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