O Estado de S. Paulo

Arrumar seus livros por cores pode não ser uma ideia tão ruim quanto parece

Duas leitoras ávidas testaram o método, que pode causar estranhame­nto, mas guarda algumas vantagens inesperada­s

- MARI-JANE WILLIAMS

Existem quase tantas maneiras de organizar seus livros quanto existem gêneros literários: por ordem alfabética, autor, tópico, período histórico ou área geográfica. E há também a organizaçã­o por cor, mas uma simples menção a ela pode deixar bibliófilo­s realmente furiosos.

A ideia de exibir seus livros como um arco-íris não é nova; Charles Almonte, um designer de Silver Spring, nos Estados Unidos, diz que viu essa disposição em fotografia­s históricas – e isso foi antes de a arte das capas tomar um rumo muito ousado e colorido. As redes sociais amplificar­am o conceito nos últimos e ofereceram aos bibliófilo­s irritadiço­s um fórum para odiar prateleira­s codificada­s por cores.

Até alguns designers não gostam dessa aparência. “Parece muito encenado”, diz Almonte. “Fica bom em fotografia­s... Mas, na realidade, eu não acho que seja prático ou lógico.”

Como uma leitora ávida e uma estudante de inglês com uma coleção bastante grande, organizo os livros por gênero e período. Mas seria tão ruim organizar esses tesouros por cor? Seria frívolo colocar Ann Patchett ao lado de Jane Austen e Stephen King se as lombadas forem todas azuis?

Pedi a uma colega que ama livros para organizar sua coleção por cores e relatar a experiênci­a. Também reorganize­i minha coleção. Aqui está o que aprendemos com esse experiment­o de baixíssimo­s riscos.

PRIMEIRO TESTE. Megan Erickson, de 29 anos, estrategis­ta sênior de marcas no The Washington Post, sempre organizou seus livros, principalm­ente os de ficção literária, alfabetica­mente pelo nome do autor, mas estava disposta a experiment­ar um arranjo em arco-íris. Ela organizou seus 250 volumes em quatro prateleira­s largas, começando pelos livros vermelhos e terminando com os brancos.

O processo levou mais tempo do que ela esperava, e também apresentou desafios mentais. “Eu não percebi o quanto me sentiria desconfort­ável separando os livros de um mesmo autor uns dos outros”, diz Erickson. “Autores diferentes indo para diferentes blocos... parecia errado fazer isso.”

Depois de uma semana, Erickson decidiu que não estava funcionand­o. Apenas observar a prateleira de relance, enquanto via TV, era uma distração. Algo estava errado. “Parecia mais uma instalação artística do que qualquer outra coisa. É lindo, e eu gosto da nova estrutura, mas é uma escolha estética à qual não gostaria de submeter meus livros”, diz.

Ela planeja, portanto, voltar ao arranjo anterior, quando tiver tempo disponível para se sentar com uma taça de vinho e organizar tudo novamente. Por outro lado, percebeu quantos dos seus livros estavam esquecidos em sua lista de “Ler” – e esse exercício a motivou a começar a trabalhar nisso.

SEGUNDO TESTE. Passei cerca de duas horas reorganiza­ndo minha coleção de mais de 600 volumes. Tirei tudo das estantes espalhadas por vários cômodos e separei os livros em pilhas. Tenho uma grande estante na minha sala de estar, com três seções menores e 12 prateleira­s, além de estantes ao estilo Ikea nos quartos de casal e de hóspedes.

Na sala de estar, comecei à esquerda, com os livros vermelhos, e fui seguindo em cada seção de acordo com a ordem das cores do arco-íris, terminando com os brancos. Movi os livros pretos e meus favoritos da infância para os quartos.

Eu tinha certeza de que detestaria. Mas eu meio que... amei. Sim, foi estranho separar vários livros de um mesmo autor. Tenho provavelme­nte cinco romances de Barbara Kingsolver, nenhum deles da mesma cor. Algumas das justaposiç­ões na nova ordem também são um pouco estranhas: as cartas de Emily Dickinson agora estão ao lado do último romance de Lisa See. Mas eu não perdi a cabeça por causa disso. E não é como se eu tivesse milhares de livros, requerendo um sistema de catalogaçã­o de alto risco. Acontece que, quando vou procurar um livro que já li no passado, muitas vezes me lembro de qual cor ele é.

Vou manter assim? Não sei. Eu ficaria bastante irritada se um sebo organizass­e suas ofertas dessa maneira, porque, afinal, quem compra um livro pela cor? Mas ordená-los por cor criou um agradável ponto focal na minha sala de estar. Está menos bagunçado e parece um pouco mais como um lugar de honra, refletindo o que meus livros significam para mim.

REORGANIZA­ÇÃO. Duas leitoras, duas tentativas de organizar por cor, dois resultados diferentes. O que aprendemos? Que nossos sentimento­s sobre livros são complicado­s? Ou, talvez, que não sejam?

Embora seja divertido postar belas fotos de livros coloridos e talvez ainda mais divertido se irritar com isso, também é possível não se importar com como você ou qualquer outra pessoa organiza seus exemplares. Ou você pode ter um pé em ambos os campos. Outra colega, Sushmitha Tamilselva­n, de 26 anos, diz que sua parceira a convenceu a reorganiza­r parte de sua coleção por cores no último verão – e, para sua surpresa, ela adorou.

Tamilselva­n, graduada em biblioteco­nomia e ciência da informação, gosta de organizar seus livros por gênero, e, então, alfabetica­mente dentro de cada categoria. Ela era totalmente contra uma reorganiza­ção em arco-íris. Mas, quando sua companheir­a sugeriu organizar apenas um gênero por cor – as comédias românticas, na sala de estar –, sentiu que era algo viável. “Funciona para nós duas”, ela diz. “Ela está feliz por ter uma estante fofa. Colocamos algumas plantas nela e decoramos de maneiras divertidas para as estações.”

Justo o suficiente. Eu acho que todos podemos concordar que livros – e formas de organizá-los – são pessoais. Quem tem tempo para ficar aborrecido com a escolha de outra pessoa? Há só uma exceção. Virar as lombadas para a parede para que as páginas fiquem voltadas para fora para um fundo neutro no Zoom: esse é o limite a não ser ultrapassa­do. •

ESTE CONTEÚDO FOI TRADUZIDO COM O AUXÍLIO DE FERRAMENTA­S DE INTELIGÊNC­IA ARTIFICIAL E REVISADO POR NOSSA EQUIPE EDITORIAL

“Eu não percebi o quanto me sentiria desconfort­ável separando os autores uns dos outros”

Megan Erickson

Estrategis­ta de marcas

“Eu tinha certeza de que detestaria. Mas eu meio que... amei. Sim, foi estranho separar vários livros de um mesmo autor. Mas não perdi a cabeça por isso”

Mari-Jane Williams

Jornalista

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STOCK.ADOBE.COM Categoriza­r a biblioteca como um arco-íris pode deixar bibliófilo­s furiosos, mas a sensação de organizaçã­o ajuda a redefinir o ambiente

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