MORTAL SHELL
O importante é endurecer na hora certa
Já estamos até cansados de repetir que, quanto mais um jogo tenta se igualar aos da From no gênero que ela mesma inventou, mais provável é o fracasso.
Por isso gostamos tanto de Nioh, que segue um caminho diferente pegando alguns elementos apropriados de Dark Souls. E, à primeira vista, Mortal Shell parece outro que insiste na tentativa fútil de copiar Dark Souls de perto. Fantasia séria, cenários desolados, sistema de almas, algumas mecânicas obscuras etc.
Sob essa perspectiva, esse primeiro jogo do pequeno estúdio Cold Symmetry ficaria bem para trás, especialmente pelo mundo de Mortal Shell ser muito oco. Há uma tentativa de dar mais profundidade com personagens que até têm certo carisma e alguns elementos de arte que chamam a atenção, como as máscaras e inimigos com design criativo, porém os cenários são fracos.
Até são bonitos (embora as texturas sejam de qualidade muito inferior ao PC por algum motivo), porém criativamente são sem graça, não apenas na parte artística, mas também no design prático. A área principal tem vários caminhos parecidos que acabam ficando meio confusos e, pior, não o convidam a serem explorados. Sabe quando há um caminho que parece misterioso e faz você se perguntar o que tem ali?
Esse sentimento simplesmente não existe em Mortal Shell.
Acaba sendo uma aventura sem muito senso de descoberta ou surpresas. O jogo até tenta fazer o chefe final ser uma grande surpresa, mas isso fica óbvio já no começo do jogo. Quando você encontra uma área nova, a sensação é mais como "finalmente achei para onde ir" do que "que lugar interessante".
Além disso, o jogo é curto. São quatro áreas principais não muito grandes, que se apoiam mais na dificuldade para se manterem e não acabar tão rápido, e alguns outros chefes para encontrar. Pelo menos o jogo incentiva a jogar mais vezes, deixando as armas serem fortalecidas além do normal no New Game+. Porém, o fato de não haver muita variedade de armas ou distribuição de atributos também limita quantas vezes você vai querer jogar, a não ser que queira buscar a platina e encarar desafios maiores como terminar sem possuir um corpo, condição onde qualquer golpe o mata na hora.
VOLTA POR CIMA
Mas nem tudo é sem graça. Mortal Shell consegue se redimir com ótimas mecânicas que se diferenciam e sua fonte de inspiração e, apesar de não parecerem boas no começo, brilham quando você pega o jeito.
Uma das mecânicas centrais principais é a que dá nome ao jogo. Você é um ser esquelético que morre com apenas um golpe de qualquer inimigo, porém pode encarnar em corpos específicos de guerreiros caídos e assim avançar com mais segurança.
Há quatro deles espalhados pelo mundo, protegidos por chefes menores. O importante é que cada corpo tem atributos
diferentes, ou seja, os corpos são as builds de personagem. Um tem mais vida, outro tem muito mais vigor e consegue esquivar mais rápido, mas pode acumular menos determinação para aparar golpes inimigos ou usa ataques especiais etc. Encontrar todos eles e descobrir qual é o que mais combina com seu estilo de jogo dá a sensação boa de descoberta que os cenários não conseguem.
A outra mecânica criativa é a de endurecer. Você pode apertar L2 para que seu personagem basicamente vire uma estátua e não tome dano algum do primeiro ataque que o acertar. A graça de verdade é que você pode endurecer literalmente a qualquer momento: antes um ataque, ao aplicar qualquer golpe e até no ar, caso tenha um ataque que envolva pulo – o personagem congela no ar e fica lá. O melhor é que, ao amolecer, você cai com mais força, nesse caso, pois o personagem mantém o peso do endurecimento por um momento ao voltar ao normal.
Essa única mecânica dá um feeling ao combate de Mortal Shell é que é diferente dos outros jogos do gênero. Há uma cadência muito própria ao acertar os inimigos. Leva um tempo para aprender quando esquivar (algo que tira muito da barra de vigor) e quando endurecer – são necessários alguns segundos de recarga para poder fazer isso de novo. Demora um tempo não apenas para se acostumar com isso, mas também para enxergar as possibilidades de ataque que esse sistema proporciona.
Como o combate é pesado por padrão, você joga de forma mais defensiva naturalmente, especialmente se jogou bastante Souls, já que esquivar é algo que já está gravado na sua memória muscular. Quando você começa a experimentar mais (geralmente depois de morrer para caramba para o mesmo chefe e gastar todos os seus itens), percebe que é muito mais poderoso do que parecia inicialmente.
Logo você começa a tentar sequências de golpes fracos, fortes e endurecimento que destroem a vida dos inimigos muito mais rápido que antes.
CEREJA NO BOLO
O sistema de aparar também é engenhoso e resulta naqueles momentos em que você se acha o melhor jogador do mundo. O parry pode ser usado a qualquer hora, mas é difícil aparar qualquer golpe de inimigos mais fortes (e vários são imunes a isso). Geralmente, eles têm um golpe que é mais fácil de aparar e, quando você consegue, caso tenha um ponto no medidor de determinação, ganha a chance de dar um ataque bônus que tira muita vida do inimigo e recupera a sua. Como os itens de cura são escassos, essa se torna uma das melhores maneiras de recuperar vida, especialmente se for feita contra inimigos mais fracos e fáceis de aparar.
VEREDITO
Mortal Shell peca em um ponto importante do gênero, a excelência dos cenários, mas compensa com ótimas mecânicas de combate.