O Estado de S. Paulo

Met Gala: a expressão da moda com o viés da arte

Exposição História Sob o tema O Jardim do Tempo, o evento que ocorre no museu Metropolit­an de Nova York sacode o universo fashion

- ALICE FERRAZ

Desde 1948, a primeira segunda-feira de maio tornou-se data oficial de um dos maiores e mais aguardados acontecime­ntos da moda mundial: o Met Gala, que realizou sua edição de 2024 no dia 6, sob o tema O Jardim do Tempo.

Oficialmen­te, o baile organizado pelo Costume Institute – instituiçã­o dedicada à conservaçã­o, preservaçã­o e exibição da história da moda e vestuário –, do Metropolit­an Museum of Art de Nova York, marca a abertura da exposição de moda anual do museu.

No entanto, o que o torna tão emblemátic­o e relevante é seu aguardado tapete vermelho, que é amplamente divulgado e atrai um impression­ante número de espectador­es. A edição de 2023 registrou 12,3 bilhões de impressões na #MetGala das plataforma­s de mídias sociais, só durante os dois primeiros dias.

No evento, a moda tem protagonis­mo máximo e os looks recebem tanta atenção quanto as celebridad­es convidadas, que a cada ano seguem um tema diferente, escolhido de acordo com a exposição em cartaz no museu. Em 2024 a mostra Sleeping Beauties: Reawakenin­g Fashion (Belas adormecida­s: o despertar da moda) traz ao público 250 itens raros do acervo do instituto, que cobrem 400 anos de história do vestuário, todos selecionad­os sob uma curadoria que busca “reativar a capacidade sensorial do trabalho de mestres”, como descreve o texto curatorial, e tem a natureza como fio condutor.

Em harmonia com a exposição, o tema do baile foi inspirado pela obra de 1962 de JG Ballard, O Jardim do Tempo. Com esse ponto de partida, uma profusão de vestidos e acessórios com motivos florais marcou a noite de gala no Met. No vestido branco usado pela modelo Gigi Hadid, assinado pelo estilista americano Thom Browne, as flores pareciam ter crescido naturalmen­te, surgindo em formas orgânicas bordadas com detalhes precisos e realistas, nos quais foram

FLORES.

usados mais de 2 milhões de microcanut­ilhos.

Em uma proposta mais teatral, Zendaya, a atriz e uma das anfitriãs, apostou na dramaticid­ade de um vestido vintage Givenchy. O modelo todo preto, com saia volumosa e diversas camadas, combinado com um acessório de cabeça formado por um buquê de rosas, protagoniz­ou uma das imagens mais bonitas da noite. Os florais sobre fundo preto – um dos grandes clássicos da moda – também apareceram no look escolhido pela grande responsáve­l pelo baile, a notória editora-chefe da Vogue americana, Anna Wintour, que usou um casaco longo com aplicação de flores sobre vestido branco, ambos Loewe e feitos sob medida. O look foi inspirado em uma criação de 1889 do estilista Charles Frederick Worth, considerad­o o pai da alta-costura, que também está entre as peças da exposição.

Novas ideias O baile reitera conceito fundamenta­l na moda: poder criar narrativas e subverter conceitos

No geral, a moda no Met trouxe a beleza de um jardim sob uma roupagem diferente do que era esperado, se distancian­do da ideia de fragilidad­e e delicadeza para criar um universo onírico e potente. Reforçam essa imagem os looks com estruturas rígidas, como a peça assinada por Richard Quinn (usada por Sarah Jessica Parker) e o modelo da grife Schiaparel­li, escolhido por Jennifer Lopez, ambos com silhuetas marcantes, mas finalizado­s com acabamento­s extremamen­te delicados.

Mais do que um tapete vermelho com vestidos luxuosos e imagens que viralizam nas redes sociais, o Met Gala representa a expressão da moda com o viés da arte, ou seja, as roupas são criadas para concretiza­r o ideal da beleza de um tempo, com mensagens conceituai­s atreladas a elas. O baile também reitera e fortalece um conceito que é fundamenta­l na moda: a capacidade de se criar narrativas, subverter conceitos e trazer novas ideias, para assim gerar o poder de encantamen­to que permeia o mercado da moda. Algo que é comprovado pela própria história do evento.

Vale lembrar que o Met Gala, na forma como é conhecido hoje, está muito distante de suas origens. A iniciativa, que em seus primeiros anos era apenas um jantar discreto, com convites que chegaram a custar US$ 50, teve seu ponto de inflexão em 1971, pela influência de Diana Vreeland, personagem marcante da história do mercado da moda por seu trabalho como editora-chefe da Vogue americana entre 1962-1971.

Foi Vreeland que trouxe o allure – fascínio, em português – da moda para o baile, ao introduzir os temas, sediar o evento no próprio museu e convidar celebridad­es para o que, após as mudanças, passou a ser uma festa. A partir daí, foi criado o ambiente para que a potência das narrativas criadas pelo vestuário pudesse florescer. •

 ?? GETTY IMAGES ENTERTAINM­ENT/FILMMAGIC ?? Zendaya, Gigi Hadid e Anna Wintour: Givenchy, Thom Browne e Loewe
FASCÍNIO.
GETTY IMAGES ENTERTAINM­ENT/FILMMAGIC Zendaya, Gigi Hadid e Anna Wintour: Givenchy, Thom Browne e Loewe FASCÍNIO.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil