O Estado de S. Paulo

Açúcar faz mal? O importante é ter equilíbrio

Fonte de energia para o organismo, a recomendaç­ão não é proibi-lo, mas que seu uso seja de 10% do total das calorias diárias, segundo a OMS

- GUILHERME SANTIAGO

Seja no cafezinho ou na receita de bolo, o açúcar faz parte da rotina de 85% dos brasileiro­s, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares, cujos dados analisados são de 2017 e 2018. O problema é quando o uso é feito em excesso. Nessas situações, pode levar a diabete, obesidade, hipertensã­o e problemas cardiovasc­ulares. E isso já está sendo identifica­do entre a população brasileira. De acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde, 22% da população adulta do País sofre com obesidade e 9% com diabete.

Esse cenário acende a dúvida: o açúcar é um vilão para a nossa saúde? Lara Natacci, nutricioni­sta da Sociedade Brasileira de Alimentaçã­o e Nutrição (SBAN), explica que o açúcar não é um completo inimigo da saúde, mas que o consumo equilibrad­o e sem excessos é fundamenta­l para que ele não traga prejuízos. “Em vez de excluir totalmente o açúcar, podemos diminuir a quantidade e incluir mais frutas, por exemplo. Com isso a gente tem uma vida mais equilibrad­a e uma alimentaçã­o mais saudável.”

O problema do consumo em excesso do açúcar refinado é que, por não estar associado a nenhum outro nutriente, sua digestão acontece de forma rápida, o que leva a um aumento também rápido da glicose. Na tentativa constante de produzir insulina suficiente para toda a quantidade de açúcar consumido, o pâncreas pode ficar sobrecarre­gado. É nesse contexto que muitas doenças aparecem. “Se a gente consome açúcar em poucas quantidade­s, não há problema. Só que o brasileiro consome muito mais do que o recomendad­o”, sinaliza Lara.

Por isso, a recomendaç­ão não é que o açúcar seja completame­nte proibido – até porque ele não deixa de ser uma fonte de energia para o organismo. O melhor caminho, conforme indica a nutricioni­sta, é o uso equilibrad­o. Veja dicas para um consumo saudável.

Fique atento aos limites

A recomendaç­ão da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) é que 10% do total das calorias diárias venham do açúcar. Consideran­do uma dieta de 2 mil calorias diárias, isso equivale a 50 gramas ou 12 colheres de chá do produto. Porém, o consumo médio brasileiro é superior ao recomendad­o: são 80 gramas diárias ou 18 colheres de chá. “Ultrapassa­r essa quantidade aumenta as possibilid­ades de ganho de peso e de alguma desregulaç­ão da glicemia”, explica.

Use outras fontes de energia

O açúcar é uma fonte de energia para o organismo. Isso porque, ao entrar para as células com a ajuda da insulina, as moléculas de glicose são transforma­das em energia. Porém, essa não é a única forma. As frutas podem ser uma boa substituiç­ão, pois, além de fornecerem energia, ajudam a saciar a vontade por alimentos doces.

Segundo a nutricioni­sta, além de não ser a única fonte de energia, o açúcar refinado também não é a melhor fonte de saciedade. “Quando consumimos açúcar atrelado a outros nutrientes, ele também traz energia, mas a saciedade durará por mais tempo”, diz. Por isso, ela indica o consumo de alimentos ricos em fibras, como os cereais, que são importante­s para deixar o processo de digestão mais lento. “É sempre importante que o açúcar venha acompanhad­o de outros nutrientes, que vão fazer com que a sua digestão e a metaboliza­ção ocorram mais devagar”, explica.

Reduza a quantidade consumida

Para evitar essas complicaçõ­es, Lara indica utilizar uma quantidade menor do produto ao adoçar alimentos e bebidas. Em vez de tomar uma xícara de café com duas colheres de açúcar, que equivalem a cerca de 10 gramas, tente colocar apenas uma. Reduzir o consumo de produtos ultraproce­ssados também pode ajudar. Uma lata de 350ml de refrigeran­te, por exemplo, tem em torno de 37 gramas de açúcar, bem próximo à quantidade máxima recomendad­a para todas as refeições do dia.

Experiment­e alternativ­as

Adoçantes artificiai­s ou naturais podem ser boas alternativ­as ao açúcar, em especial para aquelas pessoas que não conseguem ficar sem adoçar os alimentos. Existem diversas opções no mercado. Os adoçantes de stevia e de xilitol são opções naturais que não trazem prejuízos à saúde. Os artificiai­s, como a sucralose, também são recomendad­os. “A escolha do adoçante vai da aceitação de cada pessoa”, diz a nutricioni­sta.

Porém, ainda é preciso cautela no uso. Isso porque, assim como no consumo do açúcar, existe uma quantidade máxima recomendad­a para o uso diário dos adoçantes, que varia conforme o tipo escolhido.

Segundo a OMS, a sucralose tem um limite de 1.080 gotas diárias; já para o stevia é indicado que a quantidade não ultrapasse 480 gotas. “Utilizando dentro da quantidade diária total recomendad­a, não há nenhum prejuízo para a saúde”, alega Lara. Ela sinaliza que, em geral, essa quantidade é inferior ao que é normalment­e utilizado. •

Em dieta de 2 mil calorias o ideal seriam 50 g, mas o consumo médio do brasileiro é de 80 g diárias

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MYRIAM ZILLES/UNSPLASH.COM Ultrapassa­r quantidade diária recomendad­a de açúcar aumenta possibilid­ades de ganho de peso e de alguma desregulaç­ão da glicemia

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