WATCH DOGS LEGION
A revolução está dentro de cada um
Já faz mais de uma década que os jogos da Ubisoft seguem a mesma fórmula, com leves variações dependendo da série (como você pode ver em Far Cry 6, nas próximas páginas). Watch Dogs faz parte desse trem que nunca para. Mas entre todas as séries, é a que mais tenta ter algo diferente – especialmente no segundo jogo, onde o clima bem leve e mais variedade causaram uma grande melhoria em relação ao ritmo chatíssimo e arrastado do original. Agora, com Legion, vem o que, pelo menos no papel, parece a maior novidade em jogos da Ubi em anos.
Recapitulando o básico: em Watch Dogs: Legion, um grande atentado terrorista fez muitas vítimas em Londres, e o governo chamou uma grande empresa paramilitar para ajudar a tornar a cidade segura. Essa empresa, Albion, é comandada por um homem sem nenhum escrúpulo chamado Nigel Cass, que adota uma atitude de tolerância zero em relação a todos os moradores da cidade. Há aqueles que apenas aceitam e os que sentem que precisam fazer algo contra o estado de vigilância constante.
Mas há uma esperança. O DedSec, grupo de hackers que aparece nos outros jogos da série, está recrutando qualquer pessoa para ajudar na causa e acabar com a tirania da Albion. Literalmente qualquer pessoa. Watch Dogs: Legion deixa você controlar qualquer pessoa do jogo, contanto que a convença do valor de sua causa. Cada um tem seu estilo de jogo e habilidades que podem ser usadas para completar os mais diversos objetivos.
TODOS POR UM
Na E3 2019, o que chamou bastante atenção foi a velhinha que conseguia atacar guardas com taser e entrar em alguns lugares sem causar suspeitas. No novo vídeo revelado durante o evento Ubisoft Forward e na demo que foi apresentada a alguns veículos, ficou claro que a variedade de cidadãos é bem distinta, mais do que algo apenas cosmético. Um homem que trabalha na construção civil pode usar sua arma de pregos para eliminar inimigos e um drone enorme que serve de escada para invadir bases protegidas. Há um irlandês que geralmente fica bebendo e só sai do bar para brigar com policiais, porém, embora ele seja bem forte, pode desmaiar de bêbado a qualquer momento. Dá até para controlar policiais! Não é fácil convertê-los para sua causa, mas obviamente eles são os únicos que conseguem entrar nos ambientes de alta segurança tranquilamente.
Existem também personagens do submundo, os especialistas. Um trailer mostra uma expert em drones com uma variedade deles à disposição. Os drones podem derrubar outros robôs a serviço dos inimigos, incapacitar guardas e espiar os cenários. Também é mostrado um assassino que se veste, se movimenta e mata de um jeito semelhante ao de John Wick.
O que ainda nos deixa em dúvida é se dá para contar uma história decente quando aparentemente não há verdadeiros protagonistas. Além dos policiais e da Albion, há também o mundo do crime, como o sindicato de uma mulher que faz desde tráfico de drogas até venda de seres humanos, e isso deve dar alguma chance de variar o conteúdo com diferentes tipos de missões e inimigos. Só esperamos que um mundo com um potencial tão grande para sua história não nos desaponte com cenas bobas e sem muito diálogo graças às possibilidades enormes de personagens controláveis.
Outro ponto curioso em relação à apresentação geral do jogo é que ele foi mostrado de forma bem mais leve do que da primeira vez. Não chega ao nível de Watch Dogs 2, mas é meio estranho: Londres está decadente, há uma clara divisão entre os que protestam e os que só seguem a vida, e uma das primeiras frases na E3 2019 era de que esse era um mundo pós-Brexit. Agora, o trailer tem um tom bem engraçadinho, cheio de situações mais surreais, e os bugs (normais nessa época de desenvolvimento) nos testes levaram a situações hilárias.
É um contraste esquisito. Provavelmente a Ubisoft vai se afastar de qualquer tipo de mensagem ou controvérsia, do mesmo jeito que se afastou em Far Cry 5, apesar de usar um cenário de entonações políticas.
Pelo menos na parte de gameplay já podemos elogiar Watch Dogs: Legion por ao menos tentar algo substancialmente diferente e com cara própria em relação aos outros jogos da Ubi. No fundo, sabemos que não é tão diferente assim – você vai aumentando sua influência em distritos diferentes da cidade por meio de atividades e quests paralelas, marcando objetivos como sempre –, mas a ideia geral pelo menos tem um ar fresco. Vejamos como esse mundo aberto se sairá em relação a Assassin’s Creed Valhalla e Cyberpunk 2077, já que os três serão lançados em um espaço de três semanas.