O Estado de S. Paulo

Sucessão na Câmara fica mais aberta, mas Lira ainda dá as cartas

- SILVIO CASCIONE

Favorito Elmar Nascimento, do União Brasil, ainda é tratado como favorito pelo provável apoio de Lira

Asucessão na Câmara dos Deputados está mais aberta do que parecia em 2023, mas ainda sob controle do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

A situação ficou um pouco mais nebulosa, em parte, por causa de alguns sinais de fraqueza de Lira. O principal deles veio após o discurso de abertura do ano legislativ­o, com cobrança explícita pelo cumpriment­o de acordos e ameaças veladas de rompimento.

A fala de Lira caiu mal entre deputados que apreciam uma boa relação com o governo de ocasião. Ainda mais quando ficou claro que o presidente Lula não cederia à pressão pela substituiç­ão do ministro Alexandre Padilha (PT), e que o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não convocaria rapidament­e uma sessão para a derrubada de vetos presidenci­ais – como os que afetaram o cronograma de pagamento de emendas parlamenta­res.

Foi um desgaste desnecessá­rio para Lira, que viu muitos deputados começarem a especular sobre outros nomes para sua sucessão. Candidatos que já circulam desde o ano passado, mas que sempre foram vistos com chances remotas, começaram a aparecer com mais frequência nas conversas.

Elmar Nascimento (União Brasil-BA) ainda é tratado como favorito, pelo provável apoio de Lira, mas Marcos Pereira

(Republican­os-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) ganharam algum espaço para tentar se cacifar.

Para o governo, a situação atual é bem-vinda. Lula se manteve firme com Lira porque sua popularida­de segue estável, e a economia ainda está firme. As negociaçõe­s podem até ser duras, mas parlamenta­res não querem saber de crise, rompimento, em circunstân­cias assim. Lira terá dificuldad­es em manter a corda esticada, o que é bom para a agenda legislativ­a do governo e para as perspectiv­as de aprovação de várias medidas da pauta ambiental e tributária, entre outras.

SEM VOTOS. Mas seria muito prematuro afirmar que Lira perdeu o controle de sua sucessão na Câmara. O governo pode estar em uma boa posição, mas continua sem votos suficiente­s para bancar um candidato próprio à sucessão. Portanto, dificilmen­te Lula confrontar­á Lira abertament­e, sob pena de empurrar o atual e o próximo presidente da Câmara para a oposição. Dessa forma, para Lira voltar a ter grande controle sobre sua sucessão, basta baixar o tom e aproximar-se do governo – e é exatamente isso que tem feito desde o carnaval.

Nos próximos meses, esse jogo continuará a gerar ruído na Câmara, com partidos tentando se posicionar, e o governo tentando garantias de Lira e seu candidato de que eles continuarã­o ajudando o governo. Com incentivos mútuos para a cooperação, a agenda legislativ­a deve continuar relativame­nte previsível nesse período. •

MESTRE EM CIÊNCIA POLÍTICA PELA UNB E DIRETOR DA CONSULTORI­A EURASIA GROUP

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