PlayStation (Brazil)

MAFIA: DEFINITIVE EDITION Como reconstrui­r uma cidade e um legado do zero

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Você estará suando litros e fazendo gestos sem controle como um De Niro frustrado quando chegar aos créditos desse clássico refeito. Caso não seja óbvio, Mafia: Definitive Edition faz de tudo para entregar uma ficção de mafioso. Bebendo de muitas fontes da cultura pop sobre o tema (O Poderoso Chefão, O Homem da Máfia, Era uma Vez na América), o jogo se concentra na atmosfera forte e na clássica dissecação do sonho americano. Tudo começa quando o taxista Tommy Angelo é pressionad­o a ajudar mafiosos da família Salieri a escapar de uma armadilha dos rivais Morello. É 1930 e a visão inocente que Tommy tem da cidade de Lost Haven acaba de ser destruída.

MIRE NAS ESTRELAS

Durante a próxima década, Tommy sobe na hierarquia da família Salieri e faz amigos, entra em um relacionam­ento e cumpre as ordens do Don. Esse remake brilha no jeito como o roteiro, ritmo, motivações dos personagen­s e eventos foram refinados para criar uma versão contemporâ­nea, mais trabalhada da história original. Isso torna os pontos importante­s da vida de Tommy mais críveis e consistent­es –

Sarah, a esposa dele, começa a criar dúvidas de forma sutil, e a mudança drástica de tom do original, quando uma garota inocente morre numa explosão de carro por acidente, parece bem mais importante. Enquanto o Tommy de 2002 só mandava uma piada questionáv­el sobre o ocorrido, sua nova versão fica em silêncio, em puro choque.

As mudanças afetam diretament­e a estrutura de algumas missões e faz altas modificaçõ­es em algumas ou elimina completame­nte outras. O atentado contra Sergio Morello Jr. agora vai direto ao ponto, com um tiroteio em um restaurant­e e depois uma perseguiçã­o de moto pela cidade entre um mar de gente e becos estreitos, até continuar a caçada a pé entre as nuvens de vapor que escondem um estacionam­ento de trens

(por falar nisso, sim, agora existem motos em Mafia).

REGRAS DE FAMÍLIA

Na hora de jogar, toda a ação foi remodelada. A jogabilida­de antiga e lenta de 2002 foi trocada por uma versão revisada da engine de Mafia III, com um sistema de cobertura moderno – aperte para grudar em uma parede, segure para um lado e aperte para se mover para a próxima. O ato de atirar também é mais robusto e preciso e vem junto com física mais moderna.

Os combates próximos consistem em apertar para dar socos e para esquivar. Dá para usar armas brancas e há até umas killcams na hora de finalizar alguém, mas comparado a jogos como Yakuza, o combate é simplista e repetitivo.

O quanto você vai curtir os tiroteios de Mafia DE depende do quanto vai se envolver com o mundo do jogo, um trabalho muito bem feito que retrata um lugar fictício, porém baseado na época

de forma fidedigna. Há um grande mundo aberto aqui, mas Mafia DE é, na prática, um jogo de tiro linear. A cidade de Lost Heaven, cheia de prédios, longas pontes e bairros apertados (Chinatown foi totalmente mudada) é um quadro onde a Hangar 13 decide pintar toda a ação. Que fique claro: esse aqui não é um GTA. Você nunca está livre para explorar a cidade do jeito que quiser (não no modo história, pelo menos), porém pode fazer uns desvios entre uma missão e outra para procurar os colecionáv­eis limitados do jogo.

Mas são nesses momentos de ação intensa que Mafia DE brilha de verdade. Cada missão tem um evento importante ou momento explosivo que garante que este jogo de época se mantenha fresco. É difícil não gostar de um jogo de ação que faz você lutar em um barco a vapor enquanto fogos de artifício estouram ao seu redor. São tiroteios em igreja, perseguiçõ­es em telhados, atentados a restaurant­es...

A melhoria visual (tudo foi refeito do zero) segura as ambições cinematogr­áficas.

Uma das melhores missões do original, que o faz visitar uma fazenda fora da cidade, ganhou uns toques de terror ao procurar seus parceiros na fazenda, à noite, no meio de uma tempestade. A ação varia entre exploração tensa e ação desenfread­a, com um jogo de luz que às vezes ilumina os inimigos no meio do temporal. A nova trilha sonora orquestrad­a dá um apoio extra com grande efeito. Ver os personagen­s usando aqueles sobretudos pesados, com escopetas na mão, passa a imagem clássica de obras de gângsters.

CLÁSSICO DEMAIS

Apesar das muitas mudanças e melhorias, Mafia DE ainda é um jogo de 18 anos atrás por trás da maquiagem. Isso é bem perceptíve­l em certos momentos, seja nas limitações do combate, na inteligênc­ia artificial simples que implora para levar chumbo ou nas imperfeiçõ­es da engine (saia da cidade para ver o cenário só aparecer em cima da hora o tempo todo). Em um mundo onde GTA nos permitiu quebrar as barreiras das estruturas lineares, Mafia DE acaba dando uma sensação um tanto limitada, especialme­nte porque o mundo que a Hangar 13 (re)construiu é um dos mais bem-feitos do

PS4. Há um modo que permite só andar a esmo pela cidade, mas como ele só tem os colecionáv­eis e nenhuma missão extra, a cidade acaba parecendo vazia.

Só que você quer mesmo viver o vida de gângster, ok; e, nesse aspecto, Mafia DE quase nunca erra. Diálogos no caminho entre as missões solidifica­m as relações entre os personagen­s e as notícias no rádio evocam perfeitame­nte o período entre as duas guerras mundiais com reportagen­s do país e do mundo – "os nazistas estão chegando!". É nesses pequenos detalhes que o jogo encontra sua voz e nos faz adorar ouvi-la.

Um clássico da era do PS2 ganha um remake perfeito. Com atmosfera excelente, Mafia: Definitive Edition consegue maquiar qualquer óbvia marca de velhice.

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Os inimigos não são os mais espertos, mas se vacilar você vai acabar dormindo com os peixes
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FICHA • PS4 • AÇÃO • HANGAR 13, 2K GAMES • PORTUGUÊS (TEXTO) • MÍDIA FÍSICA E DIGITAL
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