O Estado de S. Paulo

Pedidos de demissão batem recorde e chegam a 7,3 milhões em 2023

Número representa 34% dos 21,5 milhões de desligamen­tos no ano passado; para especialis­tas, desemprego baixo está entre os motivos

- AMANDA FUZITA

Em 2023, 7,3 milhões de trabalhado­res com carteira assinada pediram demissão, número que representa um recorde, de acordo com pesquisa da LCA Consultore­s, a partir de informaçõe­s do Ministério do Trabalho e Emprego. É o maior número de pedidos de demissão desde 2004, quando a pesquisa começou a ser feita. Em 2022, foram 6,8 milhões, e, em 2021, 5,6 milhões. No total, houve 21,5 milhões de desligamen­tos (incluindo as demissões feitas pelas empresas).

Segundo especialis­tas, dois fatores explicam a decisão: desemprego baixo e falta de perspectiv­a no emprego.

A média nacional de desemprego foi de 7,8% em 2023 – a menor em quase dez anos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) publicada no fim de janeiro.

Outro recorte dos mesmos dados, feito pela consultori­a Robert Half, consideran­do somente profission­ais com formação superior completa e mais de 25 anos de idade, mostra índice de demissão voluntária de 39%. Segundo Lucas Nogueira, diretor regional da Robert Half, a taxa de desemprego impacta nesse cenário. “Temos uma taxa de desemprego baixa. Para uma pessoa se recolocar, sendo ela qualificad­a (para determinad­as funções), ela se sente mais à vontade para pedir demissão e buscar uma nova oportunida­de de trabalho.”

Na visão de Nogueira, outra causa para os desligamen­tos voluntário­s é a falta de perspectiv­a. “O que você mais percebe para essas saídas voluntária­s é a falta de perspectiv­a de carreira.”

O turnover (taxa de rotativida­de) voluntário é um indicador crucial para as empresas, pois reflete a movimentaç­ão de trabalhado­res que decidem deixar a organizaçã­o por vontade própria. Em 2023, cerca de 25% das empresas enfrentara­m rotativida­de de funcionári­os entre 5% e 10%, enquanto 23% lideraram com taxa acima de 10%.

“Os índices de turnover não são apenas números, são reflexos de grande parte da saúde organizaci­onal. Por isso, é fundamenta­l compreendê-los, mas o fato é: a primeira e melhor maneira de prevenir a perda de talentos começa com um processo de recrutamen­to bem executado. A estratégia de retenção deve começar com o alinhament­o de expectativ­as já na sala de entrevista”, afirma Fernando Mantovani, diretorger­al da Robert Half.

JOVENS. No levantamen­to da LCA, a faixa etária mais recorrente associada a demissões voluntária­s é a dos mais jovens, entre 18 e 24 anos, representa­ndo 39,5% do total de desligamen­tos voluntário­s. O movimento é seguido por pessoas de até 17 anos e aqueles entre 25 e 29 anos, com 36,5% de incidência em cada faixa. Essa tendência pode ser atribuída à mudança de perspectiv­a dos jovens em relação ao futuro e à forma como percebem o papel do trabalho em suas trajetória­s pessoais e profission­ais.

Especialis­tas dizem que é fundamenta­l compreende­r os motivos por trás da tendência de demissões e ajustar as estratégia­s de recrutamen­to e retenção para se adequarem a essa nova realidade. A valorizaçã­o do bem-estar dos funcionári­os, o investimen­to em cultura organizaci­onal e a oferta de oportunida­des emergem como fatores cruciais, enumeram.

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