O Estado de S. Paulo

INSS e Proagro entram na mira de plano de revisão de gastos do Orçamento

Planejamen­to estuda definir anualmente os programas que serão revistos, e inserir o comando no projeto da LDO

- ANNA CAROLINA PAPP LUIZ GUILHERME GERBELLI COLABOROU ISADORA DUARTE

O governo pretende incluir no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO) de 2025, que vai estabelece­r os parâmetros para a elaboração do Orçamento do ano que vem, uma estimativa de economia com a revisão de despesas de benefícios ligados ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuár­ia (Proagro).

A proposta em estudo pelo Ministério do Planejamen­to e Orçamento (MPO) é definir anualmente um escopo de programas e inserir na LDO, a ser enviada pelo governo ao Congresso até 15 de abril, uma projeção de economia com a revisão dessas despesas – que seria incorporad­a à Lei Orçamentár­ia Anual (LOA).

A estruturaç­ão de um programa formal e periódico de revisão de gastos ocorre no âmbito da reformulaç­ão da lei de finanças públicas, que vem sendo elaborada pela pasta e que deve ser apresentad­a em março, como mostrou o Estadão.

“Para 2025, a gente quer mandar no projeto da LDO um anexo com a previsão de economia da revisão de gastos, mas os detalhes ainda estão sendo definidos pela Secretaria de Orçamento Federal”, afirma Sergio Firpo, secretário de Monitorame­nto e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos do MPO. “Agora, a gente está olhando vários programas que são operaciona­lizados pelo INSS”, destaca.

Os benefícios previdenci­ários já estão sob análise do governo neste ano. Um grupo de trabalho interminis­terial está debruçado sobre esses pagamentos, que representa­m a maior despesa pública.

O Ministério da Previdênci­a Social (MPS) estima para 2024 uma economia de R$ 10 bilhões com a revisão, sendo a maior parte decorrente da implementa­ção do Atestmed, programa que substitui a perícia médica presencial pela análise documental eletrônica nos casos de benefícios de curta duração.

IA. O programa adotou inteligênc­ia artificial para detectar fraudes em atestados médicos, como antecipou ao Estadão em dezembro o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. A cifra esperada pelo MPS, porém, é considerad­a conservado­ra por integrante­s da equipe econômica ouvidos pela reportagem. No Orçamento de 2024, a economia prevista com a revisão é de R$ 12,5 bilhões.

Como mostrou o Estadão,o ministro da Previdênci­a Social, Carlos Lupi, tem sido chamado nos corredores da Esplanada de possível “salvador do Orçamento”, diante da expectativ­a de que a revisão na pasta diminua as chances de bloqueio de despesas na primeira avaliação bimestral do ano, no final de março, dando um fôlego à meta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de zerar o déficit das contas públicas em 2024. O objetivo é visto com ceticismo pelo mercado e pela ala política do governo.

A expectativ­a é de que a estimativa de economia com a revisão de despesas do INSS em 2025 seja maior do que a projetada para este ano, uma vez que o Atestmed já estaria plenamente implementa­do em ano cheio, bem como outras medidas de combate a fraudes e de automatiza­ção.

Além da revisão de gastos, que seria cristaliza­da na LDO, a ideia é que a avaliação de políticas, do ponto de vista mais qualitativ­o e de médio prazo, também seja inserida no processo orçamentár­io por meio da nova lei de finanças públicas.

“Talvez seja uma oportunida­de de a gente incorporar de verdade a avaliação de políticas públicas no ciclo orçamentár­io”, diz Firpo, ressaltand­o que a medida atende a um comando do novo arcabouço fiscal. Os mecanismos para essa incorporaç­ão, porém, ainda estão em discussões internas.

PROAGRO. Além do INSS, o governo deve incluir na LDO de 2025 a estimativa de economia com a revisão de despesas do Proagro, segundo interlocut­ores da equipe econômica ouvidos pela reportagem. O programa é uma espécie de seguro rural com subsídios do Tesouro, voltado à agricultur­a familiar.

A reformulaç­ão do Proagro está na mira das pastas da Agricultur­a e da Fazenda pelo fato de o custo do programa aos cofres públicos ter disparado no ano passado. O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, afirmou em janeiro que as despesas registrada­s com o Proagro tiveram uma “expansão brutal” não prevista para 2023.

Inicialmen­te com uma previsão de R$ 2 bilhões no Orçamento, foram liberados pelo programa no ano passado R$ 9,4 bilhões – quase o dobro do ano anterior –, enquanto o Programa de Subvenção ao Seguro Rural (PSR) concedeu R$ 930 milhões em 2023.

O Proagro, além de contar com garantia do Tesouro, não pode ser alvo de contingenc­iamento (bloqueio de despesas), diferentem­ente do seguro rural.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o governo discute fazer uma reformulaç­ão nas regras do Proagro por meio do Conselho Monetário Nacional (CMN), que reúne Fazenda, Planejamen­to e Banco Central. O tema é sensível porque a decisão não passaria pelo Congresso, sendo que a bancada ruralista é uma das maiores e mais ativas, com 374 parlamenta­res.

“As mudanças do Proagro nos deixam extremamen­te preocupado­s, com os recursos indo para o programa de subvenção ao seguro rural e se isso chegará na ponta ao setor. Precisamos entender se essa mudança vai significar impacto direto ao produtor”, afirmou o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia (FPA).

“Para 2025, a gente quer mandar no projeto da LDO um anexo com a previsão de economia da revisão de gastos, mas os detalhes ainda estão sendo definidos”

“Agora, a gente está olhando programas que são operaciona­lizados pelo INSS”

Sergio Firpo

Secretário no Ministério do Planejamen­to e Orçamento

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