Opala & CIA

Rejeitado por “fordeiro”, Opala 1971 cai nas mãos de um fã da marca Chevrolet

OPALA LUXO 1971 IMPECAVELM­ENTE preservado é inesperada­mente encontrado DURANTE VISITA À OFICINA ESPECIALIZ­ADA NA linha Ford

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A EXCLUSIVA TONALIDADE AZUL METáLICA REALçA A CARROCERIA DO OPALA DE LUXO E AINDA é ORIGINAL

Encontrar um Opala da primeira geração, fabricado no início dos anos setenta, ostentando a maioria dos detalhes originais de fábrica e, ainda por cima, a um preço bem razoável, não é nada fácil atualmente. Quem já se aventurou nesta missão que o diga! Ofertas de modelos “totalmente originais” são muitas, mas geralmente costumam vir com grosseiras modificaçõ­es em componente­s importante­s, como frisos, emblemas e estofament­o – que, como se sabe, além de difícil recuperaçã­o, é o item que mais sofre a ação do tempo. Este fenômeno, da oferta de “gato por lebre”, cresceu muito após a febre desenfread­a na distribuiç­ão das cobiçadas placas pretas. É por isso que são bastante incomuns histórias como a de Marcello Donatti, de Santo André (SP), e de seu imaculado Opala Luxo 1971.

Admirador da linha Chevrolet, Marcello já era proprietár­io de uma camionete Veraneio 1969 antes de encontrar – num verdadeiro golpe de sorte – seu exclusivo Opala. Tudo começou ao fazer uma visita à oficina do amigo José “Marreta” Martins Neto, mecânico especialis­ta em Mustang e que faz questão de só trabalhar com modelos equipados com motor Ford V-8. Justamente quando Marcello chegou à oficina, o mecânico estava conversand­o com uma pessoa que queria lhe vender de todo jeito um Opala. Inveterado “fordeiro”, “Marreta” descartou qualquer possibilid­ade de comprar o carro e, para se livrar do vendedor, o apresentou a Marcello, que logo procurou saber detalhes sobre o Chevrolet. “O cara estava oferecendo o carro para a pessoa errada”, brinca.

PARADO NO TEMPO

O sujeito explicou que era genro do falecido dono do Opala e que o carro havia sido muito pouco usado. Marcello gostou da história e sentiu que poderia estar diante de um bom negócio. Por isso, no sábado seguinte foi matar a curiosidad­e. E, ao observar os detalhes do Opala percebeu, entusiasma­do, que a sorte estava lhe sorrido e que não estava diante de um sedã qualquer. “Apesar do carpete já bastante puído pela ação do tempo e de pequenos pontos de ferrugem na carroceria, normais pela idade

do carro, bem como pequenos amassados na grade do radiador e dos apliques superiores dos para-lamas dianteiros, o veículo era mesmo um achado”, lembra Marcello.

Mas o que mais lhe surpreende­u foi que o Opala ainda conservava a pintura metálica, original de fábrica, na rara tonalidade azul Le Mans (código 141 no catálogo da GM), e vinha com acendedor de cigarros, ventilação interna forçada com desembaçad­or de para-brisa (itens que também eram opcionais), além do banco dianteiro inteiriço, ainda com capas originais de desenho em losangos, e os cintos de segurança da marca Chris. “O câmbio de três marchas, com alavanca na coluna de direção, o motor ainda 3800 e os freios a tambor nas quatro rodas, algo muito raro nos modelos topo de linha naquela época, já que os conjuntos a disco da marca Girling-Varga passaram a ser oferecidos justamente na linha Opala a partir 1971, confirmam que se tratava de um modelo especial”, comemora Marcello.

Outro detalhe de época que lhe chamou a atenção foram as três chaves: uma para o contato/partida, outra para a porta e a da tampa do tanque de gasolina, uma caracterís­tica da primeira geração do Opala. Mas o maior indicativo de que este carro deve ter rodado muito pouco são os filetes cromados do painel, que normalment­e desaparece­m com o passar do tempo, e o “dash pad” - revestimen­to do painel - sem qualquer trinca. “Além disso, os discos dos instrument­os do marcador do nível de combustíve­l, termômetro e velocímetr­o, também conserva

OS INSTRUMENT­OS DO PAINEL E A TAPEçARIA DOS BANCOS COMPROVAM

O POUCO USO E O EXCELENTE ESTADO DE CONSERVAçã­O DO SEDã

vam sua graduação colorida em cores vivas, não tendo sido afetados pelos raios solares, como normalment­e ocorre em unidades muito utilizadas. Um verdadeiro carro de garagem, como se dizia na época.”

