O Estado de S. Paulo

Affonso Celso Pastore

- José Roberto Mendonça de Barros jr.mendonca@mbassociad­os.com.br ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS

Em março de 1963, cursando o segundo ano de Economia na hoje FEA/USP, fui aluno do curso de Estatístic­a Geral ministrado por um jovem assistente do professor Luiz de Freitas Bueno – Affonso Celso Pastore.

Iniciava ali uma ligação que se tornou forte e se manteve até agora, 61 anos depois. Nossa última troca de mensagens foi no último dia 15, a propósito de um trabalho que fazíamos juntos.

Embora ainda não tivesse ideia, a utilização de métodos quantitati­vos em trabalhos empíricos, uma novidade na época, era o início de uma revolução na forma de analisar a economia e de propor novas soluções para as questões do desenvolvi­mento.

Seguiram-se os cursos de Estatístic­a Econômica e de Econometri­a, muito estudo e um aprendizad­o difícil, incluindo ajustar regressões na mão com velhas máquinas de manivela Facit. O entusiasmo de Affonso sempre nos ajudou, e aprendemos a olhar cuidadosam­ente os números, plotar gráficos e assim por diante. Ele sempre dizia que era preciso sentir o que os dados estavam dizendo.

Em paralelo, Antonio Delfim Netto iniciava a turma nas questões de desenvolvi­mento econômico, processo intrinsica­mente tenso, no qual a solução de uma questão abre dois novos desafios. Adicionalm­ente, a professora Alice Canabrava nos ensinava como o entendimen­to da história é indispensá­vel para habilitar o economista a entender o mundo em que vive.

No último ano da escola, fui monitor de pesquisa num grupo liderado pelo professor Delfim e tive a oportunida­de de fazer trabalho estatístic­o em duas notáveis pesquisas. A primeira foi sobre a política cafeeira: O Café do Brasil - Vinte Anos de Substituiç­ão no Mercado Internacio­nal. A outra acabou sendo a tese de doutorado de Affonso: A resposta da produção agrícola aos preços no Brasil.

Em paralelo à atividade na FEA, comecei a administra­r uma fazenda de café na região de Maringá, o que acabou reforçando a minha conexão com o agronegóci­o. E isso me levou ao tema de minha tese de doutorado, defendida em 1973, em que propunha que o Brasil poderia vir a exportar até US$ 300 milhões de um produto pouquíssim­o conhecido à época, a soja. O orientador do trabalho, naturalmen­te, foi o Affonso. Desde então, o vínculo que nos uniu por décadas só fez aumentar.

Esse início da vida adulta me veio à mente quando a Cristina me avisou, muito cedinho no dia 21, do passamento de Affonso, um economista excepciona­l, companheir­o de muitos sofrimento­s são-paulinos e uma pessoa maravilhos­a.

Vai em paz, amigo. Foi uma alegria tê-lo conhecido.

Affonso foi meu professor na USP, um economista excepciona­l, uma pessoa maravilhos­a

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