Pais & Filhos

Marco Viana

- POR YULIA SERRA, filha de Suzimar e Leopoldo

O AUTOR DE “PAI PRA TODA OBRA” DESTACA COMO OS ACONTECIME­NTOS BANAIS DO DIA A DIA SÃO OS QUE REALMENTE MARCAM

O pai de Pietro e Lucas é advogado de formação e encontrou uma forma interessan­te de registrar as lembranças com os filhos desde os primeiros meses de vida. Há sete anos, ele anota, seja em um email ou no próprio bloco de notas do celular, momentos em família que valem a pena ser relembrado­s. Confira de onde surgiu essa ideia e os desdobrame­ntos dessa história.

O que para você é ser pai atualmente?

MARCO VIANA: Para mim, é participar da vida da criança desde sempre, nos cuidados, higiene, vida escolar. Ser pai é estar realmente junto, ter tempo e tempo de qualidade para fazer parte da vida da criança.

A quarentena mudou a sua relação com seus filhos?

MV: Pra mim, está sendo excelente. Como trabalho fora, agora tenho a oportunida­de de vê-los acordar, tomar café da manhã, ficamos mais tempo juntos e não só durante a noite, mas o dia também, porque entre uma reunião e outra consigo ficar com eles. Mas tem desafios também. Os dois se implicam muito, então acontece de estar no meio da reunião separando a briga.

Mas o saldo é muito positivo.

A chegada dos seus filhos mudou a sua relação com o trabalho?

MV: Mudou com certeza. Especialme­nte na chegada do segundo. Eu tive uma oportunida­de de cresciment­o na carreira, em que eu não agarrei para não perder tempo com ele. Eu sou o pai que gosta de dar banho, estar junto e o meu mais novo nasceu prematuro, precisava de ainda mais atenção. Eu já me sentia pai desde a primeira gravidez, em que perdemos um bebê, já nesse momento minha relação com o trabalho mudou.

E a sua relação com o seu pai?

MV: Mudou bastante. É um processo muito interessan­te, porque nos ajuda a compreende­r melhor os nossos pais. Quando você tem filhos, liga uma chave de preocupaçã­o 24h por dia. De alguma forma, você fica mais grato à dedicação que os seus pais tiveram com você. Às vezes, até desculpar ou aceitar uma falta do seu pai, que percebe hoje foi por limitação de tempo ou recurso. Ser pai me ajudou a melhorar ainda mais a relação com os meus pais.

Você sempre quis ser pai?

MV: Eu e minha esposa nos conhecemos desde os 13 anos, mas quando fizemos 18 anos viramos amigos e 19 começamos a namorar. E desde que começamos a namorar, foi uma vontade muito comum entre nós ser pais.

Ela nos deu confiança. Fizemos um tratamento em que minha esposa tinha que tomar injeção todos os dias. As duas gestações envolveram bastante preocupaçã­o.

Como lidar com o turbilhão de sentimento­s da paternidad­e?

MV: Não sei (rs)…

Quando a gente engravidou de novo, depois de perder um bebê, e a gravidez evoluiu veio um desespero louco: “E se eu morrer agora?”. Mandei uma mensagem para a empresa para saber quanto deixava de pensão para minha esposa, e insisti para um número. Eles me deram e eu pensei: “É muito pouco para minha mulher cuidar sozinha. Não posso morrer agora de jeito nenhum”.

Isso vai ao encontro de ter um cuidado maior comigo, não só por mim, mas por ter duas pessoas que dependem de mim.

O que mudou da sua paternidad­e em relação ao segundo filho?

MV: Foi mais difícil. O meu primeiro foi o centro das atenções da família toda, os avós paparicand­o, os pais também. Com a chegada do Lucas, quatro anos depois, tivemos muita preocupaçã­o com ciúmes. Usamos várias estratégia­s de falar enquanto estava na barriga, pedimos para o Pietro ajudar na escolha do nome... Mas mesmo assim eles disputam muita atenção, então complica nesse sentido. Administra­r o tempo é um desafio, mas têm situações muito bacanas também, os dois se defendem muito para o resto do mundo.

A sua vivência como pai te inspira a escrever?

MV: Demais! Desde que a gente engravidou, eu escrevo para os meninos. Meu pai um belo dia me falou: “Quando sua mãe foi parir você, eu sabia que era menino, porque vi uma pipa voando”. Eu fiquei com isso na cabeça e pensei: “Se você não escreve, acaba esquecendo”. Então eu tinha mania de escrever e enviar para minha esposa ou salvar no rascunho do e-mail. Comecei a melhorar, escrever coisas mais completas sobre situações que aconteciam com os meninos e fiz uma rede social (@resenhadep­ai) para publicar as crônicas de forma despretens­iosa. Muita gente passou a se identifica­r, então decidi escrever um livro.

Sobre o que você escreve?

MV: Desde coisas que acontecera­m no banho com eles, a palavra que os meus filhos trocam a sílaba, uma mudança de escola com o mais velho, até a formatura do fundamenta­l. São esses casos do dia a dia, nada de extraordin­ário, mas que são engraçados e marcantes do ponto de vista do relacionam­ento.

Você lançou o livro “Pai pra toda Obra”. Como foi o processo de escrita dele?

MV: No livro, eu acabei compilando as histórias que achei mais bacanas que escrevi no decorrer dos últimos oito anos, desde a gestação do Pietro. Não fiz mudanças no conteúdo, apenas dei uma roupagem melhor e consolidei em um lugar.

Como é a sua rede de apoio? De que forma te ajuda?

MV: Os últimos dois meses têm sido bem diferentes por conta da pandemia. Eu moro no mesmo prédio que meus pais, então meus meninos gostam muito de ir na casa dos avós, nós temos esse costume. Nossa rede de apoio é muito boa, eles só não participam mais por limitação de força.

Como tem sido passar a quarentena com seus filhos?

MV: Esse é um assunto que tem me preocupado bastante, porque o meu mais velho está ligeiramen­te traumatiza­do e não quer mais sair de casa. Desde a segunda quinzena de março, nos trancamos e é um desafio gigante manter os meninos entretidos. No início, eles amavam, mas chegou uma hora em que estavam muito inquietos. Por isso, começamos a descer na garagem para andar de bicicleta, carrinho de rolimã… Então, hoje, nossa rotina todo dia inclui umas duas horinhas em que descemos para alguma atividade. Essas brincadeir­as fazem uma diferença brutal no dia deles e também ajudaram a desapegar do celular.

O que os seus filhos mais te ensinam?

MV: A dar valor ao momento de hoje. Quando entramos na fase adulta, ficamos pensando no futuro, o que vai ser daqui 10, 20, 30 anos, ou ficamos remoendo o passado e nos perdemos do agora. Posso até citar uma passagem com o meu filho, em que estávamos na cama e falei para ele: “Vamos sonhar que estamos viajando, na piscina...”, ele então virou e respondeu: “Pai, vamos sonhar que estamos aqui”. Eu sou um cara muito ansioso e eles me trazem para viver o presente.

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