POR DENTRO DA MÁQUINA
Os esforços na criação de um console muito mais refrigerado e silencioso
Disposta a saciar um pouco mais a enorme curiosidade do público sobre o PlayStation 5, a Sony colocou uma das maiores autoridades do assunto para abrir o console e falar sobre suas características técnicas. Os mistérios e avanços tecnológicos foram apresentados por Yasuhiro Ootori, vice-presidente da divisão de design de hardware da SIE e um dos criadores do console mais avançado já feito pela Sony.
Antes de falar sobre o console em si, ele deu atenção especial para a base: ela é usada para deixar o console tanto na vertical quanto na horizontal, sem perder a elegância. O acessório já vem na caixa com o PS5, o que não costuma acontecer em lançamentos de consoles. Com o aparelho em pé, ela se prende ao videogame por um parafuso que liga a base a um buraco na parte inferior. Quem quiser deixar o PS5 na horizontal, pode encaixar o parafuso em um lugar específico da base para não perdê-lo e aplicar um pequeno botão no buraco do parafuso para deixar o visual do console intacto. A base se fixa na horizontal apenas com dois grampos que conectam na parte de trás e deixam o console firme mesmo com seu design cheio de curvas.
PODER DO RESFRIAMENTO
Olhando dentro da máquina, fica evidente por que o PlayStation 5 tem esse tamanho todo (em pé, ele tem 39cm de altura, 10cm de largura e 26 de profundidade) por um bom motivo: o ventilador. É um negócio parrudo de 12cm de diâmetro e 4,5cm de espessura. A parte mais interessante, porém, é que trata-se de é um ventilador centrífugo e de entrada dupla, em vez das ventoinhas axiais e de via única que o seu PC usa, por exemplo. Em outras palavras, ele puxa ar dos dois lados, em vez de puxar de um e soltar do outro, e o ar é espalhado em várias direções.
Essa solução diferente foi usada porque a placa-mãe do PS5 é usada dos dois lados. De um lado há o SoC (system on a Chip) com a CPU e GPU, além do SSD, enquanto do outro lado ficam os 16GB de memória GDDR6. Há mais coisa em cada lado, claro, mas só o lado das memórias já tem potencial de criar calor equivalente ao
SoC do PS4. Por isso, o grande ventilador precisa jogar ar nos dois lados do console. Segundo Ootori, foi experimentada outra solução com duas ventoinhas menores, uma de cada lado, o que diminuiria o tamanho do console. Porém, essa solução era mais barulhenta, mais cara e mais difícil de ajustar, porque é mais fácil controlar apenas um ventilador do que dois.
O ar entra pelas frestas na frente e por espaços na lateral e sai por toda a parte traseira, aberta de ponta a ponta para tirar o ar quente. Outro ponto que o PS4 não faz muito bem é impedir um sério acúmulo de poeira. As aberturas para ventilação acabavam entupidas de pó, dependendo de onde o seu console fica em casa, e a parte interna também empoeira bastante. Agora, por conta do tamanho maior do PS5, os engenheiros tiveram espaço para colocar
uma saída de poeira. São duas aberturas onde a poeira deve se acumular ao ser soprada pelo ventilador, e aí o usuário pode aspirar o excesso de resíduos pela abertura quando for conveniente. Obviamente isso não vai tornar o console à prova de entupimento, mas é uma solução que ajudará bastante.
O SIMPLES E O COMPLICADO
Temperatura e barulho andam lado a lado em um sistema desses, mas também há algumas partes que funcionam de forma independente. Uma delas é o leitor de Blu-ray
UHD, que não é um lugar que precisa de muita atenção do resfriamento, mas faz barulho por conta própria por girar o disco tempo todo e pelo trilho que se movimenta. No PS5, ele vem dentro de uma proteção de metal e soluções antivibração.
A parte que mais chamou atenção além do ventilador foram as soluções de condução térmica do SoC. O dissipador de calor é gigante e Ootori diz que ele alcança performance semelhante a uma solução de câmara de vapor, que é mais cara de produzir (vista antes em consoles só no Xbox One X). Já o componente térmico que une o chip ao heatsink não é uma pasta térmica comum, como sempre vimos até hoje. O PS5 usa metal líquido, uma solução bem mais poderosa para resfriamento.
