A oportunidade de entrar na Grande Pirâmide do Egito, sem sair de casa
Com sede em Harvard, Projeto Gizé criou tour virtual 3D, reunindo documentos e imagens espalhados pelo mundo
Uma iniciativa internacional com sede na Universidade Harvard (EUA), chamada de Projeto Gizé, reconstruiu em um modelo 3D a Grande Pirâmide e seus arredores, como devem ter parecido no Egito Antigo. Interessados em aprender mais sobre essa civilização, uma das mais importantes da história da humanidade, podem fazer o tour virtual acessando o site da iniciativa.
Pelo site, é possível fazer passeios pela Grande Esfinge, pelo interior da Pirâmide de Gizé e por túmulos da realeza egípcia. Em algumas visitas virtuais, o usuário pode ler também informações sobre as construções diretamente em português.
Hoje, documentos e imagens sobre o antigo Egito estão dispersos pelo mundo. Algumas relíquias desapareceram, foram destruídas ou roubadas. Ao longo dos séculos, muitas tumbas e monumentos foram desmanchados ou desgastados pelo clima.
A iniciativa se tornou uma forma de visualizar algumas das estruturas do Egito Antigo. Uma das intenções da iniciativa da reconstrução em 3D é tornar esse estudo acessível para vários estudantes – justamente em um momento que deve crescer o interesse, com o avanço do Grande Museu.
O tour pela Tumba de Ramsés I, por exemplo, permite explorar a câmara de sepultamento do rei e também conhecer um pouco mais sobre a história desse personagem. A família de Ramsés foi a responsável por construir grandes monumentos de pedra.
Ele governou por apenas 18 meses, mas teve um papel fundamental na estabilização do Egito, depois de uma ruptura trazida pelo Período de Amarna. Sua tumba é mais humilde em comparação a de outros reis, o que reflete sua origem de não realeza até se tornar o fundador de umas das dinastias mais importantes do antigo Egito.
O PROJETO GIZÉ. Com início em 2011, o projeto reúne, seleciona e apresenta registros do sítio arqueológico e de seu entorno. Esses dados foram utilizados para desenvolver o ambiente virtual do Gizé 3D, ou em inglês, Giza 3D.
De acordo com a apresentação do próprio site da iniciativa, o Projeto Gizé começou a partir de uma pequena equipe de Harvard que já tinha alguma experiência em dominar métodos de gerenciamento de informações arqueológicas com o Projeto dos Arquivos de Gizé do Museu de Belas Artes de Boston (EUA).
Entre 2010 e 2011, o apoio de uma fundação ajudou a digitalizar e postar a documentação da universidade de arqueologia online de forma gratuita. Mais tarde, veio a parceria com outras instituições do mundo que também tinham coleções relacionadas às Pirâmides de Gizé.
POLÊMICA RECENTE. Pirâmides atraem sempre atenção – e polêmicas. No início do ano, autoridades do Egito lançaram planos para reconstruir a
Pirâmide de Miquerino, a menor entre as três principais de Gizé, com blocos de granito que uma vez fizeram parte de seu exterior. E a reação inicial foi rápida – e dura.
Alguns estudiosos criticaram a ideia – que também não agradou ao público leigo. Um comentário online que foi amplamente repercutido por canais de notícias comparou o plano a uma tentativa de “endireitar a Torre de Pisa”. Outros se preocuparam que cobrir as conhecidas paredes de calcário com um novo revestimento teria o efeito de transformar o histórico local em uma imitação da Disneylândia.
A iniciativa foi anunciada por Mostafa Waziri, o secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, que a chamou de “o projeto do século” em um vídeo postado no dia 25 de janeiro nas redes sociais. Ele disse que o esforço, liderado por uma coalizão de especialistas egípcios e japoneses, começaria com pelo menos um ano de estudo.
Só depois uma equipe internacional decidiria se prosseguiria com a tentativa de restaurar os blocos de granito, que cobrem aproximadamente um terço da pirâmide em sua parte inferior. Sobre as críticas, disse à TV egípcia que são “conversas nas redes sem base na verdade”.
A Pirâmide de Miquerino foi construída para abrigar a tumba do rei Menkaure, que comandou o Egito há mais de 4 mil anos. É a única das três pirâmides de Gizé que foi envolta em vários níveis de granito de Aswan, uma pedra vermelha proveniente de pedreiras a mais de 880 quilômetros ao sul de Gizé.
Os estudiosos acreditam que a pirâmide nunca foi concluída após a morte do rei. Ao longo dos séculos, muitas das pedras de granito caíram ou foram removidas por diversos motivos, segundo Morgan Moroney, curadora assistente de arte egípcia, clássica e do antigo Oriente Próximo no Museu do Brooklyn. Mesmo nos tempos antigos, ela disse, pessoas reutilizavam esses blocos para construir monumentos ou casas próximas. Terremotos, erosões e vandalismos os desgastaram ao longo do tempo.
O debate sobre a pirâmide reflete uma tensão constante no campo da conservação: deve-se tentar voltar com estruturas antigas ao seu esplendor anterior ou minimizar a intervenção o máximo possível? Nesse ponto da discussão, também há os defensores do tour virtual – e os críticos, uma vez que a visitação também auxilia na manutenção.
Trabalho colaborativo Houve parceria com as instituições que também tinham coleções de itens das Pirâmides de Gizé
Expectativa crescente Grande Museu Egípcio, o maior do mundo, deve abrir este ano para visitação presencial
O QUE VEM POR AÍ. O projeto Menkaure faz parte de um investimento mais amplo na infraestrutura de Gizé, que inclui novos restaurantes e instalações para visitantes. O Grande Museu Egípcio, que supostamente custou US$ 1 bilhão e está em obras há duas décadas, é o ponto central.
Há três anos, o interesse por ele cresceu, após a Parada Dourada dos Faraós, que consistiu em uma procissão televisionada de 22 múmias reais que foram transferidas para o espaço. Sob o projeto do escritório irlandês Heneghan Peng, ele deve ser aberto neste ano, perto de Gizé, como o maior museu de todo mundo.