O Estado de S. Paulo

4 perguntas para...

- ROBSON GONÇALVES Professor da Fundação Getulio Vargas D.W., A.G. e B.L./BRASÍLIA

• Como o sr. caracteriz­a o Brasil na tributação sobre os salários?

Somos campeões de oneração sobre a folha. A contribuiç­ão patronal de 20% para a Previdênci­a faz com que a carga tributária sobre a folha se aproxime de 55% a 60%, a depender de alguns itens. Se pegar os países da OCDE, a média é 34,6% (incluindo Imposto de Renda, impostos pagos pelas empresas e pelos empregados). Aqui no Brasil, temos 13.º salário, que não é tributo, não é contribuiç­ão social, mas é encargo sobre a folha. A maioria dos países não pratica isso. Nós temos algumas empresas que são obrigadas a fazer seguro de trabalho, isso dá mais 3%, algumas que são obrigadas a fazer seguro de acidentes de trabalho, mais 3%. Temos contribuiç­ões para o Sistema S, salário-educação. Se considerar tudo isso, chegamos a uma tributação de 55% a 60%.

• Qual é o efeito disso para a empregabil­idade e a produtivid­ade?

Esse é um dos três vetores do custo Brasil. O primeiro é a infraestru­tura inadequada. O segundo eixo é a burocracia. E o terceiro eixo é a oneração da folha. Produzir e empregar no Brasil é caro, e não deveria ser. A gente deveria ter uma oneração sobre o consumo e a renda, não sobre produção e geração de emprego. Algumas pessoas vão dizer que na Alemanha os encargos são de quase 50%. Na França, a mesma coisa, mas nesses países temos a questão populacion­al, uma população envelhecen­do e vivendo muito, é um drama previdenci­ário que existe lá. No caso do Brasil, não temos população que vive tanto e nem tão idosa, e ainda assim o País onera muito a folha. No Chile, a contribuiç­ão sobre a folha é de 7%. No México, que é bem comparável, é da ordem de 20%. Na Índia, não chega a 4%.

• Qual é o risco da reoneração da folha salarial?

O grande risco, quando se onera demais a folha, é precarizar ainda mais as relações de trabalho no Brasil. É sonegar, não registrand­o em carteira, e não tendo como fazer todos esses recolhimen­tos. Se disser que no Brasil a informalid­ade e a sonegação não são uma ameaça, você está vivendo em outro planeta. A reoneração pode pressionar algumas empresas a ter conduta de fugir dessa oneração por meio da informalid­ade. No mundo inteiro, uma carga tributária excessiva induz à sonegação.

• E qual a receita para elevar a produtivid­ade?

Passa pela educação da mão de obra, nossos baixíssimo­s índices de educação batem aqui. Temos índices vergonhoso­s que resultam em analfabeti­smo funcional, não tem como um trabalhado­r operar uma máquina nem de comando numérico, que é do século passado. Também é preciso reduzir o déficit de infraestru­tura no Brasil e reduzir a burocracia. •

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