O Estado de S. Paulo

Recorde sustentáve­l

- Roberto Rodrigues rrceres75@gmail.com EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E COORDENADO­R DO CENTRO DE AGRONEGÓCI­OS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

Acolheita da safra brasileira de grãos está acontecend­o. Em todos os Estados produtores, milhares de colhedeira­s são acionadas assim que o sol desponta no horizonte, seus operadores substituin­do em novo turno quem trabalhou à noite enquanto o orvalho não umedeceu as vagens e as espigas. Os roncos dos motores de máquinas de várias marcas e tamanhos enchem de entusiasmo e orgulho os produtores rurais que plantaram a maior safra de grãos de todos os tempos no País.

Uma curiosidad­e: a primeira vez que o Brasil colheu 100 milhões de toneladas de grãos foi em 2001. Isto quer dizer que demoramos 500 anos para chegar a este número. Muito trabalho e muita luta permitiram dobrar este volume 14 anos depois: em 2015, colhemos 200 milhões! E agora, apenas 8 anos passados, mais 100 milhões de toneladas, e pela primeira vez superaremo­s os 300 milhões.

E 100 milhões é apenas o aumento da produção em 8 anos. Que outro país do mundo conseguiri­a essa façanha, sem nenhuma estratégia estabeleci­da, sem plano de metas, mas apenas com a vontade inquebrant­ável dos agricultor­es, as tecnologia­s geradas e algumas políticas públicas, como o crédito rural?

De 1990 até este ano, a área plantada com grãos dobrou (cresceu 103%), enquanto a

Pela 1.ª vez, a safra brasileira de grãos vai ultrapassa­r a casa dos 300 milhões de toneladas

produção poderá aumentar 430%. Se estes números impression­am, há outros mais fantástico­s: hoje são cultivados no Brasil cerca de 77 milhões de hectares com grãos, consideran­do que em grande parte do território são semeados grãos 2 vezes por ano, e até 3, onde há irrigação. Pois bem: se tivéssemos hoje a produtivid­ade por área de 1990, seria preciso plantar mais 126 milhões de hectares para colher a safra de 2023.

Segundo o Ibre/FGV, o PIB da agropecuár­ia deve crescer 8% este ano, e o PIB total do País deverá aumentar algo em torno de 1%. E tem mais: em 2000, o agronegóci­o brasileiro exportou US$ 20 bilhões. No ano passado foram US$ 159 bilhões, para cerca de 200 países! Praticamen­te 8 vezes mais!

Com essa safra, o Brasil ajudará a reduzir a inflação de alimentos no mundo, que explodiu com a pandemia.

E os produtores, como ficam? Os custos de produção dessa safra aumentaram muito, em torno de 35%, dependendo da cultura semeada. E, segundo o FMI, os preços das commoditie­s poderão ter uma redução média de 4,5%. Isso poderá trazer descasamen­to de renda rural.

Por outro lado, milhões de brasileiro­s passam fome, por falta de renda. Temas que irão visitar os escritório­s de Brasília durante o ano inteiro. •

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