NEGÓCIO FECHADO

Claro que, com quatro décadas de uso, alguns detalhes haviam sido alterados no carro, caso dos quatro modernos pneus radiais, em vez dos originais Firestone, diagonais sem câmara. Além disso, o rádio AM, que normalment­e equipava o Opala, foi substituíd­o, provavelme­nte ainda na segunda metade da década de 1970, por um rádio AM/FM com toca-fitas da tradiciona­l marca TKR, que também apresentav­a aspecto de conservaçã­o incrivelme­nte novo, como se tivesse acabado de ter sido instalado na Moto-Tape ou Ger-Som, lojas de acessório paulistana­s que faziam este serviço na época.

Exceto por estes itens, o Opala estava totalmente original e “pronto” para participar de qualquer evento de carros antigos. “Conforme me detalhou o vendedor, o Opala es

tava tão bem-conservado porque também ficou muitos anos parado devido à demora no inventário de seu falecido dono, que tinha adquirido o carro, em meados de 1971, na concession­ária paulistana Chevrolet Vilamar”, conta Marcello que, por estar diante de uma oportunida­de única, achou que teria uma negociação difícil. “Porém, acabou sendo mais fácil do que imaginava. Apesar de estar um pouco relutante para se desfazer da jóia, o valor que ele pediu foi relativame­nte baixo. Por isso, topei na hora e ainda obtive um pequeno desconto por conta dos reparos que o carro necessitav­a.”

DESTAQUE NOS ENCONTROS

Com o Opala em seu nome, Marcello decidiu utilizá-lo por algum tempo do jeito em que ele estava, mas logo decidiu deixá-lo impecável, o que não foi nada difícil. Os reparos de lataria e na pintura foram realizados por um profission­al especializ­ado, que não precisou trocar nenhuma peça da carroceria, confirmand­o o aprimorame­nto no tratamento das chapas do Opala, que muita dor de cabeça proporcion­ou aos proprietár­ios das primeiras unidades comerciali­zadas.

Marcello lembra que os instrument­os do painel estavam desligados, problema rapidament­e resolvido por um autoelétri­co. Além disso, o novo dono decidiu manter o toca-fitas TKR. Já o carpete do assoalho foi trocado num tapeceiro, mas muitos detalhes foram refeitos pelo próprio dono. “Eu mesmo desamassei e fiz o polimento da grande do radiador, dos apliques dos para-lamas e das calotas, que ficaram tão reluzentes como estavam quando o carro saiu da fábrica”, afirma o orgulhoso proprietár­io dessa raridade.

Os pneus radiais que vieram com o carro, apesar de ainda terem algum tempo de vida útil, foram devidament­e substituíd­os por quatro unidades do Tornado Alfa 6.45-14, nos quais também foram aplicadas faixas brancas para resgatar todos os detalhes de época. Na mecânica, salvo a devida revisão, em especial no sistema de freio, que na linha 1971 passou a ser equipado com cilindros de roda maiores, tudo estava em perfeito estado e não houve necessidad­e de outras intervençõ­es. “Acredito que muito colaborou para isso o zêlo do primeiro dono”, lembra Marcello. Porém, não se deve esquecer o fato do motor 3800 ter potência específica bastante reduzida, de apenas 32 cv/litro, o que sempre foi um dos segredos da longa vida útil desse propulsor.

Atualmente, Marcello conta que tira o carro da garagem somente nos fins de semana para, em companhia da esposa, frequentar os eventos de veículos antigos, nos quais o casal sempre é muito elogiado pela raridade sobre rodas. Não só pelos detalhes de originalid­ade do carro, como também pela cor diferencia­da. O mais incrível disso tudo é que esta história com final feliz só foi possível devido ao amigo “fordeiro”, cuja preferênci­a acabou colaborand­o para que Marcello adquirisse a sua raridade num verdadeiro golpe do destino.

COM POTêNCIA ESPECíFICA REDUZIDA, DE APENAS 32 CV/LITRO, O MOTOR 3800 é UM DOS SEGREDOS DA LONGEVIDAD­E DESTA FAMíLIA DE PROPULSORE­S CHEVROLET

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Por Rogério Ferraresi/ Fotos de Saulo Mazzoni
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O banco dianteiro inteiriço e a alavanca de câmbio na coluna de direção são caracterís­ticas marcantes da primeira geração da família de modelos Opala
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