O Estado de S. Paulo

Estados do Sul e Sudeste assinam pacto contra o crime organizado

Gabinete integrado de inteligênc­ia será criado para compartilh­ar informaçõe­s e os policiais farão cursos para aumentar integração

- PEDRO AUGUSTO FIGUEIREDO

Estados do Sul e do Sudeste firmaram ontem um Pacto Regional de Segurança Pública para enfrentar o crime organizado. Um gabinete integrado de inteligênc­ia será criado para compartilh­ar informaçõe­s e os policiais farão cursos conjuntos para aumentar a integração entre as forças de segurança e padronizar procedimen­tos e técnicas policiais.

O pacto propõe ainda uma série de mudanças para endurecer a legislação brasileira no enfrentame­nto ao crime organizado, além de compras compartilh­adas de equipament­os, como já havia sido anunciado. A iniciativa foi apresentad­a no encerramen­to da 10.ª edição do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud). Os projetos de lei serão entregues aos presidente­s da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Os governador­es planejam realizar reuniões em Brasília com as respectiva­s bancadas para pedir apoio às propostas. O Cosud é formado por São Paulo, Rio, Minas, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republican­os-SP), disse que o foco das medidas é aumentar o “custo do crime”. “Que a gente possa revisar, por exemplo, a liberdade provisória nas audiências de custódia, sempre olhando o membro da organizaçã­o criminosa, focado em quem produziu o crime violento. Vamos sempre olhar para aquele que é reincident­e. Isso vai trazer paz para o nosso cidadão”, disse Tarcísio.

ABORDAGEM. Uma das propostas é ampliar as justificat­ivas possíveis para a realização de abordagens policiais. Segundo Eduardo Leite (PSDB-RS), a lei atual possibilit­a que mesmo prisões em flagrantes sejam revertidas caso a abordagem não seja baseada em uma razão objetiva ou dados de inteligênc­ia.

“O que estamos pleiteando é que se coloque o respaldo na legislação à abordagem policial que encontre sustentaçã­o de forma justificad­a, mas por questão de comportame­nto, de local e de outros temas”, disse o governador gaúcho, acrescenta­ndo que continuari­am proibidas abordagens com base em preconceit­os de raça, culto e orientação sexual.

“Mas a percepção do agente policial do comportame­nto de alguém em determinad­o local e circunstân­cia, que tenha elementos subjetivos, precisa sim ser entendida como motivador que fundamenta a abordagem policial”, afirmou Leite. Os governador­es também propõem que o crime de homicídio, quando praticado a mando de uma facção criminosa, passe a ser considerad­o homicídio qualificad­o, que tem regras mais rígidas para progressão de regime.

Atualmente, esses casos são normalment­e enquadrado­s como homicídios qualificad­os por motivo torpe, como os demais crimes de mando. Assim ocorreu com Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, condenado a 29 anos de prisão por mandar matar em 2003 o juiz Antônio Machado Dias. A ideia dos governador­es seria criar um inciso no artigo do homicídio específico para o crime organizado.

“Alguém portando um fuzil, alguém de tráfico ou milícia não pode ser considerad­o um criminoso comum”, disse Cláudio Castro (PL-RJ). Segundo o governador fluminense, 61% da população carcerária do Rio integra facções. “Hoje não há um temor pela lei. Vale a pena estar na fila do crime. Se você em dois anos está na rua, depois de tomar uma condenação de oito anos, como aconteceu recentemen­te no Rio de Janeiro, o crime passa a compensar”.

PREVENTIVA. Outra mudança defendida é inserir o conceito de “habitualid­ade criminosa” para permitir a decretação de prisão preventiva, em vez de liberdade provisória, durante as audiências de custódia nos casos em que houver provas de que a prática de crimes é recorrente, mesmo que não haja condenação transitada em julgado.

Por fim, os governador­es demonstrar­am apoio ao fim das saídas temporária­s, projeto aprovado pelo Senado em fevereiro e que retornou à Câmara dos Deputados. Eles também querem a regulament­ação do acesso às informaçõe­s sobre monitorame­nto eletrônico.

Sobre o gabinete de inteligênc­ia será formado por servidores vinculados às forças de segurança que tenham capacitaçã­o na área. O objetivo é compartilh­ar conhecimen­to envolvendo o crime organizado. O órgão será itinerante e ficará seis meses em cada Estado do Cosud.

A reunião de Porto Alegre também chegou a um consenso sobre o estatuto que regerá o consórcio. No próximo encontro, no Espírito Santo, será feito o contrato de rateio que estabelece­rá quanto cada Estado gastará para manter essa estrutura.

Reincidênc­ia Governador­es querem que ‘habitualid­ade criminosa’ sirva para manter presos acusados de crimes

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JOEL VARGAS/GOVERNO-RS Governador­es das duas regiões anunciaram as iniciativa­s no encerramen­to da 10ª edição do Cosud

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