FGV mostra baixo dinamismo do PIB
Arrastada pelos serviços, a economia cresce, mas o setor industrial continua fraco e dependente
Sustentada pelo consumo e pelos serviços, a economia avançou 0,1% em outubro, mas sem compensar o recuo de 0,8% em agosto e o de 0,2% em setembro, segundo o Monitor do PIB-FGV. Ainda há sinais de crescimento, portanto, apesar do aperto monetário causado pelo aumento de juros, comentou a coordenadora da pesquisa, Juliana Trece. Publicado mensalmente, o Monitor é a prévia mais detalhada do Produto Interno Bruto (PIB) calculado a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O crescimento acumulado em 12 meses chegou a 3,1% em outubro, com evidente perda de ritmo a partir do segundo trimestre. A taxa acumulada superou 5% em cada um dos primeiros três meses, declinou e a partir de maio foi sempre inferior a 4%.
Duramente atingido nos primeiros meses da pandemia, quando as atividades presenciais foram muito reduzidas, o setor de serviços foi o mais dinâmico na fase seguinte, com a reativação do turismo, das viagens profissionais, da hotelaria, dos salões de beleza e de outros tipos de atendimento pessoal. O volume de serviços cresceu 0,4% em outubro e 4,5% em 12 meses, liderando com folga a retomada econômica. Nesse período, a produção industrial aumentou apenas 1,4%, enquanto a agropecuária diminuiu 1,4%, prejudicada principalmente por problemas meteorológicos em vários Estados.
O avanço dos serviços, o setor de maior peso na composição do PIB, é especialmente importante por seus efeitos na geração de empregos. Mas o setor inclui atividades muito diferenciadas em suas características tecnológicas e de organização. Há funções para pessoas altamente qualificadas, em alguns segmentos, mas boa parte das ocupações na área dos serviços é informal e de baixa remuneração.
A indústria produziu em outubro 0,1% mais que no mês anterior. Também na comparação mensal, o volume produzido havia diminuído 1,5% em agosto e 0,3% em setembro. O desempenho do setor industrial, principalmente da indústria de transformação, produtora da maior parte dos bens utilizados no dia a dia das famílias, tem sido medíocre há cerca de dez anos e piorou nos últimos quatro.
Com baixo dinamismo, a atividade fabril tem perdido peso na produção global e essa tendência se agravou a partir de 2014. Nos últimos anos, o Brasil foi superado, no ranking da atividade industrial, por vários países, incluídos México, Indonésia, Taiwan, Rússia e, em 2021, Turquia, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Neste ano, a participação brasileira foi de 1,28%, a menor da série iniciada em 1990. O modesto crescimento mostrado pelos números oficiais e também pelo Monitor é mais um reflexo da estagnação setorial – ou mesmo do retrocesso observado há vários anos.
Em 2017 a economia brasileira começou a recuperar-se do tombo de 2015-2016, façanha da presidente Dilma Rousseff. A retomada perdeu impulso em 2019, continua incompleta no final do mandato do presidente Jair Bolsonaro e a indústria permanece carente de uma política dinamizadora, nunca esboçada, sequer, pelo atual governo.l