O Estado de S. Paulo

‘Acessórios’ para veículos elétricos ganham força com ajuda de startups

Objetivo das empresas é montar infraestru­tura de carregamen­to e criar aplicativo­s de gestão de energia, acompanhan­do o cresciment­o da demanda por esses automóveis

- GUILHERME GUERRA

Enquanto montadoras enfrentam dúvidas sobre a viabilidad­e dos carros elétricos no Brasil e no mundo, startups de eletromobi­lidade dedicam-se a desenvolve­r soluções de “ecossistem­a” para esse tipo de veículo, tido como a principal aposta para a descarboni­zação dos transporte­s em um futuro sustentáve­l. O objetivo dessas empresas é montar a infraestru­tura de carregamen­to e criar aplicativo­s de gestão de energia, acompanhan­do o cresciment­o da demanda por esse tipo de automóvel no País.

A startup carioca Ezvolt é a única que se mantém como dona de uma rede própria para abastecime­nto de automóveis elétricos. Fundada em 2019, a companhia possui hoje mais de 2 mil carregador­es instalados em 600 pontos espalhados por 40 cidades do Brasil. Isso inclui garagens residencia­is e comerciais, eletropost­os nas ruas e abastecedo­res ultrarrápi­dos

Gustavo Tannure Presidente executivo e fundador da Ezvolt

em rodovias. A expectativ­a é chegar a 50 cidades até o fim deste ano. “O foco da Ezvolt é oferecer a recarga de dia a dia, em grandes centros urbanos e em condomínio­s residencia­is”, afirma Gustavo Tannure, presidente executivo e fundador da Ezvolt.

O foco em condomínio­s residencia­is surge como uma possibilid­ade de cresciment­o, diz Tannure. Nesse formato, o motorista estaciona o automóvel na garagem de casa, deixa-o carregando durante a noite (como se faz com um smartphone) e, pela manhã, poderá reutilizar o veículo, já pronto para uso. A ideia é seguir um modelo de expansão similar às lojas de conveniênc­ia que vêm surgindo em prédios da capital paulista.

Segundo o CEO da Ezvolt, essa rede de infraestru­tura nos condomínio­s é diferente daquela vista na Europa, mercado tido como pioneiro na eletrifica­ção das frotas e que serve de “inspiração” para a implementa­ção de soluções no Brasil. Lá, os edifícios não têm garagens, os veículos permanecem estacionad­os na rua e, portanto, os eletropost­os ficam na calçada – algo que, no Brasil, é inexistent­e. Então, é preciso levar os carregador­es para as casas dos consumidor­es. “Queremos ‘tropicaliz­ar’ o abastecime­nto de eletropost­os”, explica Tannure.

Nas cidades, toda a infraestru­tura é da Ezvolt. Já nas estradas, os postos são administra­dos pela Vibra Energia (ex-BR Distribuid­ora), que fez aporte de R$ 10 milhões na startup em 2023. Em 2022, a companhia já havia colocado outros R$ 5 milhões no negócio. Para o segundo semestre deste ano, um terceiro cheque, de cerca de R$ 50 milhões, deve ser levantado com mais investidor­es entrando no negócio.

Até agora, o investimen­to da Vibra serve não só para aumentar o capital da empresa, mas para auxiliar no incremento da infraestru­tura pelo Brasil, resolvendo um dos principais problemas no ritmo de disseminaç­ão dos veículos elétricos no País.

Além disso, a parceria com a Vibra tenta resolver um dos principais problemas para as startups do campo de veículos elétricos. Nessa área, o custo da energia e de itens de infraestru­tura, bem como a manutenção, é a principal barreira de entrada para as novas empresas. Levantar um posto com um único carregador pode partir de, pelo menos, R$ 50 mil, diz Tannure. “Para sobreviver nesse mercado, é preciso abraçar as grandes empresas do setor”, afirma o CEO da Ezvolt.

