Em carta, ONG pede ao rei Charles liberdade aos pombos-correio
ONG ‘resgata’ três pombos que eram mantidos em propriedade real e seriam usados em competição
Ativistas pelos direitos dos animais contaram ter “resgatado” três pombos-correio que estavam mantidos na propriedade do rei Charles – e estão pedindo ao monarca que corte laços com o que chamam de “passatempo arcaico e muitas vezes fatal” da corrida de pombos.
Os três pássaros – que estavam alojados em um pombal real em Sandringham, o retiro campestre de Charles – foram leiloados para arrecadar dinheiro para a caridade, como parte de um encontro anual de criadores de pombos no Reino Unido organizado pela Real Associação de Corrida de Pombos.
A ONG Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (Peta, na sigla em inglês) comprou os pássaros em janeiro por 1.500 libras (cerca de R$ 9,4 mil) e os levou para um santuário de pombos, disse um porta-voz da organização ao jornal Washington Post.
“Os pombos são animais bondosos e leais que são tão inteligentes que foram uma vez confiados por nosso Exército para entregar mensagens vitais, ainda que pessoas cruéis os estejam fazendo voar até a morte por entretenimento”, disse Kate Werner, gerente de campanhas da Peta, em um e-mail.
A Peta enviou uma carta ao rei na semana passada, instando-o a considerar transformar o pombal real, que remonta a 1886, em um “refúgio” para os “magníficos pássaros”, em vez de expô-los ao que o grupo diz ser uma super reprodução e aos perigos da corrida – incluindo condições climáticas severas, exaustão, desorientação e predadores.
Um porta-voz de Sandringham disse, em um e-mail, que a propriedade real “mantém um pombal há quase 150 anos e segue todos os padrões e regulamentos necessários”. O pombal real estaria recebendo um “upgrade palaciano” sob a rainha Elizabeth II anos atrás, projetado para levar luz natural para que os pássaros pudessem “tomar sol” e “poleiros em forma de escada de luxo” para ajudá-los a serem ativos e sociais.
A Peta está tentando chamar a atenção para o esporte, que há muito faz parte da história do país, ao usar o rei, possivelmente o proprietário mais conhecido de pombos-correio na sociedade britânica.
Na corrida de pombos, os pássaros são lançados juntos de um local de partida, conhecido como “ponto de libertação”, e o primeiro pássaro a voltar para casa – onde quer que seja – vence.
MENOS INTERESSE. Embora tenha sido popular entre a realeza e os britânicos comuns, o passatempo tem visto o entusiasmo diminuir nos últimos anos. Especialistas citam menos interesse das gerações mais jovens e uma burocracia cada vez mais complexa após o Brexit para competições internacionais dentro da Europa – onde os países europeus tratarão os pombos como importações mesmo se eles voarem imediatamente de volta para a Inglaterra em uma corrida.
A família real tem criado pombos em Sandringham há décadas, de acordo com a Real Associação de Corrida de Pombos – que observa que pássaros do pombal real foram usados como pombos-correio para entregar mensagens durante a 1ª Guerra e a 2ª Guerra, antes de voltar para a corrida.
A RPRA afirma que há 160 pombos maduros no pombal real, juntamente com 80 pombos jovens. Enquanto alguns são usados “apenas para reprodução”, a maioria é usada para corridas.
Elizabeth, que morreu em 2022, era patrona de várias sociedades de corrida de pombos, incluindo a RPRA e o Clube Nacional de Voo. Ela mesma participava com os pássaros de competições nacionais – embora também tenha enfrentado críticas de ativistas pelos direitos dos animais por seu envolvimento no esporte.
O apelo da Peta ao rei incomodou alguns na comunidade de corrida de pombos. “Nós nos opomos totalmente à afirmação de que a corrida de pombos é um esporte cruel”, disse Chris Sutton, diretor da RPRA, observando que a saúde e o bem-estar dos pombos de corrida são primordiais para a organização.
Antes de começar a competição, os pombos de corrida recebem “treinamento e suporte necessários”, disse Sutton, acrescentando que as corridas são realizadas “no momento apropriado e nas condições climáticas mais seguras”.
Elizabeth II, que morreu em 2022, era patrona de várias sociedades de corrida de pombo
Sutton disse que os pássaros recebem um “ambiente seguro e adequado” ao longo de sua vida e, antes de entrar em uma corrida, eles são examinados por um veterinário para garantir que atendam aos requisitos estabelecidos pelos órgãos governamentais.
Mas o esporte não está isento de riscos. Os pássaros frequentemente voam longas distâncias depois de serem soltos de locais específicos. As corridas podem ter até mil quilômetros, de acordo com a Peta. Algumas corridas exigem que os pombos voem para casa no Reino Unido através do Canal da Mancha a partir de pontos de partida na França, Bélgica ou Espanha, disse a Peta, observando que alguns corredores se referem ao canal como “um cemitério”. •