A dificuldade disso é que o metal é líquido e, bem, líquidos vazam – ter metal escorrendo pelos caminhos da sua placa definitivamente não é legal. Até hoje, pouquíssimas empresas conseguiram bolar um jeito de colocar metal líquido em linha de produção de notebook, por exemplo, por isso atualmente essa solução é usada quase exclusivamente por entusiastas de PC que têm coragem de mexer nas CPUs de seus desktops. Yasuhiro diz que a Sony levou dois anos para conseguir achar um método eficiente, que parece envolver uma pequena represa de espuma que impõe limites caso o líquido vaze de seu lugar por algum motivo extremo, sem falar na aplicação exata do metal em cima do chip.
Então está claro: o PS5 é enorme, sim, mas por um bom motivo. Se todo esse tamanho avantajado é o preço a pagar para não termos um console que fará o barulho de uma turbina de avião ao rodar o próximo God of War, aceitamos de bom grado.
INTERFACE
Dias após a divulgação do vídeo de Yasuhiro Ootori e sua impressionante destreza em desmontar o PS5, foi a vez da Sony revelar a interface do console – o sistema que você vai ver na tela ao ligar o console. Tínhamos uma certeza sobre a interface do PS5: ela seria simples e elegante, como foi em todos os PlayStation até aqui. E é!
A experiência de usuário tem certa semelhança com a do PS4. Ao apertar o botão PS no DualSense, você aciona a nova "central de controle". Esse é o menu que aparece ao apertar o botão durante um jogo, e não é o menu principal do PS5 – é como segurar o botão PS no PS4, que abre aquele menu lateral. Nele, dá
para reconhecer ícones na parte de baixo, como perfil, notificações e parties. Mas o foco da demonstração foi o novo sistema de cartões.
Eles exibem informações sobre o que você fez e sugestões de atividades do console. As imagens que você capturou ao apertar o botão Create no jogo atual, por exemplo, ficam em um cartão para serem acessadas rapidamente. Já as sugestões variam bastante: o PS5 pode ver que outro amigo está online no mesmo jogo e deixar um cartão ali para sugerir que joguem juntos; ou mostra troféus que estão próximos de serem adquiridos e que você deveria investir. Ou os desenvolvedores podem fazer cartões personalizados para aquele jogo com sugestões de conteúdo baseadas no que você ainda não fez e dar um acesso direto àquele conteúdo.
É parecido com o Autolog de Need for Speed: Hot Pursuit, só que qualquer jogo pode usar. Imagine que alguém bateu seu melhor tempo em uma pista de Gran Turismo 7: ao abrir a central, vai ter um cartão informando que seu amigo fez essa ousadia e o cartão já vem com um "link", digamos, para um Time Trial naquela pista, para que você siga direto até lá e tente recuperar sua posição. Ou então, um aviso que quebrou sua pontuação em Tony Hawk.
Ou mesmo um aviso do início de uma sequência de quests que você deixou passar no novo Assassin’s Creed. Esses são apenas exemplos do que esses cartões podem fazer em uma nova forma do desenvolvedor poder ajudar você a curtir melhor o seu jogo.
E esse sistema pode ir bem mais longe. Os desenvolvedores podem fazer cartões com guias em vídeo para os desafios mais complicados de seus jogos. O exemplo dado na apresentação não é lá muito complicado, só um segredo não muito escondido em Sackboy: A Big Adventure, mas mostra que dá para colocar o vídeo como um pequena janela em modo picture-in-picture para que você possa assistir sem precisar parar de jogar. Esse recurso de guias aparentemente só estará disponível para quem assinar a PS Plus, além de não ser algo obrigatório para os criadores do jogo.
O também chat mudou. É bem mais rápido entrar em chat de voz com outras pessoas – a notificação aparece, você aceita sem precisar abrir outro menu e já pode conversar. E existem outras funcionalidades, como poder transmitir seu jogo para todo mundo que está no chat. A janela com seu jogo vai aparecer na tela dos amigos e eles podem até escolher em que parte da tela deixar essa janelinha sobreposta ao jogo deles.
Ainda há mais novidades dessas opções que não vimos, mas já é notável que a interface do PlayStation5 promete uma integração maior entre jogos e sistema, o que vai tornar o uso do console muito mais divertido e dinâmico. Veremos o que a versão final nos reserva na próxima edição, com o nosso teste completo do PS5.