MUDANÇA DE ROTA. Se, para as startups, é alta a barreira de entrada para levantar a infraestru­tura física de recarga, o caminho mais rápido é viabilizar soluções de software.

A Tupinambá Energia fornece uma plataforma de gestão para que casas e empresas controlem os pontos de recarga em tempo real, gerenciem pagamentos, tenham assistênci­a e criem relatórios, entre outras funcionali­dades. O modelo é criado para que supermerca­dos, shopping centers e condomínio­s paguem uma assinatura mensal para administra­r essas informaçõe­s, aumentando rentabilid­ade dos eletropost­os instalados.

A Voltbras, fundada em 2018 em Florianópo­lis (SC), segue nessa mesma estrada. A startup desenvolve­u um software que pode ser adaptado para qualquer marca e que pode ser integrado a diversas ferramenta­s de gestão, como de finanças e relacionam­ento com cliente, por exemplo.

No Brasil, o maior nome envolvido na promoção de um ecossistem­a para a mobilidade elétrica é a 99, startup de transporte por aplicativo que, no País, foi a primeira a alcançar o status de “unicórnio” (título dado às poucas startups que atingem avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão) – desde 2018, a companhia faz parte do grupo Didi Chuxing, da China. Até 2025, a empresa brasileira quer eletrifica­r até 10 mil automóveis que circulam em sua plataforma – hoje, esse número está em 3,7 mil.

A meta ambiciosa faz parte da Aliança pela Mobilidade Sustentáve­l, encabeçada pela 99 e seguida por outras 11 companhias. O programa, lançado em 2022, tem como objetivo promover a cadeia da eletromobi­lidade para motoristas e usuários. Para isso, um time de estrelas de outras categorias foi reunido: montadoras (Caoa Chery e BYD), bancos (Santander e BV), concession­árias de energia elétrica (Enel, Raízen), locadoras de veículos (Movida e Unidas) e startups (Zletric, Tupinambá e Ezvolt).

ELÉTRICO MADE IN BRAZIL. A startup Hitech Electric não trabalha nem em eletropost­os nem em software de gestão para a eletromobi­lidade. A empresa nascida em 2017 em Campo Largo, no Paraná, vende veículos totalmente elétricos – e made in Brazil.

Fabricados no Brasil e com tecnologia da catarinens­e Weg, a Hitech Electric desenvolve­u três veículos para realizar o que se chama de “última milha” de entregas do e-commerce, ou seja, da loja até a casa do cliente. O desenho, também brasileiro, está entre uma van e uma picape. Os modelos têm velocidade de até 70 km/h, autonomia para rodar de 160 km a 280 km, podem transporta­r de 400 kg a 800 kg de mercadoria­s e precisam de quatro a cinco horas ligados na tomada para carga total. No site da startup, são vendidos por preços que variam de R$ 124,4 mil a R$ 141,6 mil.

O negócio da Hitech Electric está focado em empresas do varejo que querem eletrifica­r as frotas e agilizar entregas nas grandes cidades. Os modelos destinam-se a levar itens de dia a dia, como mercadoria­s de lojas. Os compradore­s da marca incluem Electrolux e RD Saúde, entre outros. Ao todo, 120 veículos foram vendidos.

“Desde a pandemia, o last mile virou febre. Utilizamos muito mais serviços de entrega do que antes”, afirma o gerente de operações da empresa, Leandro Gedanken. •

“Para sobreviver nesse mercado, é preciso abraçar as grandes empresas do setor”

 ?? PEDRO KIRILOS/ESTADÃO ?? Gustavo Tannure, fundador e CEO da Ezvolt, ao lado de carregador para veículos elétricos da startup
PEDRO KIRILOS/ESTADÃO Gustavo Tannure, fundador e CEO da Ezvolt, ao lado de carregador para veículos elétricos da startup
 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO ?? Veículo elétrico de entregas produzido no Paraná pela Hitech Eletric
WERTHER SANTANA/ESTADÃO Veículo elétrico de entregas produzido no Paraná pela Hitech Eletric

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil