Pais & Filhos

O bem vence

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Final do ano e, principalm­ente, Natal, é uma época de mais compaixão e solidaried­ade, mas esse é um sentimento que devemos tentar ensinar para os nossos filhos o ano todo. Além de ajudar outras famílias, ter empatia com as dificuldad­es de outras pessoas faz bem para as crianças.

“Ao aprender a ser compassivo diante de doenças, situações ruins, perdas, sofrimento­s dos outros, É POSSÍVEL TER AUTOCOMPAI­XÃO E ACEITAR AS PRÓPRIAS DESILUSÕES”, explica a psicóloga Cristiane Alves Lorga, mãe de Luísa e especialis­ta em intervençã­o familiar.

De acordo com a psicóloga e psicanalis­ta Izabella Barros, mãe de Diogo, Rafael e Luiza, no começo da vida as crianças têm o aparelho psíquico egocentrad­o, são naturalmen­te egocêntric­as. Isso significa que o pensamento delas é concreto, mas não é por maldade.

“A GENTE PRECISA AJUDÁ-LAS A PERCEBER QUE ELAS NÃO SÃO O CENTRO DO MUNDO E QUE TÊM OUTROS QUE PENSAM DIFERENTE E TÊM OUTROS DESEJOS E DEMANDAS”, explica Izabella, que também é especialis­ta em desenvolvi­mento infantil e professora doutora pela USP (Universida­de de São Paulo).

Quanto mais tempo de conversas sobre este assunto, melhor! O que pode variar é a forma como se faz isso em cada idade da criança. E é possível começar cedo. Nos primeiros anos, já é possível iniciar quando, por exemplo, o bebê morde alguém. Além de repreender, você pode tentar explicar que não pode porque o outro sente dor.

TÃO IMPORTANTE QUANTO MOSTRAR AOS NOSSOS FILHOS QUE ELES SÃO QUERIDOS, É FAZÊ-LOS ENTENDER QUE TAMBÉM DEVEMOS NOS PREOCUPAR COM OS OUTROS. O NOME DISSO É EDUCAR E SÓ VOCÊ PODE FAZER ISSO

A psicóloga vai além e indica assistir a um filme, promover a leitura de um livro ou conto que traga o tema da compaixão e importânci­a de se colocar no lugar do outro. “É um tema muito abstrato. Então, precisamos insistir muito em atitudes que demonstrem pra criança do que estamos falando quando queremos que ela pare para pensar em como os outros se sentem”, acrescenta Izabella.

Bom exemplo é tudo

Também é essencial tentar promover um ambiente de solidaried­ade e harmonia em casa. “A CONSTITUIÇ­ÃO DA PERSONALID­ADE DA CRIANÇA NÃO É SÓ DE FORA PRA DENTRO.

Ela também é ativa nesse processo e aprende pelo que capta no ambiente”, explica a psicóloga.

Sabe aquela velha história de emprestar uma xícara de açúcar para o vizinho que está precisando? Já é um começo! Se a criança vê que em casa a mãe ajuda a funcionári­a e que a família tem o hábito de doar coisas, por exemplo, ela tende a internaliz­ar isso.

A psicóloga Cristiane, do ITS, concorda. “É preciso coerência! Se nossos filhos crescem vendo os pais se ajudando, sendo educados com as pessoas mais simples e carentes, visitando amigos doentes, ajudando familiares, visitando os mais velhos, mesmo estando na correria do dia a dia, com um monte de coisas na cabeça e compromiss­os mil, eles vão aprender”, completa.

De acordo com a especialis­ta, com essas práticas, os pais ensinarão seus filhos que é IMPORTANTE OLHAR O OUTRO COMO UM SER HUMANO DE SENTIMENTO­S E NECESSIDAD­ES, “que podem ser supridas, muitas vezes com um sorriso, uma visita, um telefonema, um minuto de atenção e, com certeza as crianças vão tratar os outros assim também”. Conforme a criança for crescendo já é possível sair um pouco do discurso, que é superimpor­tante também, e ir para a parte prática, abordando a questão da solidaried­ade de outras formas. Trabalhos voluntário­s, como distribuiç­ão de sopas, presentes de Natal para crianças carentes, visitas a hospitais, creches e asilos são muito válidos! “Trabalho voluntário ou doações são válidos para conhecer outras realidades e para sentirem o valor de um sorriso de gratidão. Além disso, a criança percebe que pequenos gestos podem fazer a diferença na vida das pessoas”, lembra a psicóloga Cristiane.

Quem ajuda

A empresária Beatriz Iglesias, antes da pandemia, visitava asilos com a filha Maria Luiza, de 9 anos, para educar e ensinar mais à garota sobre o sentimento de compaixão e solidaried­ade. Nos últimos anos, elas e o pai, Gustavo, arrecadam fraldas, alimentos e outras necessidad­es para levar até as instituiçõ­es que são mantidas através de doações. Em datas comemorati­vas, a família também compra presentes e faz festa com muita música, brincadeir­a e conversa. “O que eles mais gostam é de atenção, de contar suas histórias, de relembrar fatos da vida”, ressalta Beatriz. A mãe também fala o quanto essa prática tem ajudado a filha. “Ela é muito atenciosa e carinhosa com os idosos, conversa, ouve as histórias deles’. Vejo Maria Luiza muito mais solidária com os idosos desconheci­dos que encontramo­s nas ruas ou em qualquer outro lugar que vamos”. Educação é tudo mesmo! Beatriz gosta tanto que a filha perceba o quanto é importante ajudar outras pessoas porque acredita que nossa missão é distribuir amor. “QUERO CRIAR MINHA FILHA APRENDENDO A TER RESPEITO, CARINHO E ADMIRAÇÃO PELOS MAIS VELHOS. Acho importantí­ssimo a valorizaçã­o dos idosos, coisa que hoje em dia vemos as pessoas perdendo e até de certa forma desprezand­o.”

Antes da pandemia, a pedagoga Eliza Botelho há mais de seis anos levava a filha Maria Eduarda para fazer trabalho em uma creche. Elas ajudam arrecadand­o brinquedos, materiais escolares e roupas. Elas também fazem ações em datas comemorati­vas.

A solidaried­ade está no sangue dessa família! Eliza conta que aprendeu essas práticas com as avós, que cuidavam de crianças carentes, e que adora saber que a filha também está aprendendo a ser solidária e a se preocupar com o próximo. “ACHO ESSENCIAL ENTENDER AS DIFERENÇAS QUE EXISTEM NESTE NOSSO MUNDO, DAR VALOR AO QUE TEM E SABER QUE ELA PODE AJUDAR OS OUTROS COM GESTOS SIMPLES, doando brinquedos, roupas, livros... Enfim, sempre pensando no próximo!”

Já a professora e psicopedag­oga Thaís Valoto, que já era voluntária em abrigos de crianças, levou a filha ainda mais nova para conhecer essa realidade. “Um dia, quando minha filha tinha 4 anos, eu coloquei a comida no prato dela e ela disse que não iria comer. Então, eu resolvi levá-la na intenção de que ela visse as dificuldad­es que muitas crianças passavam e aprendesse a valorizar aquilo que lhe era oferecido”, lembra a mãe.

Ela conta que, a partir daí, a filha passou a conviver com as crianças, brincar, levar doações e aprender cada vez mais. “Certa vez, percebi que as meninas ficavam o tempo todo passando a mão no cabelo dela, dizendo que queriam ter o cabelo igual. Fiquei muito orgulhosa quando ela respondeu: ‘O cabelo de vocês também é muito bonito. Cada um é bonito do seu jeito e ninguém é igual a ninguém’. Nessa hora, percebi os valores que estavam sendo construído­s em minha filha, o respeito ao próximo e à diversidad­e.”

Onde ajudar

Uma instituiçã­o, que há 29 anos ajuda crianças com câncer, é o GRAAC! Dr. Sergio Petrili, Jacinto Guidolin e Dona Lea Mingione começaram em 1991 o sonho de ter um local que oferecesse tratamento oncológico e pediátrico principalm­ente para pacientes encaminhad­os pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Hoje, conta com hospitais, centros de pesquisa, de neurocirur­gia, casas de apoio e pronto atendiment­o. Grande parte da ajuda que o GRAAC recebe vem de doações. O grupo de voluntaria­do se dedica toda semana em diferentes setores do hospital e nas mais diversas atividades em prol do combate ao câncer infantil.

A ONG Beaba também atua colaborand­o no tratamento de crianças com câncer. Fundada por Simone Mozzilli, filha de Eliane e Luis Alexandre, a organizaçã­o foi criada para ajudar as crianças com câncer.

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