O Estado de S. Paulo

Em carta, ONG pede ao rei Charles liberdade aos pombos-correio

ONG ‘resgata’ três pombos que eram mantidos em propriedad­e real e seriam usados em competição

- JENNIFER HASSAN THE WASHINGTON POST

Ativistas pelos direitos dos animais contaram ter “resgatado” três pombos-correio que estavam mantidos na propriedad­e do rei Charles – e estão pedindo ao monarca que corte laços com o que chamam de “passatempo arcaico e muitas vezes fatal” da corrida de pombos.

Os três pássaros – que estavam alojados em um pombal real em Sandringha­m, o retiro campestre de Charles – foram leiloados para arrecadar dinheiro para a caridade, como parte de um encontro anual de criadores de pombos no Reino Unido organizado pela Real Associação de Corrida de Pombos.

A ONG Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (Peta, na sigla em inglês) comprou os pássaros em janeiro por 1.500 libras (cerca de R$ 9,4 mil) e os levou para um santuário de pombos, disse um porta-voz da organizaçã­o ao jornal Washington Post.

“Os pombos são animais bondosos e leais que são tão inteligent­es que foram uma vez confiados por nosso Exército para entregar mensagens vitais, ainda que pessoas cruéis os estejam fazendo voar até a morte por entretenim­ento”, disse Kate Werner, gerente de campanhas da Peta, em um e-mail.

A Peta enviou uma carta ao rei na semana passada, instando-o a considerar transforma­r o pombal real, que remonta a 1886, em um “refúgio” para os “magníficos pássaros”, em vez de expô-los ao que o grupo diz ser uma super reprodução e aos perigos da corrida – incluindo condições climáticas severas, exaustão, desorienta­ção e predadores.

Um porta-voz de Sandringha­m disse, em um e-mail, que a propriedad­e real “mantém um pombal há quase 150 anos e segue todos os padrões e regulament­os necessário­s”. O pombal real estaria recebendo um “upgrade palaciano” sob a rainha Elizabeth II anos atrás, projetado para levar luz natural para que os pássaros pudessem “tomar sol” e “poleiros em forma de escada de luxo” para ajudá-los a serem ativos e sociais.

A Peta está tentando chamar a atenção para o esporte, que há muito faz parte da história do país, ao usar o rei, possivelme­nte o proprietár­io mais conhecido de pombos-correio na sociedade britânica.

Na corrida de pombos, os pássaros são lançados juntos de um local de partida, conhecido como “ponto de libertação”, e o primeiro pássaro a voltar para casa – onde quer que seja – vence.

MENOS INTERESSE. Embora tenha sido popular entre a realeza e os britânicos comuns, o passatempo tem visto o entusiasmo diminuir nos últimos anos. Especialis­tas citam menos interesse das gerações mais jovens e uma burocracia cada vez mais complexa após o Brexit para competiçõe­s internacio­nais dentro da Europa – onde os países europeus tratarão os pombos como importaçõe­s mesmo se eles voarem imediatame­nte de volta para a Inglaterra em uma corrida.

A família real tem criado pombos em Sandringha­m há décadas, de acordo com a Real Associação de Corrida de Pombos – que observa que pássaros do pombal real foram usados como pombos-correio para entregar mensagens durante a 1ª Guerra e a 2ª Guerra, antes de voltar para a corrida.

A RPRA afirma que há 160 pombos maduros no pombal real, juntamente com 80 pombos jovens. Enquanto alguns são usados “apenas para reprodução”, a maioria é usada para corridas.

Elizabeth, que morreu em 2022, era patrona de várias sociedades de corrida de pombos, incluindo a RPRA e o Clube Nacional de Voo. Ela mesma participav­a com os pássaros de competiçõe­s nacionais – embora também tenha enfrentado críticas de ativistas pelos direitos dos animais por seu envolvimen­to no esporte.

O apelo da Peta ao rei incomodou alguns na comunidade de corrida de pombos. “Nós nos opomos totalmente à afirmação de que a corrida de pombos é um esporte cruel”, disse Chris Sutton, diretor da RPRA, observando que a saúde e o bem-estar dos pombos de corrida são primordiai­s para a organizaçã­o.

Antes de começar a competição, os pombos de corrida recebem “treinament­o e suporte necessário­s”, disse Sutton, acrescenta­ndo que as corridas são realizadas “no momento apropriado e nas condições climáticas mais seguras”.

Elizabeth II, que morreu em 2022, era patrona de várias sociedades de corrida de pombo

Sutton disse que os pássaros recebem um “ambiente seguro e adequado” ao longo de sua vida e, antes de entrar em uma corrida, eles são examinados por um veterinári­o para garantir que atendam aos requisitos estabeleci­dos pelos órgãos governamen­tais.

Mas o esporte não está isento de riscos. Os pássaros frequentem­ente voam longas distâncias depois de serem soltos de locais específico­s. As corridas podem ter até mil quilômetro­s, de acordo com a Peta. Algumas corridas exigem que os pombos voem para casa no Reino Unido através do Canal da Mancha a partir de pontos de partida na França, Bélgica ou Espanha, disse a Peta, observando que alguns corredores se referem ao canal como “um cemitério”. •

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PETA/DIVULGAÇÃO Um dos pombos-correio resgatados em imagem divulgada pela ONG; aves do pombal real foram usadas durante as duas grandes guerras
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PETA/DIVULGAÇÃO ONG tenta chamar a atenção para esporte envolvendo a ave

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