O Estado de S. Paulo

Griezmann se reinventa e volta a ser fundamenta­l na seleção francesa

Um dos principais nomes na conquista do bicampeona­to mundial em 2018, na Rússia, atacante vira meia e se transforma no cérebro da equipe na Copa do Catar

- MARCIO DOLZAN

Não há muitas dúvidas de que Kylian Mbappé é o jogador mais badalado da França, mas o mesmo não se pode dizer no debate sobre quem é o melhor da seleção nesta Copa do Mundo do Catar. Com três assistênci­as e atuações cerebrais no meio de campo, Antoine Griezmann se tornou peça fundamenta­l na campanha que levou a equipe a mais uma final, amanhã, contra a Argentina. Pelos pés dele passam as principais ações de jogo no time de Didier Deschamps.

Griezmann já havia sido essencial na Copa da Rússia, quando marcou quatro gols e deu outras quatro assistênci­as. Seus números finais agora são mais modestos, mas a importânci­a dele para a França cresceu. Depois de passar quase toda a carreira como segundo atacante, tem atuado no Mundial mais recuado. É armador e, se precisar, volante.

“Sou bastante livre na forma como me relaciono com defesa e ataque”, diz o jogador de 31 anos. “Na hora de defender, tenho de ajudar meus companheir­os. Quando temos a bola, tenho de tentar jogar o melhor que posso. Isso me dá mais opções. Fisicament­e, me sinto ótimo e, quando estou me sentindo bem, minha cabeça também fica muito melhor e é mais fácil continuar fazendo isso.”

Uma consequênc­ia direta desse seu reposicion­amento em campo está na falta de gols. Entrando menos na área, Griezmann também finaliza menos e parou de marcar. Na semifinal com o Marrocos, ele alcançou um jejum de 14 partidas sem gols pela França.

Por outro lado, as duas assistênci­as dadas nas quartas de final diante da Inglaterra o transforma­ram no maior garçom da história da seleção, com 28 passes para gol – um a mais do que Thierry Henry.

RECONHECIM­ENTO. Isso também sustenta o elogio do presidente francês, Emmanuel Macron, que na quarta-feira foi ao vestiário da equipe após a classifica­ção à final. Exultante, cumpriment­ou cada um dos jogadores e chamou Griezmann de “generoso”.

As atuações têm sido tão convincent­es que até quem seria o dono natural da posição tem elogiado. Logo após a vitória sobre o Marrocos na semifinal, jogo em que Griezmann foi eleito o craque da partida, Pogba postou numa rede social o neologismo “Griezmannk­ante”, como se o atacante do Atlético de Madrid espanhol tivesse incorporad­o o volante do Chelsea. Tanto Pogba quanto Kanté ficaram de fora da Copa do Mundo por causa de lesão.

TALENTO. Para o técnico Didier Deschamps, Griezmann tem sido um dos grandes nomes desta Copa do Mundo por estar conseguind­o demonstrar de forma efetiva uma necessidad­e básica para se estar num Mundial: talento.

“Ele é o tipo de jogador que pode realmente mudar um time porque trabalha duro e é muito talentoso tecnicamen­te”, considera o técnico. “Griezmann está desempenha­ndo um papel um pouco diferente nesta Copa do Mundo, mas que combina bem com ele. Ele gosta de defender tanto quanto de atacar.”

O jogador também demonstra estar mais ciente da importânci­a do foco num Mundial. Após a vitória sobre o Marrocos, ele comparou o resultado com a classifica­ção à final na Copa da Rússia, quando a França superou a Bélgica.

“Aquela vez, chorei. Acho que agora estou mais focado”, disse Griezmann. “Já estou focado na final de domingo. Estou tentando manter os pés no chão, manter a compostura, focar na recuperaçã­o e me preparar para a partida.”

As apresentaç­ões acima da média no Catar jogaram novamente os holofotes para um atleta que passou o ano em baixa. Depois de fazer história no Atlético de Madrid e ajudar a colocar o clube na vitrine do futebol mundial há poucos anos, Griezmann teve uma passagem apagadíssi­ma pelo Barcelona e retornou à equipe de Madri sob desconfian­ça. Tanto que passou boa parte dos jogos como opção no banco.

Prêmio contra Marrocos Griezmann foi eleito o melhor em campo na semifinal. Foi a primeira vez nesta Copa do Mundo

Seu status, certamente, irá mudar quando o futebol espanhol retomar seu calendário após a Copa do Mundo. De reserva de luxo, Griezmann irá se tornar mais uma vez titular absoluto do clube madrilenho. Resta saber se como atacante ou meio-campista. A única certeza é que ele é capaz de dar conta do recado. •

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BERNADETT SZABO/REUTERS Antoine Griezmann se mostrou um jogador bastante versátil e se tornou o comandante da seleção francesa dentro de campo no Catar

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