Schulz, líder no setor de compressores, se destaca e entra na mira do mercado
Empresa faz investimentos em tecnologia e desempenho, enquanto enfrenta desafios no setor; para Trígono Capital, trajetória da companhia é parecida com a da Weg
Em alta Nos últimos 7 anos, lucro líquido anual da empresa passou de R$ 40,1 milhões para R$ 277,9 milhões
Entre as mais de 400 companhias listadas na Bolsa brasileira, uma vem surpreendendo a gestora Trígono Capital. A casa, conhecida pela estratégia em empresas de baixa capitalização e com R$ 3 bilhões sob gestão, acompanha desde 2018 a Schulz – líder no setor de compressores que entrou recentemente no segmento automotivo, com o fornecimento de equipamentos para veículos pesados e máquinas agrícolas.
A catarinense Schulz foi fundada há 60 anos e está na B3 há três décadas. Nos últimos sete anos, o lucro líquido anual passou a crescer, saindo de R$ 40,1 milhões, em 2017, para R$ 277,9 milhões, no fim do ano passado – um salto de 593%. Atualmente, o caixa chega a R$ 794 milhões, para um endividamento de R$ 621,2 milhões.
A trajetória da Schulz é parecida com a caminhada de outra empresa do ramo industrial na Bolsa, também criada nos anos de 1960 e em Santa Catarina: a Weg, gigante de motores elétricos. Guardadas as devidas proporções – uma vez que Weg é avaliada em R$ 160,3 bilhões, enquanto a Schulz, em R$ 5,6 bilhões – as similaridades em termos de resultados fizeram com que a Trígono apelidasse a companhia de “Nova Weg”.
“Duas coisas brilharam nossos olhos em relação a Schulz: a primeira, é que somos bastante entusiastas do setor industrial brasileiro. A segunda: é uma empresa que tem investido muito em automação e tecnologia”, diz Pedro Carvalho, analista da Trígono.
Somente nos últimos cinco anos, a Schulz investiu R$ 712,6 milhões em novos maquinários e na integração de tecnologias no processo industrial. O arcabouço tecnológico é um diferencial que pode ter ajudado a empresa a atravessar, sem grandes impactos, um período difícil para o mercado de veículos pesados.
SEM CRISE.
Em 2023, a produção de caminhões e ônibus encolheu 37,5%, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Já as vendas cederam 16,4%, de acordo com Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O motivo para a retração está na mudança do padrão Euro 5, em que todos os caminhões eram obrigados a sair da fábrica com motores diesel capazes de tratar gases poluentes, para o Euro 6, que reduziu os limites de emissões de poluentes e tornou a fabricação e comercialização desses veículos mais cara.
Ainda assim, a Schulz conseguiu segurar os resultados. No ano passado, enquanto o mercado de caminhões encolhia quase 40%, a receita bruta da companhia caiu 8,5%, para R$ 2,3 bilhões. O lucro líquido, porém, cresceu 2,9%, para R$ 277,9 milhões. Apesar de ter começado com compressores, hoje mais de 70% das receitas é advinda da divisão automotiva, segundo Carvalho.
“É uma empresa que continua investindo e ainda gerou muito caixa. Hoje é ‘dívida líquida’ negativa”, diz o analista da Trígono. “Isto significa que o caixa supera todas as obrigações, o passivo circulante da empresa.”
Apesar dos resultados considerados positivos, as ações da Schulz caíram 13,3% neste ano, aos R$ 6,11. A desvalorização é reflexo do aumento das incertezas no mercado, tanto no cenário externo, em relação à política monetária nos EUA e conflitos geopolíticos, quanto no cenário interno, com o aumento dos riscos fiscais.
BALANÇO.
Neste mês, a Schulz também divulgou os resultados do 1.º trimestre de 2024. Apesar de fortes, ficaram aquém dos números obtidos no mesmo período do ano passado. Entre janeiro e março deste ano, a companhia registrou lucro líquido de R$ 60,4 milhões, 20% menor do que os R$ 75,9 milhões alcançados entre janeiro e março de 2023. A empresa explicou que, no 1.º trimestre de 2023, o mercado de caminhões estava ainda surfando a antecipação de produções, iniciada em 2022. Agora, o cenário continua adverso, com a adoção do padrão Euro 6. A retração do lucro trimestral não preocupa a Trígono Capital, que tem perspectivas positivas para a companhia no longo prazo.
Hugo Queiroz, sócio-diretor da L4 Capital, tem recomendação de compra para os papéis da companhia. “Com esses números impressionantes que a companhia entrega, dá para imaginarmos um potencial de alta de 30%”, afirma.
O especialista da L4 Capital ressalta a estrutura de capital “confortável” da empresa, com 80% de capital próprio e 20% de terceiros. A diversificação regional, principalmente com a exposição ao mercado asiático, que é considerado de forte crescimento e baixo custo, gera vantagens competitivas. “Com essa construção, ela consegue passar por ciclos positivos e negativos sem ter grandes desafios”, diz Queiroz.
Fábio Sobreira, analista da Rocha Opções de Investimentos, também tem recomendação de compra, com potencial de alta de 25%. “Acredito que a Schulz seja uma das boas empresas da Bolsa, com capacidade de pagar dividendos, acima de 11%”, afirma. •