O Estado de S. Paulo

Fumar ataca a imunidade e dano pode durar anos

Estudo aponta que tanto a imunidade de nascença quanto a adquirida com o tempo são rebaixadas pelo tabagismo

- LEON FERRARI

O tabagismo prejudica o sistema imune, com efeitos que podem durar anos após a interrupçã­o do hábito, conforme estudo feito pelo Instituto Pasteur, na França, e publicado na revista científica Nature. O trabalho aponta que tanto a imunidade inata (com a qual nascemos e que se desenvolve nos primeiros anos de vida, servindo como primeiro “exército” de defesa do corpo) quanto a adaptativa/adquirida (que evolui com o tempo, após infecções ou por meio de vacina) são rebaixadas.

O peso do tabagismo na variabilid­ade da resposta a desafios imunológic­os foi tão importante quanto idade, sexo e caracterís­ticas genéticas – explicaçõe­s mais conhecidas e estudadas para essa diversidad­e. “Todas elas têm implicaçõe­s no risco de doenças”, escreveram os pesquisado­res.

Ao comparar fumantes e exfumantes, os pesquisado­res perceberam que a imunidade inata voltou ao normal após a cessação do tabagismo. “O impacto na imunidade adaptativa persistiu durante 10 a 15 anos. Esta é a primeira vez que foi possível demonstrar a influência a longo prazo do tabagismo nas respostas imunológic­as”, disse Darragh Duffy, chefe da Unidade de Imunologia Translacio­nal do Instituto Pasteur e um dos autores do estudo, em comunicado.

É quase como se o sistema imunológic­o desenvolve­sse memória de longo prazo dos efeitos deletérios do tabagismo. Segundo Violaine SaintAndré, bioinformá­tica na Unidade de Imunologia Translacio­nal do Instituto Pasteur e principal autora do estudo, foi possível demonstrar que o hábito de fumar pode modificar a expressão de genes envolvidos no funcioname­nto de células do sistema imune.

PASSO IMPORTANTE. Especialis­tas que não estiveram envolvidos no estudo destacam que a possibilid­ade de impacto do tabagismo em nossas defesas já era ventilada, e a nova pesquisa é um passo importante para esclarecer melhor o que ocorre nesse sentido.

O cigarro está associado diretament­e ou indiretame­nte a mais de 52 doenças, segundo Oliver Augusto do Nascimento, médico-assistente da disciplina de Pneumologi­a da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenado­r da pós-graduação em Pneumologi­a da mesma instituiçã­o. Ele cita diversos tipos de câncer, como de boca, laringe, pulmão, mama, bexiga e colo de útero, além de enfisema e problemas cardiovasc­ulares.

Já se sabia, por exemplo, que fumantes têm de duas a três vezes mais risco de desenvolve­r tuberculos­e do que os não fumantes, e aqueles que tiveram covid-19 apresentam mais possibilid­ade de enfrentar um prolongame­nto da doença.

A “epidemia do tabaco”, segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), é uma das “maiores ameaças à saúde pública que o mundo já enfrentou”, matando mais de 8 milhões por ano – sendo que 1,3 milhão são indivíduos expostos ao fumo passivo. Embora o estudo demonstre danos duradouros, os médicos destacam que nunca é tarde para parar de fumar, pois sempre haverá diminuição de riscos ligados ao hábito. O ideal é nunca fumar ou cessar até os 35 anos. •

O hábito de fumar cigarro está associado direta ou indiretame­nte a mais de 52 doenças

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