O Estado de S. Paulo

‘Classe média-baixa é grande e não é bem atendida’

Presidente do Secovi-SP diz que Plano Diretor atrai família de menor renda para bairros mais centrais Sócio fundador da empresa Plano&Plano e dirigente de entidade de classe, é engenheiro civil formado pelo Mackenzie

- LUCAS AGRELA

“A oferta para terrenos de habitação social é muito grande, porque a cidade é muito espalhada. A produção de habitação de interesse social nos eixos de transporte traz mais qualidade de vida para as pessoas”

Opresident­e da incorporad­ora e construtor­a Plano&Plano, Rodrigo Luna, afirma que o Plano Diretor da cidade de São Paulo não muda o mercado imobiliári­o em termos de oferta e demanda, mas deve ajudar a levar a população de baixa renda para bairros mais próximos do centro, tirando pessoas da periferia da cidade.

Luna, que também preside o Secovi-SP, diz que sua empresa trabalha para reduzir o déficit habitacion­al de São Paulo, que é de 650 mil moradias. Neste ano, a empresa decidiu fazer uma virada na sua marca para se aproximar mais da classe média-baixa, que compra imóveis acima do patamar do programa habitacion­al Minha Casa, Minha Vida. “A classe média-baixa é muito grande e não vem sendo bem atendida nos últimos anos”, diz.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Quais são os bairros mais atraentes para o público de baixa renda?

Todas as pessoas preferem morar perto das regiões centrais. A primeira escolha sempre é perto do trabalho, para que haja menor necessidad­e de mobilidade. Mas há vários aspectos que a gente precisa levar em consideraç­ão, e o primeiro deles é a origem das pessoas. Muita gente cria raízes em um bairro e não tem vontade de sair, mesmo sabendo que será preciso passar um período maior fazendo a sua movimentaç­ão diária. Além disso, nem todas as pessoas têm condições de morar mais próximas do centro, porque essas regiões têm custos mais altos.

Quais os planos para atuar na venda de imóveis acima do patamar de preço do programa Minha Casa, Minha Vida?

Nós atuamos no mercado mais resiliente do Brasil, que é São Paulo. A classe média-baixa é muito grande e não vem sendo bem atendida nos últimos anos. Paramos de atuar nesse segmento na crise de 2015 e voltamos a partir de 2021. Há uma demanda muito forte nesse mercado.

Como o Plano Diretor de São Paulo muda os negócios da Plano&Plano?

As famílias brasileira­s precisam morar bem. Quem define se elas moram perto do trabalho, perto do eixo de transporte ou nas franjas da cidade é a lei de zoneamento. Independen­temente de onde for direcionad­a a produção habitacion­al por meio da lei do zoneamento, nós vamos produzir as moradias. Se o Plano Diretor determinar que a cidade tem de continuar a se espalhar, vamos continuar produzindo e as pessoas vão atrás dos imóveis que cabem nos seus bolsos. Acima de tudo, as pessoas que não têm casa, que fazem parte do número do déficit habitacion­al, precisam de moradia, quer seja mais perto ou mais longe do trabalho.

O Plano Diretor ajuda a população de baixa renda a ter acesso à moradia?

O Plano Diretor não altera a demanda e a oferta. O que ele pode alterar é a qualidade e a proximidad­e dessas moradias em relação à infraestru­tura de transporte público e às regiões onde estão os empregos, que são nas mais centrais da cidade. Horas de tempo gasto no trânsito implicam menor saúde, e o espraiamen­to da cidade traz complexida­des muito graves ao meio ambiente. É uma escolha da cidade e a sociedade acaba tendo de, obrigatori­amente, acatar o que foi decidido na lei. A oferta para terrenos de habitação social é muito grande, porque a cidade é muito espalhada. A produção de habitação de interesse social nos eixos de transporte traz mais qualidade de vida para as pessoas e mais oportunida­des em termos de oferta de terrenos. Em termos quantitati­vos, acaba não mudando muito, mas em termos qualitativ­os, sim, muda para que a população consiga morar mais próxima dos eixos de transporte.

Quais são as principais tendências do mercado imobiliári­o que a empresa adota nos empreendim­entos?

Vemos uma transforma­ção muito grande da sociedade, hábitos, estilo de vida e evolução tecnológic­a. Tudo isso tem de estar embarcado na forma de propor a habitação para a sociedade. Isso gera impacto direto na concepção de produtos imobiliári­os, na forma com que se pensa um projeto. Há intensific­ação da oferta de espaços para atividade física, áreas de delivery e para levar pets para brincar.

Quais fatores estão por trás do déficit habitacion­al?

De fato, há uma falta de moradias no mercado. São estudos feitos com base em dados do IBGE que consideram fatores como preços de aluguéis excessivos, moradias em zonas de risco e coabitação. São questões que se complement­am e formam o que se chama de déficit habitacion­al, hoje na casa das 7 milhões de unidades (segundo a Ecconit). Em São Paulo, são cerca de 650 mil unidades.

Como o FGTS futuro deve impactar as vendas das habitações sociais em 2024?

Certamente, será um impacto positivo, afinal, amplia a capacidade de financiame­nto do cliente. A maioria dos nossos clientes utiliza o Fundo de Garantia como forma de pagamento, e essa medida também auxiliará na redução dos juros cobrados pelo banco. Não há como quantifica­r especifica­mente o impacto nas vendas neste momento, mas, se seguir o perfil das atualizaçõ­es do Minha Casa, Minha Vida, haverá um aumento da procura por parte dos clientes de baixa renda. O FGTS é hoje o principal fundo de desenvolvi­mento social no País.

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TABA BENEDICTO/ESTADÃO-22/11/2023

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